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Companhia de Dança Deborah Colker celebra 30 anos com "Sagração", em Goiânia

A coreógrafa Deborah Colker adapta "A Sagração da Primavera" de Stravinsky, incorporando cosmogonias dos povos originários do Brasil

Companhia de Dança Deborah Colker - Sagração Companhia de Dança Deborah Colker - Sagração

A Companhia de Dança Deborah Colker, em celebração aos seus 30 anos de história, apresenta o espetáculo "Sagração" no Teatro Goiânia, neste fim de semana. Inspirado na obra clássica "A Sagração da Primavera", de Igor Stravinsky, a peça não apenas presta homenagem ao balé original, mas o reinventa, criando um diálogo profundo entre o erudito e o ancestral, ao incorporar cosmogonias dos povos originários do Brasil.

Deborah Colker, diretora e coreógrafa da companhia, diz que a escolha de adaptar a obra de Stravinsky surgiu de um desejo antigo. "’A Sagração da Primavera de Stravinsky’ é uma obra que rompeu com a estética musical da época e foi criada para ser dançada, por isso, eu tinha em mim que em algum momento precisaria realizá-la”, conta à reportagem do DM.

Essa vontade, afirma a artista, foi se fortalecendo ao longo dos anos, até que a ideia de trazer "Sagração" para o Brasil, incorporando elementos da floresta, das sonoridades e tradições indígenas, tornou-se um desafio criativo inevitável.

Companhia de Dança Deborah Colker - Sagração

Companhia de Dança Deborah Colker - Sagração

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O espetáculo, por meio de sua coreografia inovadora e narrativa rica, explora a crise climática e a conexão íntima entre a humanidade e a natureza. Ao contrário do balé original, que seguia uma narrativa linear de sacrifício, "Sagração" enfatiza a evolução humana e sua relação simbiótica com a natureza, influenciada pelos povos originários brasileiros.

"Nossa visita ao Xingu foi fundamental para essa construção", revela Colker, destacando o impacto do contato com as culturas Kalapalo e Kuikuro, especialmente a experiência com o cineasta indígena Takumã Kuikuro. Essas interações não apenas enriqueceram a narrativa, mas também trouxeram autenticidade à representação das tradições indígenas no palco.

Musicalmente, "Sagração" é uma obra que mistura a composição original de Stravinsky com sons da floresta e instrumentos indígenas, criando uma música híbrida que reflete a identidade nacional. Colker explica que, ao iniciar o processo criativo, se perguntou como poderia adaptar a obra para o contexto brasileiro.

Companhia de Dança Deborah Colker - Sagração

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"A música de ‘Sagração’ é uma costura entre a música da ‘Sagração da Primavera’ do Stravinsky e a música dos povos originários brasileiros", reflete Colker. Esse processo de experimentação, segundo ela, foi essencial para criar algo novo e autêntico, incorporando ritmos como boi bumbá e samba à estrutura original do espetáculo.

A coreografia, por sua vez, é marcada pela exploração da força da gravidade e pela representação da animalização humana, temas que Colker já havia abordado em trabalhos anteriores. Os bailarinos, que inicialmente rastejam e gradualmente se tornam bípedes, simbolizam a evolução humana. As varas de bambu, usadas pelos dançarinos, não são meros adereços, mas elementos narrativos que reforçam a conexão com a terra e a natureza.

"Sagração" também dialoga com a teoria do perspectivismo ameríndio, oferecendo uma reflexão crítica sobre o primitivismo e a destruição da natureza pela humanidade. Ao questionar o progresso capitalista e a desconexão com a natureza, Colker propõe uma visão crítica da realidade contemporânea. "Minha ideia nessa obra, apesar de também desenvolver um tema importante e urgente, foi sagrar, celebrar e principalmente festejar esse presente tão lindo que nos foi dado, que é a vida", afirma a artista carioca de 63 anos.


		Companhia de Dança Deborah Colker celebra 30 anos com "Sagração", em Goiânia
Companhia de Dança Deborah Colker - Sagração. — Foto Flávio Colker


Ao refletir sobre os 30 anos de história da Companhia de Dança Deborah Colker, a coreógrafa ressalta a importância da experimentação na evolução da dança no Brasil. "A gente sempre foi buscar novas ideias para repensar a dança, e acho que essa evolução parte muito desse lugar de experimentação." A criação dos Centros de Movimento, por exemplo, foi uma forma de investir na dança como ferramenta de educação e formação do indivíduo, sempre com o objetivo de contribuir para um mundo mais inclusivo e melhor.

Além das influências indígenas e dos ritmos brasileiros, "Sagração" também se apoia em referências à mitologia judaico-cristã e à ciência, combinando mitos e teorias científicas na construção da dramaturgia. O processo criativo envolveu uma série de estudos e discussões com diversos pensadores, que ajudaram a moldar os caminhos evolutivos retratados no espetáculo. "A partir desses estudos, pensadores evolucionistas e mitos de criação de várias cosmovisões foram habitando minha mente nessa busca."

Além de uma reinterpretação de uma obra clássica, "Sagrado" celebra a vida e a evolução da humanidade, conectando tradições ancestrais e científicas em uma performance desafiadora.

Os ingressos podem ser adquiridos no site Sympla, na Komiketo Sanduicheria da Avenida T-4, e na bilheteria do teatro nos dias das apresentações. Os valores dos ingressos variam de R$ 19,80 a R$ 170, com a opção de entrada solidária mediante doação de 1 kg de alimento não perecível.

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