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Barão Vermelho chama fãs para cantarem hino do rock em projeto

Diário da Manhã reúne Guto Goffi e Rodrigo Suricato para falar sobre incursão da banda pelo mundo digital

Ação: campanha Barão e Você convida as pessoas a cantarem num ensaio virtual - Foto: Marcos Hermes/ Divulgação Ação: campanha Barão e Você convida as pessoas a cantarem num ensaio virtual - Foto: Marcos Hermes/ Divulgação

E lá vem o Barão Vermelho, rock’n geral é bem alto, pra se ouvir de qualquer nave. O Barão se mantém necessário nos últimos discos e se apresenta aos jovens com novas canções, novos sons e novas ideias. Já escutei “Viva” um montão de vezes, como se quisesse encontrar nesse entusiasmante disco um estado de espírito capaz de levar-me ao acorde que então me guiará à primeira frase, mas eu volto ao começo. Às vezes basta um livro! Ou ouvir mil discos!

No rock despirocado de 81, as letras lembram o poeta Chacal, artista que remou contra a maré das metáforas caducas, nos anos 70. Guto Goffi, Maurício Barros, Dé Palmeira e Roberto Frejat acompanham Cazuza uivando que o banheiro é a igreja de todos os bêbados. A partir de 85, já com Frejat à frente, o Barão passou a dizer que escuro só poderia ser mesmo o Brasil sorrindo com seus dentes cariados, de miséria e fome, as tais “Sombras no Escuro”. E agora, desde 2017, a voz de Rodrigo Suricato representa o futuro e o passado.

Com 40 anos de estrada, o Barão se tornou uma das poucas bandas que tem seu repertório na boca dos fãs. Foi o que se viu quando o grupo tocou na capital goiana, em julho, no Centro Cultural Oscar Niemeyer, e também no The Town, realizado em setembro, na cidade de São Paulo. Atento ao público e procurando alternativas para driblar barreiras físicas, o grupo lançou a campanha Barão e Você, na qual convida as pessoas a cantarem num ensaio virtual. A primeira canção escolhida foi “Por Você”, um dos maiores hits do grupo.


		Barão Vermelho chama fãs para cantarem hino do rock em projeto
Sete anos: Suricato está à frente do grupo há mais tempo que Cazuza. Foto: Camila Mendes/ Divulgação

Deu certo a investida pelo mundo digital: engajamento nas redes, interação com os fãs e grande quantidade de vídeos recebidos. Após a bem-sucedida campanha, os barões escolheram a música “Pro Dia Nascer Feliz” para levar a ideia adiante. Além de usar o gogó, o público agora conta com opção de se gravar tocando guitarra, bateria ou teclado junto com os integrantes do Barão Vermelho. Depois disso, basta postar a performance no Instagram com a hashtag #BaraoEVoce e marcar a página @baraovermelhooficial.

Guto diz ao DM que essa ação pode conectar o Barão a diferentes linguagens musicais. “De repente um batera lá do Nordeste fala ‘ah, vou botar um frevo aqui’. Pode ser interessante. Ou o batera de heavy metal vier com um bumbo triplo. É imprevisível. O bacana é ver essas diversas manifestações e conectar o Barão a um público novo. Acho uma ação muito positiva. Foi ideia do Suricato fazer esse game visual, que uma hora o baterista sai, na outra sai o tecladista e depois o guitarrista e o cantor pras pessoas poderam tocar”, explica.


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Guto Goffi, baterista: "acho uma ação muito positiva". Foto: Divulgação

“Ah, e pode também ganhar o baixista. Quem sabe? O legal é que seja uma pessoa que mereça. Pode ser um gaúcho, um cara de Manaus, de Pernambuco ou de Minas Gerais. A distância só vai fazer diferença pra gente que vai pagar a passagem”, emenda. Já Suricato quer ver o diferente. “Teve um cara que gravou sanfona em ‘Pro Dia Nascer Feliz’. Gosto de ver alguém descabelando o palhaço. A pessoa tem que ficar à vontade pra interpretar do jeito que ela quiser. Não me interessa alguém ‘todo dia insônia’ (voz grave)”, brinca.

