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Cine Cultura é entregue repaginado em solenidade com exibição de filme

Dentre as melhorias, Secult lista novos acentos, sistema de iluminação, ar-condicionado, sonorização, tela e projetor

Secult informa que investimento custou R$ 2,1 milhões captados pela Lei Federal Paulo Gustavo - Fotos: Kamilla Brandão/ Secult Goiás Secult informa que investimento custou R$ 2,1 milhões captados pela Lei Federal Paulo Gustavo - Fotos: Kamilla Brandão/ Secult Goiás

Após seis meses de obras, o Cine Cultura foi entregue nesta segunda, 27, pela Secult em solenidade que contou com a presença de jornalistas, autoridades e convidados. O espaço recebeu novos acentos, sistema de iluminação, ar-condicionado, sonorização, tela e projetor.

“Com essa renovação, reafirmamos nosso compromisso com a democratização da arte, oferecendo um espaço para formação e reflexão. O Cine Cultura se consolida como um dos principais centros culturais da Capital, valorizando o cinema como ferramenta de educação e lazer”, afirma a secretária de Estado da Cultura, Yara Nunes, sobre a reforma do espaço.

Além das modernizações, o cinema tem agora um palco para a realização de seminários. Os banheiros também passaram por reforma, a recepção foi reconstruída e está apta para receber um café, que a Secult garante que será instalado após chamamento público.


		Cine Cultura é entregue repaginado em solenidade com exibição de filme
Melhoria tecnológica: local se transformou em referência para cinefilia. Fotos: Kamilla Brandão/ Secult Goiás

Houve cuidado em priorizar o estilo arquitetônico original do prédio, com suas curvas que integram o patrimônio art déco da Capital. Os cinéfilos, a partir de agora, terão uma comodidade: pagamento do ingresso por meio de Pix. Inclusive, o sistema entra em vigor na reabertura da sala, sábado, 1°, com exibição do filme-concerto “Stop Making Sense”.

Segundo a Secult, o investimento custou R$ 2,1 milhões captados pela Lei Federal Paulo Gustavo, instrumento operacionalizado em Goiás pela Secult. A pasta destaca que o valor do ingresso precisou ser reajustado. Agora, a inteira custa R$ 20, enquanto a meia, R$ 10.

Nos últimos 35 anos, o Cine Cultura se transformou em ponto de referência para a cinefilia goianiense. A curadoria tem se pautado, ao longo desse tempo, por uma premissa simples mas incomum em nosso contexto urbano: cinema além dos ditames hollywoodianos.

Até aqui, tem dado certo. Difunde-se o cinema cabeça, artístico, ao mesmo tempo em que o democratiza. Os ingressos, afinal, são acessíveis à classe trabalhadora e aos estudantes. Ou seja, é um espaço no qual a mera exibição de filmes descamba para reflexões sociais.

Com isso, forma-se um público. E educa-o, em termos estéticos-narrativo. E induz-o a pensar, em termos emancipatórios. É fácil: não se prioriza a chatice do cinema comercial. A programação ali é alternativa, diversa, e nela se privilegia sobretudo produções que tenham qualidade, sejam nacionais ou internacionais — e isso, de fato, se vê no filme exibido ontem.

Quem esteve no evento inaugural assistiu a “Oeste Outra Vez”. Dirigida pelo cineasta goiano Erico Rassi, a produção ganhou no último Festival de Cinema de Gramado o Kikito na categoria melhor longa-metragem. O filme se passa na Chapada dos Veadeiros.

“Oeste Outra Vez” traz o ator Angelo Antônio como protagonista. O compositor Rodger Rogério, por sua vez, é coadjuvante na película. Pela sua elogiada atuação, Rogério foi premiado. Era esperado. O longa obteve ainda outro Kikito: melhor fotografia. Nada mal.

Só que há apenas uma aparição feminina na trama: Luiza. Ela é vivida por Tuanny Araújo. Acha uma idiotice total a briga pueril entre dois machões que tentam disputá-la. Machismo sertanejo. Ou sertanejo machismo. Ela abandona-os. Eles engalfinham-se. Um fiasco.

São amargurados, esses infelizes. Homens brutos. Não conseguem lidar com as próprias fragilidades masculinas. Não dão conta de controlar o ciúme. Quem ama precisa controlar o ciúme. Tê-lo dentro de si, com certeza, mas domá-lo ao menor sinal de possessividade.

Estamos no interior goiano. Toto levou um pé na bunda. Foge, então, para a Chapada acompanhado por Jerominho, mais velho, senhor, que vira seu companheiro de diálogo. É um filme de poucas palavras. Daí, as conversas serem tão importantes quando aparecem.


		Cine Cultura é entregue repaginado em solenidade com exibição de filme
Espaço recebeu melhorias estruturais. Fotos: Kamilla Brandão/ Secult Goiás

Os machões descortinam um certo tipo de empatia entre eles — uma empatia sobretudo masculina —, mas não conseguem ir muito longe disto: “Parece que tá melhorando (a perna baleada do amigo)”. “Pode ser que tá.” “O senhor acha que não?” “Parece que muito, não.”

A ausência feminina nesse ambiente significa rigidez, insensibilidade, como que estupidez galopante. Incomoda, essa ausência. Como escreveu a jornalista Paula Soprana na “Folha de S. Paulo” em texto republicado neste jornal: “Seria feminista um filme que tira mulheres da cena para escancarar a fraqueza masculina e a inaptidão para lidar com emoções básicas?”

Circuito nacional

Na próxima sexta-feira, 31, às 19h, o Cine Cultura exibe o longa-metragem “O Dia Que Te Conheci”, dirigido por André Novais de Oliveira. É uma obra aclamadíssima no circuito nacional de festivais. O filme narra a história de Zeca, papel de Renato Novais, bibliotecário que enfrenta desafios para chegar ao trabalho numa escola pública em uma cidade vizinha.

Terceiro longa de Oliveira — os outros são “Temporada”, de 2018, e “Ela Volta ao Normal”, lançado em 2014 —, “O Dia Que Te Conheci” retrata a rotina laboral de Zeca. Levantar cedo se tornou cada vez mais difícil para ele. Alguma coisa o impede de preservar esse cotidiano.

O diretor fala ao site do Instituto Moreira Salles desse filme: “Sempre tive muita vontade de tentar o humor nos filmes, e tanto a Grace [Passô] quando o Renato [Novaes] são bons de comédia também. Eles têm um timing de humor, e equilibrar com o drama foi intuitivo. É muito gostoso ver piadas, ou coisas que nem eram para serem engraçadas, mas acabam com o público.” E no sábado, 1°, tem “Stop Making Sense”. Talking Heads é ótimo.

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