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Beto Guedes revisita anos 70 em apresentação no Teatro Goiânia

Identificado com o Clube da Esquina, músico emociona nosso País desde anos 70

Músico e luthier: artista repassa carreira em show focado nos anos 70 - Foto: Cristiano Quintino/Divulgação Músico e luthier: artista repassa carreira em show focado nos anos 70 - Foto: Cristiano Quintino/Divulgação

É necessário curtir, simplesmente curtir. Prepare-se para o show a ser dado pelo cantor e compositor Beto Guedes, nesta quinta-feira, 15, a partir das 20h30, no Teatro Goiânia. Vá aonde a grande música possa te levar. Aniquile a sede — de arte, de virtude, de amor.

Entre os acordes tocados no piano por Lô Borges e o tempo marcado pela bateria de Robertinho Silva, Frederiko dedilha notas roqueiras. Dedilhar é um verbo criteriosamente escolhido. Guitarra sapateando no baixo de Beto. E essa melodia? Nossa! Persegue a palavra, a hora certa pra te entortar. Lô — que músico! — abrilhanta tudo nas teclas brancas e pretas.

Rola no último volume “Belo Horror”, a quarta faixa do disco-relíquia de 1973. Obra-prima assinada por Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli e Toninho Horta. Só essa música, essa música arrebatadora, já dá dimensão do apreço que os mineiros (eu sei, Danilo é carioca; Novelli origina-se na cena recifense) têm por destreza técnica, riqueza harmônica e Beatles.

Da parte de Beto, então, nem se fala: beatlemaníaco total. Já se declarou fissurado nesse desvario tantas vezes. O cara pirou quando ouviu a banda inglesa pela primeira vez. Ali, conforme fala em entrevistas, percebeu o novo: sentiu-se deslumbrado por esse som delicioso e orgânico, refinado e poético, jovem e moderno. “I want you”, psicodelizou-se.

“Eu lembro que o Lô trouxe um compacto e me deu. Eu lembro de ‘I Should Have Known Better’. Eu escutei aquilo uma vez e não entendi nada do que estava acontecendo. Botei mais uma vez”, revela o músico, em depoimento a Márcio Borges. “Falei: ‘nossa, que trem esquisito’. Botei pela terceira vez. E aí sim, abriu minha cabeça. Eu fiquei mais fascinado.”

Eu escutei aquilo uma vez e não entendi nada do que estava acontecendo. Botei mais uma vez” Beto Guedes, músico

Tão fascinado que, em 1964, com os amigos Lô, Yé Borges eMárcio Aquino, tomou uma atitude necessária: montou o grupo The Beavers. O repertório consistia em recriar clássicos de Lennon e McCartney, referenciados no rock “Para Lennon e McCartney”, de Fernando Brant, Márcio e Lô Borges. A música popularizou-se na voz cristalina de Milton Nascimento.

Instrumentista multifacetado, Alberto de Castro Guedes demonstra habilidade no baixo, na guitarra, no violão e — pasmem! — na percussão. Esteve naquele tal elepê “Clube da Esquina”, lançado em 1972, bem como se fez ouvir, criança, num grupo de choro formado pelo pai, Godofredo Guedes. Num primeiro momento, foi pandeirista. Quis o violão, porém.

Esse último instrumento, aliás, tornou-se depósito das nossas emoções. Paixões se embalam ao som rítmico dos acordes. É educação sentimental. Melodias estimulam sensações. Causa frio na espinha. A musicalidade de Beto nos eleva. Talvez nos rapina. É tão boa quanto aquele beijo molhado. Ou aquela viagem lisérgica que embarcamos na psicodelia.

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De forma mineira, o virtuosismo estético-musical de Beto Guedes se revela no choro “Belo Horizonte”, de “A Página do Relâmpago Elétrico”, que encerra esse álbum lançado em 1977 pela EMI-Odeon. Contudo, o músico despontou como compositor no fim dos anos 1960 com “Equatorial”, parceria dele, Lô e Márcio. Trata-se de um bonito rock’n’roll ao estilo Beatles

Em 1972, Beto fez as malas. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde tocou baixo, guitarra e percussão no lendário elepê “Clube da Esquina”. Também cantou, é verdade. Fosse o disco uma mera resposta a “Sgt Peppers”, já teria assegurado grande contribuição ao pop internacional. Só que ali há o falsete espiritual de Milton vocalizando letras surrealistas.


		Beto Guedes revisita anos 70 em apresentação no Teatro Goiânia
Beto Guedes despontou na música entre anos 60 e 70. Marcus Vinícius Beck

Beto Guedes pensou molduras a essa obra de arte, isto é, criou linhas de baixo, rabiscos de guitarra e batuques percussivos. No depoimento a Márcio Borges, o músico lembra que não compôs nada para o “Clube da Esquina”, como se o fato de não ter contribuído dessa forma lhe tirasse a importância no trabalho. E, cá pra nós, era realmente necessário compor?

Não, não era. Beto ajudou — e muito — de outra maneira. “Eu ficava lá curtindo o mar azul, a praia, aquelas manhãs maravilhosas de sol. Cada manhã bonita de sol naquele lugar! E fiquei acompanhando o trabalho deles”, diz o artista, que irá repassar carreira em Goiânia.

Beleza mineira

Esse coletivo de poetas, instrumentistas, arranjadores e amigos gostava ainda de François Truffaut e Miles Davis. Tais requintes artísticos ofereceram algo diferente do que tinha sido feito por bossa novistas e tropicalistas. Daí Ronaldo Bastos, compositor e produtor, ter dito que sua turma havia descortinado uma “terceira via” para a música popular brasileira.

Depois do Clube da Esquina, Beto Guedes se dedicou à carreira solo. Lançou na segunda metade dos anos 1970 três discos importantes: “A Página do Relâmpago Elétrico”, de 1977, “Amor de Índio”, 1978, e “Sol de Primavera”, 1979. Será em cima dessas obras que se estruturará o show no Teatro Goiânia, em que o artista comemora 50 anos de carreira.

Deve-se esperar repertório com músicas como “Sol de Primavera”, “Amor de Índio”, “O Sal da Terra”, “Feira Moderna”, “Vevecos, Panelas e Canelas” e “Maria Solidária”. Beto não lança disco de inéditas desde 2004. Nos últimos anos, manifesta-se contra o mercado fonográfico. Acha que, hoje em dia, não é interessante aglutinar faixas num produto sonoro. Tem lá suas razões. Goiânia verá concerto inesquecível. Afinal, tudo que move é sagrado.

BETO GUEDES SHOW 50 ANOS

Quinta, 15, às 20h30

Teatro Goiânia

R. 23, 252, Centro

A partir de R$ 60

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