
Light pra dedéu para os padrões zeppelianos, o documentário “Becoming Led Zeppelin” tem lá sua importância roqueiro-pedagógica: atualizar o público da banda inglesa. Parece comportadinho demais, limpinho demais, chatinho demais. Muito bonzinho, sabe?
Vejamos por outra perspectiva: “Becoming Led Zeppelin”, sob a direção do cineasta Bernard MacMahon, escava as origens do grupo. Ao retratar seu auge meteórico, tão veloz quanto a guitarra bluesy de Jimmy Page, exibe imagens raras, raras e fascinantes, e isso vale a sessão.
O filme traz entrevista inédita com o baterista John Bonham, morto em setembro de 1980, aos 32 anos. Um dos momentos mais emocionantes do documentário ocorre quando Page, Robert Plant e John Paul Jones ouvem as declarações do músico. Difícil não se emocionar.
Com duração de 2h17m, “Becoming Led Zeppelin” é uma forma educativa de apresentar Page, Plant, Paul Jones e Bonham para as novas gerações. Olhá-los em cima de um palco segue insólito e catártico, catártico e insólito, e o doc inclui concertos poucas vezes vistos.
Zeppelin se formou em 1968, o ano que não terminou, ensina o jornalista Zuenir Ventura. Queixavam-se os Stones à época: “O que um pobre rapaz pode fazer a não ser cantar numa banda de rock? Porque na sonolenta Londres não há lugar para um lutador nas ruas.”
São versos “Street Fighting Man”, a trilha ouvida naquele Maio de 68 na ocupada Sorbonne. Estudantes inspirados pelo filósofo neomarxista Herbert Marcuse se insurgiram contra a “estrutura antiquada e totalmente medieval” da universidade. A polícia então apareceu e, pela primeira vez na história, invadiu a quase milenar instituição de ensino francesa.
Sessenta e oito ainda entraria para a história pelos assassinatos de Martin Luther King e de Robert Kennedy, pela eleição do republicano Richard Nixon e pela Primavera de Praga, pelo fiasco norte-americano nos fronts vietnamitas e pelos protestos contra o conflito bélico.
Ou seja, quando o Zeppelin nasceu, o mundo entrava em ebulição. As imagens dos conflitos sociopolíticos se misturam, em “Becoming Led Zeppelin”, com trechos nos quais o grupo performa sua música eletrificada. Mas tudo, ali, dura segundos. Quando muito, fala-se que a banda ganhou o primeiro disco de ouro um dia após a missão espacial Apollo 11, em 1969.
Se “Becoming Led Zeppelin” falha em termos de contexto histórico, o filme acerta ao revelar fotografias dos músicos em suas vidas pré-Zeppelin. Page trabalhava em gravações no Olympic Studios, onde esteve com Stones, Van Morrison, Marianne Faithfull, Dave Berry, The Who e The Kinks. “Só não trabalhei com os Beatles”, lamenta o músico no doc.
Formação
Nascido em janeiro de 1944, Page amava blues. Tocou num dos grupos mais emblemáticos de que se tem notícia, The Yardbirds, no qual também estiveram Eric Clapton e Jeff Beck. Quando a música do Yardbirds se silenciara, em 1968, sacou que o jeito era apostar num som novo, mais acelerado, guitarras distorcidas, pesadas e, ao mesmo tempo, complexas.
O guitarrista ficou sabendo de Robert Plant. No entanto, o jovem cantor se apresentava em Birmingham. Sem problemas. Page foi até lá. Plant, como se sabe, aceitou o convite para formar uma banda e ainda indicou um baterista que era seu amigo de infância, John Bonham, enlouquecido na ocasião pela revolução musical de Little Richard e James Brown.
Faltava, todavia, o baixista. Page se lembrou do instrumentista John Paul Jones, que também era músico de estúdio e com quem o guitarrista tocara algumas vezes. Uma linda canção dos Stones, “She´s a Rainbow”, de 1967, teve os arranjos de cordas assinados por Paul Jones.
Com essa formação — Jimmy Page (guitarra), Robert Plant (vocal), John Bonham (bateria) e John Paul Jones (baixo) —, o Led Zeppelin entrou em estúdio para gravar o primeiro disco, publicado em 1969. A banda, bons tempos, tempos ruins, precisou de quatro segundos.
Trafegando pelo circuito bateria-baixo, o riff de “Good Times Bad Times” abre o elepê debutante. A guitarra de Page, soberba, costura ainda os blues “You Shook Me” e “I Can´t Quit You Baby”, ambas de Willie Dixon. “Dazed And Confused”, com baixo descendente, e “Communication Breakdown”, à moda Pete Townshend, anteciparam a música dos anos 70.
Meses depois, a banda publicou “Led Zeppelin II”. O blues se mantém fibrilante na arrogante “Whole Lotta Love”. Desaforado, Plant teve a pachorra de usar trechos da letra escrita por Dixon sem creditá-lo, episódio que levou o grupo aos tribunais. Page, por sua vez, diz que se “inspirou” no compositor Jake Holmes para criar “Dazed And Confused”.
Aqui, realmente, o diretor Bernard MacMahon tropeça feio: ninguém menciona os plágios no doc “Becoming Led Zeppelin”. Pudera: o filme é autorizado. Mesmo assim, a banda aumentou sua lenda até se dissolver, em 1980, com a morte de Bonham em razão de intoxicação etílica. Agora, em boa hora, essa história que durou 12 anos chega à telona.
BECOMING LED ZEPPELIN
Diretor: MacMahon
Duração: 2h17m
Sessão no Flamboyant
Em IMAX