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Samba no pé: público deixa cadeiras para arriscar passos de dança - Foto: Breguella´s/ Instagram
Samba-raiz, samba-jazz, samba-rock, sambalanço. Esses são os ritmos que costumam dar a tônica do acorde tocado pelos músicos que fazem público dançar no Breguella´s, point que se torna cada vez mais queridinho dos boêmios goianienses. O espaço funciona em dois endereços: Setor Leste Universitário, na Rua 225, e na Rua 134, onde está desde 1978, no Setor Oeste. Este último, aliás, virou há tempos um clássico da noite na cidade.
Por clássico, por favor, entenda bar de respeito. Um copo-sujo, com toda estima que tal expressão carrega consigo. Aqui disco de carne e cerveja são quase como Aldir Blanc e João Bosco - inseparáveis. São cinco itens que servem de parâmetro para avaliar se um boteco é bom ou não é: boa circulação de ar, bom proprietário, bons garçons, bons fregueses e, mais importante, boa bebida. Paulo Mendes Campos, bebum profissa, sabia bem o que dizia.
As mesas formam uma sinfonia de duas notas. São divididas entre amarelas (Skol) e vermelhas (Brahma). Há uma ou outra de madeira no ambiente. A poucos passos de qualquer ângulo em que estiver sentado, o balcão fica perto. A dica é sempre ficar bem colocado, pois nunca se sabe o real estado depois de uma, digamos assim, incursão pelo universo etílico. Já saí - do Breguella´s mesmo, você veja - pra lá de Marrakesh, como diz Caetano Veloso em “Qualquer Coisa”, gravada no disco de mesmo nome, de 1975.
Já passaram pelo Breguella´s o que de melhor se encontra em matéria de samba: Sotaque Brasileiro, Heróis de Botequim e Samba das Mulheres. A casa quebra o clichê de que Goiânia é só a capital do sertanejo, como se não houvesse na cidade nenhuma outra expressão musical. E faz o primordial: gastronomia de bar e música de primeira. O resultado coloca a casa como parada obrigatória a quem deseja cair na noite ao som do batuque.
Até essa altura da crônica, desbragada em barril de carvalho, me refiro ao Breguella´s do Setor Oeste. Um grande bar, se servir cerveja a preço justo numa temperatura ideal, haverá de exibir à freguesia destilados. Não pode faltar, sob pena de falatório desvairado dentre bêbados, três biritas: Johnnie Walker Red Label (dose, em média, a R$ 25), Campari (até R$ 15) e 51 (menos de R$ 10). O uiscão serve pra dar maior combustão alcoólica à noite, o birinaite vermelho adocica o gelo e, por fim, a cachaça constrói a velha caipirinha.
Sendo a caipirinha drinque brasileiro por excelência, nem é necessário perguntar se a casa o prepara, convenhamos. Agora, papo reto: a mesa de bar, em grande medida, se assemelha a um altar - espaço em que os bebuns contam lorotas uns aos outros. Nelas se comunica o humano, demasiado humano, e o divino, divino maravilhoso: fala-se da condição do homem na sociedade contemporânea, se o Vila sobe ou se o Atlético joga água no chope deles. Boas mesas discutem também Caetano e Chico. Ou Machadão de Assis e Fernando Pessoa.
Mais uma, por favor!
Garçom, desce mais uma, por obséquio. Bom, palavra molhada, vamos lá: o Breguella´s do Universitário, cada vez mais, se consolida como point de boa música. Costuma haver rodas de samba, discotecagem com sons brasileiríssimos, pessoas pra lá e pra cá, seja ao ritmo do batuque ou do forró. A casa se coloca como espaço para músicos apresentarem seu som ao público, como é o caso de Pedro Constantino, nome que toca no estabelecimento com certa frequência: o cara faz o violão ‘falar’, numa musicalidade de alma brasileira.
Nas paredes do Breguella´s, o público observa ícones do samba. O carioca Noel Rosa, por exemplo, é um deles. Mas também se nota Elza Soares, a rainha suprema do sambalanço. Esses artistas, de certa forma, aparecem no repertório executado pelos músicos ou nas trilhas selecionadas por DJs (Alexandre Perini é um nome presente). Um dos projetos mais legais que já passou pela casa é Samba das Pretas, que conta com participação da cantora Nina Soldera, da banda Mundhumano, uma das mais interessantes no cenário musical goiano.
Na dúvida, recorramos aos universitários: o sociólogo carioca Eduardo Freitas oferece consultoria sobre o que chama de “butiquim”. Para ele, letrado em matéria de botecagem, o sabor do petisco ou a temperatura do sagrado líquido amarelo são fatores secundários na hora de determinar se tal estabelecimento presta ou não. “O que faz o butiquim é sua gente”, ensina o pesquisador, em post publicado no Instagram - tem mais de 10 mil seguidores.
Em Goiânia, cujos termômetros não andam dando brecha para nós, a turma dos botecos sabe que o Breguella´s resgata um tipo de boêmia em baixa, mas e aquela pessoa que está indecisa sobre o que fazer para sextar com categoria? Bom, antes de tudo, tenha preferência por lugares que ofertem mesas dispostas na calçada. É nelas que se senta ao chegar, se aclimata ao ambiente e, se for o caso, se migra para outro ou fica. Mas isso, em via de regra, só acontece em caso de o bar em questão ser um fiasco no atendimento.
É no bar que a vida miúda se mistura às grandes questões existenciais. Estão distante dos holofotes da Assembleia Legislativa ou Câmara de Vereadores, mas próximo dos personagens que transitam pela cidade, que a fazem, que a tornam possível, que a emolduram numa paisagem democrática: mães, pais, travestis, gays, amantes, cornos, trabalhadores, poetas, músicos, jornalistas, donos de padarias, proprietários de farmácia, de restaurantes a quilo. Anote aí: o Breguella´s pode ser seu gol de placa. Que tal um samba?
Breguella´s
Rua 134, n°155 OesteRua 225 n°3177 Setor Leste Universitário
Funciona de segunda a sábado
Fecha à 01h30
