Clássicos da música colombiana
Diário da Manhã
Publicado em 20 de julho de 2016 às 03:32 | Atualizado há 4 mesesO dia 20 de julho marca a conquista da independência da Colômbia, país do norte da América do Sul que abriga cerca de 50 milhões de pessoas, sendo o terceiro mais populoso da América Latina. O DMRevista aproveita esta data para promover um intercâmbio musical com o país, apresentando ao leitor oito obras musicais consideradas essenciais para o desenvolvimento da música do país, e que hoje alcançam o público de diversos países devido à facilidade de compartilhamento de arquivos na internet. Apesar da proximidade geográfica com o Brasil, é pouco comum que os brasileiros tenham acesso a esses discos, que trazem um conteúdo estético e cultural de grande importância para todo o continente. Confira:
Ana y Jaime
Dire a mi gente (1969)
Uma das principais forças musicais colombianas do movimento nueva canción latino-americana, que trazia canções críticas aos regimes totalitários que dominaram o continente entre os anos 1960 e 1980. Ana y Jaime é uma dupla de irmãos que adicionou um toque de rock psicodélico ao estilo, predominantemente acústico. Café y Petóleo, uma das canções mais conhecidas da dupla, traz uma crítica ao imperialismo estadunidense e à forma como as empresas multinacionais têm facilidade de se apropriar das riquezas produzidas na Colômbia. “Café e petróleo: cinco o saco, oito o barril. Vendo! Vendo! Vendo! Quem dá mais? Ninguém? Então está vendido para o Cofee Petroleum Company”, diz trecho da letra.
Elya e Elizabeth (1971)
Esteticamente, as irmãs colombianas Elia y Elizabeth organizavam uma mistura natural de estilos que percorrem o pop e a música negra norte-americana, conduzindo uma espécie de funk andino psicodélico, repleto de frescor. Em seu primeiro disco, lançado em 1971, também trazem a força da guitarra espanhola, cultura que herdaram dos pais, nascidos do outro lado do continente. As letras são inspiradas por uma genuína curiosidade juvenil em torno dos mistérios da vida, passando pelo amor e pela natureza em suas formas mais simples. As composições ficam a cargo de Elia. Entre as canções de destaque no disco estão a faixa de abertura, Hay que vivir la vida e a soturna Pesadilla. As irmãs estão vivas, e Elia deixou um “saludo” os fãs no Youtube em 2015.
Reencarnación (1988)
Uma das primeiras produções do metal extremo colombiano a ganhar visibilidade fora do país. Hoje, o LP Reencarnación, lançado em 1988, é uma verdadeira obra-prima da obscuridade executada por garimpadores de discos de todo o mundo. Foi lançado num período de muita instabilidade, numa Colômbia que ostentava o rótulo de nação mais violenta do mundo. Sob esse clima de terror, o país produziu uma cena de black metal vívida e cheia de ódio contra o chamado “primeiro mundo”, muitíssimo bem representada pelo álbum em questão. Em suas oito canções, que somam cerca de 40 minutos, a banda apresenta um ardor repleto de ideias marxistas e apocalípticas. O resultado é satisfatoriamente perturbador. As letras (quase indecifráveis) são todas em espanhol.
Estados Alterados (1991)
O pós-punk sintético e dançante influenciado por bandas como New Order também chegou à colômbia através do disco de estréia do grupo Estados Alterados, lançado em 1991. O disco, composto por 14 músicas com uma pegada sombria e frenética, é considerado um dos pontapés iniciais da música eletrônica na América Latina. A diversidade musical presente nesta obra, cantada toda em espanhol, fez dela uma verdadeira surpresa no momento em que foi lançado. Boa parte das letras fala de um vazio existencial a ser preenchido. Em 2007, o álbum foi incluído na lista de 25 discos mais importantes do país, publicada na revista Semana. A banda segue ativa desde 1987, passando por um hiato de 2000 até 2005.
Totó la Momposina
La candela viva (1993)
Um dos álbuns de maior alcance internacional lançado por artistas colombianos. La candela viva, lançado em 1993, é um exemplo máximo do estilo musical bullerengue, gênero dançante que se originou tanto na Colômbia quanto nas ilhas da América Central, que expressa a força dos elementos culturais em choque durante o período de colonial. O bullerengue traz em suas origens a cultura africana dos negros escravizados pelos espanhóis, com acréscimo dos ritmos popularmente entoados pelos índios sulamericanos. Totó la Momposina é o nome artístico de Sônia Bazanta Vides, uma das mais importantes cantoras do país, hoje com 75 anos. Ao longo de sua carreira, ela já lançou sete discos, sendo o último El assunto, de 2014.
Carlos Vives
La tierra del olvido (1995)
O cantor Carlos Vives é conhecido por mesclar música tradicional colombiana (estilos como vallenato e cúmbia) com elementos do pop e do rock. Seu disco mais conhecido, La tierra del olvido, foi lançado em 1995 e é considerado um dos maiores clássicos da música de seu país. Foi o primeiro álbum do artista a ser lançado por seu próprio selo (Gaira Música local), o que permitiu a ele uma maior liberdade na hora de compor. O estilo vallenato surgiu na Colômbia no início do século XX, derivado da mistura de outros quatro ritmos: son, posea, puya e merengue. La tierra del olvido traz ainda contribuições de importantes compositores do país, como Alejandro Durán, Leandro Días e Egidio Cuadrado.
Shakira – Donde están los ladrones (1998)
Shakira é conhecida pelos brasileiros principalmente pela fase de sua carreira em que gravou hits mundiais em inglês, acompanhada por produtores do momento nos Estados Unidos durante a década de 2000. Donde están los ladrones, seu segundo álbum de estúdio, teve um custo de produção de 3 milhões de dólares, e hoje já vendeu mais de dez milhões de cópias. É um divisor de águas na carreira da cantora, além de ser o disco latino mais vendido dos Estados Unidos, o que levou-a a uma carreira ainda mais globalizada anos depois. Mostra sua capacidade como compositora (Shakira assina todas as 11 canções) e traz uma sonoridade limpa, pop e permeada de elementos latinos.
Meridian Brothers
Desesperanza (2012)
Um dos discos colombianos mais contemplados da era digital. Faz parte da onda do gênero digital cumbia, que mescla música eletrônica com a tradicional cúmbia através de estilos como house e dancehall. O disco é visto no exterior como uma loucura tropical. O estilo teve início no final da década de 1990, e vem ganhando cada vez mais adesão ao longo dos anos. Em Desesperanza, instrumentos tradicionais, eletrônicos e vocais distorcidos se empenham em criar um universo musical completamente novo. Meridian Brothers é um quinteto formado em Bogotá em 1997 e desde então já lançou sete álbuns de estúdio. Outros grupos especializados em digital cumbia: Bomba Estéreo, Chancha Vía Circuito e La Yegros.