O jornalista Batista Custódio recebe nesta quinta-feira, 2, a partir das 9h, homenagem durante lançamento do livro “Goiânia 90 Anos”. A solenidade ocorre no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG), Setor Sul. Batista e o filho Júlio Nasser, presidente do DM, serão diplomados como reconhecimento pela parceria que têm com a entidade.
É na hemeroteca do IHGG que se encontra o acervo do Diário da Manhã. Lá, pode-se ler as crônicas de Bernardo Élis, que saiam aos sábados. Ou os textos publicados no jornal pelos escritores Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino e até Millôr Fernandes.
“Goiânia 90 Anos”, organizado por Eliézer Cardoso de Oliveira, Jales Guedes Coelho Mendonça, Nasr Fayad Chaul e Nilson Jaime, apresenta reflexões sobre a história da Capital, que possui 90 anos. Os autores dos textos se dividiram em dois grupos: aqueles que atuaram e aqueles que levantaram os dados – e tudo se originou num simpósio no IHGG.
Fundador dos jornais “Cinco de Março” e Diário da Manhã, Batista escreveu uma das mais importantes histórias do jornalismo brasileiro. É reconhecido como um dos maiores descobridores de talentos. Não por acaso, o DM, informalmente, virou a maior escola para se formar profissionais de bom texto, senso humanitário apurado e capacidade de questionar qualquer tipo de arbitrariedade. Designers inventivos também começaram aqui.
Batista escolhia a dedo os soldados que lhe acompanhariam nas trincheiras da lauda jornalística. Washington Novaes, editor-geral, foi um deles. Sob o comando do jornalista, escritor e ambientalista, o jornal acabou sendo eleito pela Academia Brasileira de Letras (ABL) o terceiro melhor veículo de comunicação do país, em 1984. Desde o princípio, nos anos 1980, havia uma regra inegociável na publicação: defender a democracia.
Para o jornalista, a liberdade era um princípio pelo qual valia a pena dedicar a vida. Costumava ensinar que uma reportagem deveria prender a atenção do leitor, fazendo-o rir ou chorar – como numa narrativa literária. Batista compreendia que o jornalismo opinativo tinha importante papel no exercício da cidadania. Daí ele ter aberto as páginas de seu impresso para que diferentes espectros ideológicos ali se manifestassem.
Trata-se do jornal criado após forte repressão da polícia a uma manifestação de estudantes secundaristas – que protestavam contra o aumento das passagens no transporte coletivo e das mensalidades escolares Angelita Lima e Rosana Borges, pesquisadoras
Contestador, libertário e irreverente, três escolas lhe foram essenciais à formação: literatura clássica (gostava de William Shakespeare e Castro Alves), educação formal (desvendava textos em latim) e leituras da grande imprensa (jornais e revistas ficavam espalhados pela Redação). Aos 23 anos, em 1959, fundou o semanário “Cinco de Março”, obra dele, Telmo de Faria e intelectuais como Consuelo Nasser, Javier Godinho e Valterli Guedes.
Um estudo da UFG desenvolvido pelas pesquisadoras Angelita Lima e Rosana Borges contextualiza o nascimento do “Cinco de Março”. “Trata-se do jornal criado após forte repressão da polícia a uma manifestação de estudantes secundaristas – que protestavam contra o aumento das passagens no transporte coletivo e das mensalidades escolares – ocorrida no dia em que se batizou o jornal”, dizem as professoras, na reflexão.
Do início do século 20, a tipografia doada por Alfredo Nasser imprimia apenas duas páginas por vez. Jávier Godinho, que fez história também no programa “A Hora do Angelus”, da TV Anhanguera, definiu o espaço como “pequenininho”. “Era muito barato e ele vendia muito. Só a tiragem dele dava para pagar as coisas. Todo mundo ganhava muito pouco, todo mundo trabalhava lá porque gostava”, afirmou, na pesquisa de Angelita e Rosana.
O jornal saía às segundas. Conforme o professor Joãomar Carvalho, “tinha grande crítica na parte política, incomodava a Deus e todo mundo, o que gerava medo nos políticos”. Batista capitaneou esse movimento até 1980, quando criou o Diário da Manhã. O presidente do DM, Júlio Nasser, percorreu o Brasil em busca de máquinas que sustentassem a empreitada.
Batista sonhou o DM durante meses
Entre novembro de 1979 e março de 1980, Batista sonhou o DM. Ou seja, precisou de poucos meses para colocá-lo nas bancas. Se nos tempos de “Cinco de Março” conviveu com as melhores cabeças e profissionais gabaritados, caso do ator Stepan Nercessian ou do jurista e ex-ministro do STJ Castro Filho, a nova publicação levou para o front os melhores jornalistas do Brasil – como Washington Novaes, Aloysio Biondi e Reynaldo Jardim.
Foi um dos capítulos mais importantes da imprensa brasileira. Jornalistas tarimbados compuseram a Redação do DM desde seus primeiros anos, caso de Carlos Alberto Sáfadi (primeiro editor-geral), Isanulfo Cordeiro, Jayro Rodrigues, Fleurymar de Souza, Carlos Alberto Santa Cruz, Marco Antônio da Silva Lemos, Lorimá Dionísio, Sônia Penteado, Hélio Rocha, Jávier Godinho, Luiz Carlos Bordoni, dentre outros profissionais destacados.
Criativo e combativo, Batista se dizia “um viciado em liberdade”. Quando perguntado sobre esquerda ou direita e seus maniqueísmos, afirmava categoricamente ser “contra ditadura de esquerda ou direita”. “Rotulo o o esquerdismo e direitismo como os dois lados da mesma bosta ideológica dos regimes políticos. Cultuo a República como mãe da democracia, filha do povo e alma da liberdade. Nasci assim e vou morrer assim”, explanava o jornalista.
Batista Custódio passou definitivamente à história em novembro do ano passado. Ele estava com 88 anos. Como tantas vezes na vida fizera contra a tirania e os tiranos, travou por dias uma batalha contra um câncer e uma pneumonia. Tornou-se um farol da liberdade e, tempos depois, com a disseminação das fake news, um baluarte na luta para freá-las.
Goiânia 90 Anos
Quinta-feira, 2, a partir das 9h
Instituto Histórico e Geográfico de Goiás
R. 82, 455 - St. Sul, Goiânia