Sem muito esforço, ao pensarmos em Jovem Guarda, nos vem à cabeça dois nomes: Erasmo e Roberto Carlos. Aí, lá pelas tantas, lembra-se também de Wanderléa. Ora, é difícil esquecê-la. Se até a diva está sujeita a passar despercebida, quem irá mencionar Golden Boys ou The Fevers? Pois a resposta é simples: os fãs que estão com ingresso comprado para assisti-los neste sábado, 15, a partir das 21h, no Centro de Convenções da PUC.
Os dois grupos foram nos anos 60 pioneiros do pop brasileiro. Formado em 58, o Golden Boys emplacou discos de sucesso nessa década, num tempo em que a indústria fonográfica procurava se consolidar por aqui. Dedicaram-se ao iê-iê-iê, com a faixa “Cabeção” (Roberto Corrêa/ Silvio Sion) e o vinil “Álbum na Multidão”, além de versões para hits que fizeram os Beatles levarem a Invasão Britânica aos Estados Unidos, como “Michelle” e “Yesterday” - esta vertida ao português sob o óbvio título “Ontem”.
Era tudo muito incipiente. Também, pudera: o Brasil se situava na periferia do capitalismo internacional. Se lá fora Little Richard, Chuck Berry e Jerry Lee Lewis hipnotizaram plateias ao som daquele rockão alucinado, as coisas se mostravam bem diferentes nas rádios daqui. Até pouco tempo antes de a Jovem Guarda despontar, nos anos 50, o bolero reinava na música nacional. Foi preciso João Gilberto e Tom Jobim modernizarem nosso cancioneiro.
O rock se tornava, no mundo anglófono, a expressão da juventude. Beatles, Rolling Stones e The Who cantavam sentimentos rebeldes em músicas que bebiam na fonte do blues de Mississipi (Robert Johnson, sobretudo) e Chicago (BB King, em primeiro lugar). Graças ao sucesso feito por esses três grupos ingleses, criou-se o termo yeah, yeah, yeah, expressão presente no single “She Loves You”, lançada por John, Paul, Ringo e George, em 63.
No caso dos Golden Boys e The Fevers, grupos importantes da época, os anos 70 surgiram com eles vivendo momentos distintos uns dos outros. Golden Boys, por exemplo, gravou discos cultuados da música popular brasileira, como “Carlos, Erasmo”, do Tremendão, considerado ainda hoje a obra-prima experimental ao ritmo de maconha criada pelo compositor de “É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo” e “Gente Aberta”. Ou seja, a banda formada pelos irmãos Corrêa se graduou como competentes músicos de estúdio.
Essa história teve início em 1958 nas festas que rolavam soltas na Escola Industrial Ferreira Viana, na qual estudavam Roberto, Renato e Ronaldo Corrêa, no Rio de Janeiro. O quarteto vocal permaneceu unido por quatro décadas, até que a morte de Valdir Anunciação os separou. Roberto Corrêa, que tocou junto de sua banda com artistas importantes dos anos 70, como o músico Marcos Valle e a banda progressiva Som Imaginário, morreu em 2016.
Já o grupo The Fevers, que havia surgido em 65 durante o reinado da Jovem Guarda, explodiu em 71 com o elepê “A Explosão Musical dos Fevers”. O septeto - formado por mir Bezerra (voz e guitarra), Cleudir Borges (teclados), Lécio do Nascimento (bateria), Liebert Ferreira (baixo), Luiz Claudio (voz), Miguel Plopschi (saxofone) e Pedro da Luz (guitarra) - galgou as listas que indicavam as músicas mais tocadas do período: “Mar de Rosas”, versão traduzida ao nosso idioma de “I (Never Promissed You a) Rose Garden”, foi uma delas.
Lançado em 71, o disco vendeu mais do que todos os oito feitos pelo grupo. E só confirmou a verdadeira vocação dos Fevers: animar bailes com repertório que, em estúdio, sempre se estruturou em baladinhas e releitura de rocks estrangeiros. Eram garotos que amavam mais os Beatles do que os Rolling Stones. Nota-se tal preferência, de fato, na simples “Ninguém me Olha Mais” ou na romântica “De que Vale Tanto o Amor?”. Sem dúvida, havia um inegável brilho pop nesse repertório, e em plena que o soul se engatinhava por aqui.
Quem se interessa pela história da cultura jovem brasileira deve ter em mente que o show no Centro de Convenções da PUC será uma boa chance de assistir aos clássicos Jovem Guarda tocados por aqueles que estiveram no olho do furacão, já que o Brasil se encontra, desde o ano passado, órfão de Erasmo Carlos. Esses jovens tardes precisam ser compreendidos como o que, na verdade, sempre foram: pioneiros daquilo que, anos mais tarde, viria a ser o BRock. Os ingressos são vendidos a partir de R$ 140 pelo balada app. Viva a música!