Cultura

Angeli deixou personagens que marcaram quadrinhos brasileiros

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de abril de 2022 às 19:35 | Atualizado há 3 anos

Angeli, obrigado por Rê Barbosa, Walter Ego, Skrotinhos, Bob Cuspe, Mara Tara, Bibelô, Woody e Stock, Benevides Paixão. Você me deu muitos amigos. Garantiu ensinamentos que não estavam nas salas de aula. Contigo ri. Gargalhei. Foi foda sacar sua paixão pelos Rolling Stones, em especial o single “Satisfaction”, clássico supremo deles, que você contou numa série de quadrinhos publicados na revista Piauí – também sou fã dos caras.  

Um ícone
do cartum e dos quadrinhos no País, Angeli, com 65 anos de idade, está
encerrando sua carreira. O cartunista foi diagnosticado com afasia, doença
neurodegenerativa que com sua evolução impacta na comunicação, verbal e
escrita. A notícia foi publicada nesta quarta-feira, 20, pelo jornal Folha
de S Paulo
, do qual Angeli se aposenta, e confirmada pelo jornal O Estado
de S. Paulo.

O perfil
oficial de Angeli nas redes sociais, o Galeria Angeli, divulgou um comunicado
relatando motivos de saúde para divulgar sua aposentadoria. “Seguiremos
celebrando a obra de Angeli em novas publicações e exposições”, diz o
comunicado da Galeria Angeli.

Os 50
anos da obra de Angeli deverão ser celebrados em uma publicação da editora
Companhia das Letras, prevista ainda para este ano, comandada por sua mulher,
Carolina Guaycuru, e André Coti.

A ideia
é agregar cerca de mil trabalhos, com as tirinhas publicadas em jornais e
revistas, além das charges e ilustrações, em dois volumes.

O
cartunista marcou uma geração com a turma do Chiclete com Banana. O verde Bob
Cuspe era o verdadeiro anarquista, punk de periferia, que lascava uma boa
cuspida em quem o irritava. Era fã das bandas Ramones, The Clash e Sex Pistols
e virou animação em Bob Cuspe – Nós não gostamos de gente.

Os Skrotinhos eram os baixinhos mais sem trava na língua da turma e não perdoavam ninguém em suas piadas, fazendo parte do politicamente incorreto. E a dupla Wood & Stock não era menos divertida ao fazer alusão aos hippies dos anos 60, perdidos no tempo.

Ainda
tinha o machão Bibelô e a dupla política Meia Oito que tirava uma onda dos
esquerdistas dessa geração.

De todos
os personagens, ícone mesmo era a Rebordosa, com sua banheira memorável, copo
de bebida na mão e um cigarro na boca. A heroína de Angeli, sempre de ressaca e
envolvida em algum amor passageiro, foi criada em 1984 e se tornou uma das
personagens mais populares e queridas dos quadrinhos no País. Tanto é que
quando Angeli resolveu “matá-la” causou comoção entre os fãs.

“Angeli
é fundamental, um sujeito que fez uma caminhada e uma trajetória únicas. Ele
trouxe para a charge e para o cartum elementos dos quadrinhos, onde trabalhava
personagens e cenas da vida cotidiana – urbana, principalmente”, diz
Laerte. “Ele fundou uma linguagem pessoal”, completa.

Adolescente
prodígio, o cartunista publicou seu primeiro desenho aos 14 anos na extinta
revista Senhor. Em 1973, começaram as tirinhas da turma Chiclete
com Bananal na Folha de S Paulo.

Afasia

A doença
que acomete Angeli é a mesma do ator de Hollywood, Bruce Willis, 67, que em
março passado anunciou também pausa em seu trabalho por justamente a afasia
afetar as habilidades cognitivas.

No caso
de Angeli, ainda não se sabe o que desencadeou a doença, que pode ter como
causa mais frequente os AVCs, seja hemorrágico ou isquêmico.

De
acordo com a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, a afasia também pode
ocorrer depois de um traumatismo cranioencefálico (TCE), um tumor cerebral, um
aneurisma, infecções cerebrais ou alguns tipos de demência.

O
tratamento abre a possibilidade de diminuição dos sintomas.


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