Meteoro

Dá pra contar nos dedos da mão esquerda quantas bandas enfrentaram a tempestade de perder seus cantores. Pior ainda, sobreviver à saída de dois. Me arrisco a palpitar: é preciso renunciar à covardia. O 18° disco, “Viva”, lançado em 2019, fez a banda se provar unida em tempos de opressão. Se antes tinham vociferado declare guerra, no primeiro elepê após a saída de Cazuza, já não precisam mais disso. Para o lugar ocupado por Frejat, membro da primeira formação, o escolhido foi Suricato - cantor que consegue nos alucinar com sua presença de palco e seus solos mirabolantes na guitarra, cuja expressividade nos comove.


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Rodrigo Suricato, guitarrista e vocalista, no The Town: "minha expressão artística nasceu de uma costela do Barão". Foto: The Town

Suricato é conciso: “minha expressão artística nasceu de uma costela do Barão.” “Eu acho que tem um charme muito interessante de uma banda que já passou por tanta coisa, e não tô falando só de 40 anos, porque coisas acontecem nesse tempo, mas meteoros caíram no Barão. Tô há sete anos, mais tempo que o Cazuza, por incrível que pareça. E tem gente que nem sabe que entrei na banda: o Brasil é muito grande. As informações demoram pra chegar às pessoas, e a banda se mostra relevante na prática, não só no nome”, diz o músico ao DM.

Nos shows, “Down em Mim” se revela matadora, com inconfundível piano de Maurício tocado na introdução e arrepiante solo, agora executado pelos dedos sentimentais de Suricato. Já “Ponto Fraco”, rock de pegada chuckberryana, costuma abrir as apresentações e, ao primeiro acorde, põe a energia lá nas alturas. Quando começa o riff de “Bete Balanço”, o público vai à loucura, cantando verso a verso, até que “Por Que a Gente é Assim” revela a relação de cumplicidade que o Barão tem junto a seu público. Já “Meus Bons Amigos” faz a galera delirar no instante em que o ritmo suingado de Guto Goffi entra em nossos ouvidos.

O Barão se destaca das outras bandas por duas coisas: texto e percussão. Na música “Maioridade”, do disco “Declare Guerra” (1986), Guto e Peninha proporcionam um regozijo rítmico. “Espetacular, né? Peninha é colaborador do Barão desde o segundo disco, que foi a primeira vez na qual ele gravou com a banda. Depois, no ‘Maior Abandonado’, também tocou. Mas foi efetivado como músico no ‘Declare Guerra’. Peninha me fez entender que a bateria é a percussão, uma síntese da percussão dentro da bateria”, conta Guto.


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Peninha à esquerda ao lado de Rodrigo Santos, Guto Goffi, Roberto Frejat e Fernando Magalhães. Foto: Gabriel Wickbold/Divulgação

Falecido em 2016, aos 66 anos, Paulo Humberto Pizziali, o Peninha, tocou com Hermeto Pascoal, Gal Costa, Altemar Dutra e Sarah Vaughan. “A percussão usa notas onde o roqueiro geralmente não gosta muito de mexer. Então, isso também desequilibrou aquela rigidez que eu tinha. Pra mim, foi legal tocar com Peninha, porque entrei na música brasileira, nos ritmos populares, e hoje me sinto misturado realmente pra tocar o meu rock sem copiar o baterista do Oasis ou o batera americano, que eu adoro, também de rock’n roll.”

Após a saída de Frejat, em 2017, o Barão lançou cinco discos. Um deles, “Barão 40”, gravado no Teatro Claro Rio em 2022, teve participação do compositor, cantor e guitarrista na música “Pro Dia Nascer Feliz”. “Foi o primeiro nome que nos veio à cabeça”, lembra Guto, citando Samuel Rosa, que tocou numa versão desplugada de “Maior Abandonado”, e “Por Você”, cujo arranjo ganhou a adição de sanfona para receber Chico César. Esse álbum possui ainda impactante regravação do blues “Não Amo Ninguém”, do “Maior Abandonado” (1984).

Quem a interpreta é Maurício Barros, tecladista brilhante (ouça o belo órgão Hammond tocado por ele na faixa “Quem Me Olha Só”, em “Rock’n Geral”, de 87). Ao estilo Joe Cocker, ele parece arrancar lá do fundo uma emoção capaz de nos paralisar. Sim, o Barão leva música e texto muito a sério. E nunca está só. Sorte a nossa.

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