Cultura

“A viola está muito difundida”

Marcus Vinícius Beck

Publicado em 5 de junho de 2022 às 16:35 | Atualizado há 3 anos

Almir
Pessoa ama suas raízes goianas. Na obra dele, a saudade é um elemento
importante. Nascido em Anápolis, cidade localizada a 60 quilômetros de Goiânia,
o instrumentista graduou-se em Música pela UFG. Ao longo da trajetória
acadêmica, pesquisou escalas. E dono de um estilo singular de tocar, com o qual
consagrou-se como uma das autoridades em matéria de viola, Almir afirma que o
instrumento é usado nos mais diferentes estilos e, para a nossa sorte, está
longe de seu potencial máximo. “A música é infinita, a viola, da mesma forma”,
atesta o músico.

Na próxima sexta-feira, 10, às 20h, Almir sobe ao palco do Centro Cultural da UFG (Av. Universitária, 1533, Setor Leste Universitário, entrada franca) para apresentar o show Rodas de Violeiro, que terá participação especial do grupo Dez Cordas. O Diário da Manhã antecipa, com exclusividade, que o público pode esperar um espetáculo de um show-man com pitadas de experimentalismo e mistura de música eletrônica. Tudo isso, como não poderia deixar de ser, ao som da boa, velha, charmosa e misteriosa viola, instrumento que tem até um dia para chamar de seu, 13 de julho.

Com
pelo menos 50 possibilidades de afinação, a viola abarca gêneros musicais que
vão do sertanejo à música popular brasileira. O dedilhado faz arrepiar a pele
de quem delicia-se ao ver as cordas delicadamente tocadas. E o instrumento
chora. O afago leva-lhe a sussurrar. No mês passado, em pleno horário nobre da
televisão, chorou num duelo entre os violeiros Almir Sater e Gabriel Sater,
este filho do autor de “Chalana”. Com toda a certeza, foi das cenas mais bonitas
da novela “Pantanal” e, entre uma nota e outra, houve quem se emocionou ao
ponto de aplaudir o espetáculo em frente à TV.

Afinal,
o instrumento é um universo misterioso, que ainda precisa ser desnudado e as
músicas entoadas em suas cordas sobrevivem por décadas. E estão presentes em
nossa cultura. Almir Pessoa, uma autoridade em Goiás quando o assunto é viola,
dedicou até a obra “A Viola Por Almir Pessoa”, na qual explica o método que
desenvolveu para tocar o instrumento e como ele está associado à música
caipira. Almir começou a carreira tocando em bandas e se apresenta Brasil afora
em espaços onde brilha o sertaneja em suas variadas vertentes, como nos
tradicionais rodeios, por exemplo.

Além
disso, é fundador do Instituto de Viola Almir Pessoa (Ivap), dá aulas e produz de
shows. Autor do disco “Um Coração Caipira”, lançou CDs, DVDs e seus trabalhos
estão disponíveis para o público nas plataformas de streaming. A seguir,
confira a íntegra da entrevista de Almir Pessoa ao DM em que ele fala sobre a diversidade da viola, os primeiros
passos no mundo da música, trajetória acadêmica e, claro, a expectativa para a
apresentação no festival A Moda é Viola, que começa na quinta-feira, 9:

Diário da Manhã – Quais são
suas referências musicais?

Almir Pessoa – Minhas referências musicais
são bem diversificadas. Basicamente gosto de ouvir e me espelhar em artistas
como Tião Carreiro, pela sua expressividade com a viola, Garth Brooks pela sua
performance e Alceu Valença por simplesmente ser o Rei dos Palcos!

DM – Em que momento da vida
você chegou à conclusão de que seria músico?

Almir – Em uma folia de Reis, vi um
cidadão tocando. Perguntei: “Amigo, que instrumento é esse?” Ele me respondeu: “Uma
viola”. Eu novamente: “E como se chama quem toca viola”. Ele: “Violeiro”. Eu: “Então
serei um violeiro!”

DM – Como foi esse processo de
viver tocando, compondo e expressando seus sentimentos por meio da linguagem
musical?

Almir – Foi construído. Sou o primeiro
artista da família. Meus pais são trabalhadores ferrenhos. Eu trouxe isso para
a música. Trabalho bastante, me dedico, empreendo e vou em busca dos meus
sonhos.

DM – Em suas músicas, você
mostra para o público um amor às suas raízes goianas e, no jeito que toca essas
músicas, a saudade se torna um elemento essencial. Qual é a memória mais
marcante que o cancioneiro caipira ocupa em sua vida?

Almir – A saudade do que na verdade não vivi. Saudade do carro de boi em sua plena atividade, do jeito verdadeiramente simples. A saudade de um sonho. Não sou ingênuo para crer que essa vida era fácil. Pelo contrário, acredito que era um rala muito grande, mas a parte romântica da vida caipira me atrai.



“A saudade do que na verdade não vivi. Saudade do carro de boi em sua plena atividade, do jeito verdadeiramente simples. A saudade de um sonho. Não sou ingênuo para crer que essa vida era fácil”

DM – Além de se
mostrar um instrumentista que carrega a goianidade no universo das notas e dos
acordes, você também construiu uma carreira acadêmica, formando-se em Música
pela UFG e aprofundando no mestrado estudos sobre a viola. O que ainda sabemos
e o que ainda não sabemos a respeito desse instrumento?

Almir – Hoje a viola está muito
difundida é utilizada em gêneros e estilos musicais os mais diversos. Para
nossa sorte, está longe do seu potencial máximo. A música é infinita, a viola,
da mesma forma.

DM – Paralelo à música, Almir,
você escreveu a obra ‘A Viola Por Almir Pessoa’, em que explica ao leitor como
desenvolveu seu método de tocar e como ele está associado à música caipira.
Como foi o embrião e também a gestação do seu estilo?

Almir – Sempre quis tocar livre, mesmo
sem saber que o nome disso é improvisação musical. Ao contrário do que muita
gente pensa, para improvisar você precisa conhecer o que está fazendo e ter
coragem. A estrada, desde as aberturas de rodeio até o teatro, passando pela
universidade, me ajudaram a eclodir o meu jeito de tocar, que considero “uma
estrutura básica definida com margem pra bastante inventividade”.

DM – Embora tenha conquistado
uma notável carreira no meio musical goiano, você fundou o Instituto de Viola
Almir Pessoa (Ivap), dá aulas e já gravou CDs e DVDs. Qual é o papel exercido
pela música na transformação da sociedade?

Almir – O papel da música é
fundamental. Com o Ivap, pude perceber isso com maior intensidade. Já tive
relatos de alunos da casa que simplesmente disseram que a viola lhes salvou a
sanidade. Outros que se esquivaram da depressão. Acredito que o maior poder da
música está na interação entre os humanos. Cada vez mais necessária.

DM – Por fim, qual é a
expectativa em se apresentar no festival ‘A Moda é Viola’ e o público pode
esperar o quê de sua apresentação no evento?

Almir – A moda é viola, iniciativa de
jovens, já começa bem por aí. Uma galera de mente aberta, que ajuda a expandir
a consciência do que é a viola. Eu, lisonjeado pelo convite, afirmo que o
público pode esperar um show-man com pitadas de experimentalismo e algumas
misturas de música eletrônica no som da viola.

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