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Blueseiros se reúnem em bares de Goiânia para reviver projetos

Capital tem neste fim de semana o Encontro de Gaitistas e Sunday Blues Sessions, eventos conhecidos na cena local por celebrar nomes relevantes desse gênero

Foto: Divulgação Foto: Divulgação

O blues dói. Para BB King, trata-se de som tocado por gente simples. Não é ciência, não pode ser desmembrado. “O blues é um mistério e mistérios nunca são tão simples como parecem”, ensina o guitarrista, rei máximo do estilo ancestral, em sua autobiografia.

Goiânia revive neste fim de semana o Encontro de Gaitistas, evento conhecido na cena cultural da metrópole cerratense por celebrar nomes relevantes desse gênero primitivo. O revival ocorre amanhã no Mandala Cervejaria, Vila Itatiaia, a partir das 18h — hora em que a casa abre para o público. O espaço, point do blues local, comemora dez anos de existência.

Notório gaitista, Uirá Cabral soprará seu instrumento no Mandala. Ele é a estrela da noite. O cara tem estrada. Interessou-se pela gaita ainda jovem, aos 17 anos, e desde então integrou bandas fodásticas estado afora. Uma delas é The Not Yet Famous Blues Band, todavia esteve na Stuff Blues, Bluesmerangue e Blues For All. Tá vindo de São Paulo.

No domingo, o blues migrará de lugar. O Canevas Pub, no Setor Marista, o receberá, às 19h30, no retorno do Sunday Blues Sessions. Criado em 2014, com o Abluseados organizando encontros dominicais no Dark Side, o rolê reunia músicos e aficionados pela música ancestral. Dessa vez, Dom Barão Rock Trio abrirá para Uirá Cabral e Abluseados.


		Blueseiros se reúnem em bares de Goiânia para reviver projetos
Uirá Cabral: gaitista. Foto: Divulgação

Cabral promete shows fiéis aos mestres. Botemos fé nele, então. Quem o acompanhará nos palcos é a banda Abluesados, peso pesado no circuito goiano. Melhor, peso pesadíssimo, respeitadíssimo. Seu reconhecimento musical extrapolou há muito os limites estaduais.

Ouço-os agora: melodias sutis, encantadoras, com parede de acordes sensual. Blues Etílicos os elogiaram. Não bastasse o maior expoente do blues nacional lhes tecer loas, o bluesman Flávio Guimarães jogou a bola deles lá pra cima. Idem Prado Blues Band. E Helton Ribeiro, Tiffany Harp. David Tanganeli e Márcio Abdo, claro, os exaltaram, os enalteceram.

São tantos os admiradores. “Seus sentimentos em harmonias fatais/ manipulam desejos, despertam sonhos de querer mais”, canta o vocalista, prenunciando um solo sussurrante na guitarra. Daí, amigo, fiquei de joelhos, olhos fechados, cabeça balançando, com ideias fixas em Buddy Guy, nos blues do Barão Vermelho, em Celso Blues Boy. Só malucos.

Eis que volto à razão. Na estrada desde 1997, Cabral integrava os Abluesados quando a banda lançou o primeiro disco, em 2006. O álbum homônimo era autoral, todo em bom português. Nos anos 2010, já queridinha dos críticos, a banda regravou Muddy Waters e Little Walter. Essa obra foi captada em show dado no Teatro Goiânia, em junho de 2013.


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Encontro de gaitistas movimenta cebluesy de Goiânia. Foto: Divulgação

O músico publicou ainda um trabalho solo, “Second Hand Gear”. Lançado em outubro de 2015, o álbum remete à sonoridade de Waters, cuja carreira deu seus primeiros passos em bares lamacentos localizados ao sul de Mississippi. Tentou novos voos em Chicago: difícil. O bluesman tocava até em troca de uísques, dirigia caminhões, e estraçalhava sua guitarra.

Pela Chess Records, Waters fez discos. Bons discos, ressalte-se. Duas músicas o libertaram de seu antigo trampo. Assim, como que num improviso bluesy, o artista produziu a lendária “Rollin´Stone”, faixa de 1950, e a célebre “Still a Fool”, esta publicada no ano seguinte. Ambas tiveram influência fundamental sobre o que viria a se chamar “blues de Chicago”.

Açoitado pela segregação racial, Waters foi um dos primeiros a se apresentar na Inglaterra. Lá, meio que surpreso, viu a guitarra ligar-se bem ao universo bluesy. Casaria-se, pois, em união estável. Veja “Mannish Boy” e seu canto-resposta: sexualizante. Isso mexeu com os jovens Brian Jones, Keith Richards e Mick Jagger. Juntos, eles formaram os Rolling Stones.

História

Mississippi — sobretudo a pacata cidade Clarksdale — tem grande importância para a música. Diva ancestral do blues, Bessie Smith morreu no hospital GT Thomes após agonizar à espera de um médico. Ela sofrera um acidente automobilístico. Sam Cooke veio ao mundo no estado norte-americano. Ike e Tina Turner também. O jovem Christone Kingfish idem.

Mas, além de Waters, o mais famoso de seus cidadãos talvez seja um certo Robert Johnson. Dizem que vendeu a alma para o diabo. Entre 1932 e 1938, o músico ganhava a vida fazendo som em todo inferninho que se dispusesse a abrigá-lo. Não deu outra: envenenaram-no. Morreu em agosto de 1938, certamente por causa de um marido traído. Idade? 27 anos.

Em termos guitarrísticos, Johnson fazia uso engenhoso do slide. O slide, como se sabe, é aquele metal ou vidro colocado no meio dos dedos. A guitarra vibra, ulula. Johnson já foi objeto do documentário produzido pela Netflix, “O Diabo da Encruzilhada”, entretanto ninguém historiografou a vida desse artista como o quadrinista Robert Crumb em “Blues”.

Inventado em 2005, o Encontro de Gaitistas e o Sunday Blues Sessions nos oferecem isto no marasmo de Goiânia: boa música, música ancestral. Hoje, o grupo Abluseados é formado por Paulinho Zambianchi (guitarra), Alexandre Rodarte (baixo) e Duda Lazarini (bateria).

Cabral, por sua vez, diz que mostrará um repertório que vai dos clássicos do blues de Chicago até misturas com jazz, funk e ritmos latinos. Seu trabalho solo, disponível nas plataformas digitais, traz artistas renomados do blues mundial. Ou seja, a atmosfera melancólica das noites goianienses, totalmente bluesy, serão reafirmadas. Merecemos.

BLUES NO FIM DE SEMANA

Mandala, sábado, às 18h

Canevas, domingo, às 19h30

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