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Adriana Bittar capta beleza do que se mantém preservado em biomas

Fotógrafa abre exposição no CCUFG, nesta quarta, 12, a partir das 19h, com imagens que testemunham o impacto da devastação ambiental gerada pela ação humana

Goiana registrou fauna, flora e habitantes do Cerrado, Pantanal e Amazônia - Foto: Adriana Bittar Goiana registrou fauna, flora e habitantes do Cerrado, Pantanal e Amazônia - Foto: Adriana Bittar

Há quase duas décadas, a fotógrafa anapolina Adriana Bittar, 45, percorre regiões do Cerrado, do Pantanal e da Amazônia. Ela registra a fauna, a flora e os habitantes desses biomas, testemunhando o impacto da devastação ambiental produzida pela ação humana.

Viu ecossistemas ameaçados, estupidamente destruídos, porém escolheu captar a beleza e a opulência daquilo que ainda se mantém preservado. A fotografia, afinal, se mostra fundamental em nosso tempo, conforme diz a artista em entrevista ao Diário da Manhã.

O raciocínio de Bittar é simples: “O suporte fotográfico é uma linguagem indispensável para a atualidade de nosso tempo.” Ou seja, na visão da artista goiana, todos os discursos passam primeiro pela imagem. Isso implica até mesmo a produção de uma consciência ambiental.

“A constituição de uma postura responsável pelo planeta passa, também, pela construção de novos olhares. Daí a importância da foto neste âmbito”, afirma a fotógrafa cerratense, que abre amanhã no Centro Cultural da UFG (CCUFG) a exposição “Dentro”, a partir das 19h.


		Adriana Bittar capta beleza do que se mantém preservado em biomas
Exposição apresenta ao público 21 fotos em preto e branco. Foto: Adriana Bittar


São 21 fotos em preto e branco. Nelas, convida-nos a imergir em uma jornada visual e poética construída pelas suas lentes de retratista nascida em Anápolis e radicada em Brasília há 15 anos. Bittar propõe reflexões sobre a relação que estabelecemos com a natureza.

Durante a abertura da mostra, a artista lançará o livro “Dentro”, no qual reúne 100 registros feitos em suas andanças pelos três territórios citados na abertura desta reportagem. Oferece um riquíssimo registro visual da biodiversidade brasileira. Quem assina tanto a curadoria quanto a apresentação da obra é Débora Duarte, pesquisadora de estética contemporânea.

Duarte explica que “Dentro” lhe parece um lugar que contempla o encontro dessas imagens e dessa inquietação inicial da artista. “Surgiu de uma frase da própria Adriana em alguma de nossas conversas, e me pareceu dar conta dessa trajetória que explicita uma busca interna por instaurar uma linguagem sobre essas experiências que ela tem com a natureza.”

Doutoranda em Teoria da Literatura Latino-Americana na Universidade Nacional de Brasília (UnB), a pesquisadora classifica a linguagem estética de Bittar como “inconteste”. Para Duarte, as imagens nos despertam e nos convocam a uma consciência ambiental coletiva, “porque nos aproxima de um cenário do qual estamos alijados, a natureza”.

Podemos adentrar um cenário que nos provoca e impele à urgência da destruição que estamos produzindo do mundo e à nossa pequenez e irrelevância diante de tamanha profusão de modos de organização de comunidades ‘mais-que-humanas’” Débora Duarte, pesquisadora

“A partir das imagens, da beleza, podemos adentrar um cenário que nos provoca e impele à urgência da destruição que estamos produzindo do mundo e à nossa pequenez e irrelevância diante de tamanha profusão de modos de organização de comunidades ‘mais-que-humanas’”, elucida a pesquisadora, cujo mestrado defendeu em 2020 na UnB.

Antes de chegar em Goiânia — onde estará até o dia 14 de março —, “Dentro” permaneceu em cartaz por um mês no Espaço Oscar Niemeyer, em Brasília, no fim de 2024. Depois da Capital goiana, a mostra deve seguir para Anápolis, em local e data a serem definidos. Ainda este ano, será levada para a Argentina, na Embaixada do Brasil, em Buenos Aires.

Paixão pela fotografia

Graduada em Publicidade pela Unaerp, de Ribeirão Preto (SP), Bittar se apaixonou por fotografia na adolescência. À época, ainda morando em Anápolis, costumava viajar para Cavalcante e Alto Paraíso, na Chapada dos Veadeiros, para fazer registros da região. Quando diplomada, trabalhou um período em São Paulo num estúdio fotográfico.

Em Brasília, a fotógrafa atuou na área de fine art (imagens decorativas). Mas nunca deixou de se encantar pelas paisagens naturais dos biomas. Nos últimos anos, sempre com a câmera nas mãos, fez em média quatro viagens anuais pelo Pantanal e pela Amazônia.

Com mais frequência, Bittar realizou ainda expedições pelo Cerrado. O resultado dessas aventuras é um arquivo robusto. Há dois anos, a artista começou a trabalhar no projeto da exposição e do livro, mas o resultado se concretizou quando Duarte se tornou a curadora.


		Adriana Bittar capta beleza do que se mantém preservado em biomas
Fotógrafa construiu ao longo dos anos vasto arquivo. Foto: Adriana Bittar


Sobre os fotógrafos que a inspiram, a retratista cita dois nomes: Pierre Verger e Walter Firmo. “Apesar de terem uma estética diferente entre si, todos impregnam algo muito singular na sua relação com o mundo que fotografam”, comenta, acrescentando que pelo fato de ser cerratense sua ideia de bioma está “intrinsecamente” ligada a Goiás.

Débora Duarte, a pesquisadora de estética contemporânea, relata que a escolha da palavra “Dentro” para nomear a exposição e o livro surgiu de uma afirmação proferida pela própria Bittar. A curadora acompanhava a fotógrafa em uma das excursões dela pelo Cerrado. “Eu fico brincando dentro da lente no meu olho”, disse-lhe a goiana na ocasião imersiva.

Segundo Duarte, em texto de divulgação da mostra, o nome lhe pareceu dar conta dessa trajetória que explicita uma busca interna por instaurar uma linguagem sobre essas experiências que Bittar tem com a natureza, principalmente com o Cerrado.

“Dentro” é patrocinado pela Lei Rouanet. Para 2025, Adriana Bittar anuncia que viajará pelo território goiano. Ela quer clicar manifestações populares do estado, como a Congada, as Cavalhadas, a Procissão do Fogaréu. Goiás se verá na fotografia.

DENTRO

Fotógrafa Adriana Bittar

Abertura: amanhã, às 19 horas

Centro Cultural UFG

Praça Universitária, Setor Universitário

Visitação: até 14 de março

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