Cultura

Conto raro de Toni Morrison será publicado

Estadão Conteúdo

Publicado em 10 de janeiro de 2022 às 23:09 | Atualizado há 3 anos

Hillel Italie, AP*

Para grande parte do mundo, Toni Morrison (1931-2019) foi uma romancista famosa por clássicos como “Amada”, “Voltar Para Casa” e “O Olho Mais Azul”, todos publicados no Brasil pela Companhia das Letras. Mas a laureada com o Nobel de literatura (1993) não se limitou a um tipo de escrita.

Morrison
também escreveu peças, poemas, ensaios e contos, um dos quais será lançado como
livro em 1º de fevereiro. Recitatif, escrito por Morrison no início dos anos
1980 e raramente visto nas décadas seguintes, acompanha a vida de duas mulheres
desde a infância até suas fortunas contrastantes quando adultas. Zadie Smith contribui
com uma introdução e a edição em áudio da história é lida pelo ator Bahni
Turpin.

Segundo
Autumn M. Womack, professora de Estudos Ingleses e Afro-Americanos da Princeton
University (onde Morrison lecionou por anos), a autora escreveu contos de ficção
pelo menos desde seus anos de faculdade na Howard University e na Cornell
University, embora nunca tenha publicado uma coleção de histórias. Recitatif
foi incluído no lançamento de 1983, “Confirmação: Uma Antologia de Mulheres
Afro-Americanas”, coeditado pelo poeta e dramaturgo Amiri Baraka e agora
esgotado.

Recitatif
refere-se a uma expressão musical definida por dicionário Merriam-Webster como
“um estilo vocal ritmicamente livre que imita as inflexões naturais da
fala”, um estilo que Morrison frequentemente sugeriu. A história fala de
uma série de encontros entre Roberta e Twyla, uma das quais é negra, a outra é
branca, embora nos resta adivinhar qual é qual.

Jimi
Hendrix

Elas se
conheceram ainda meninas no abrigo infantil São Boaventura (“youtra coisa era ficar
presa em um lugar estranho com uma garota de outra raça”, lembra Twyla, a
narradora da história). E elas se encontram de vez em quando, anos depois, seja
em Howard Johnson, no interior do estado de Nova York, onde Twyla estava
trabalhando e Roberta chega com um homem com hora marcada para se encontrar com
Jimi Hendrix, ou mais tarde em um Empório de Alimentos.

“Uma
vez, há doze anos, passamos como estranhas”, diz Twyla. “yUma garota negra
e uma garota branca se encontrando em um Howard Johnson na estrada e não tendo
nada a dizer. Uma com um chapéu de garçonete triangular azul e branco – a outra
com o companheiro que vai ver Hendrix. Agora, estávamos nos comportando como
irmãs separadas por muito tempo.”

Raça

Como
observa Womack, Recitatif inclui temas encontrados em outras obras de Morrison,
seja a relação complicada entre duas mulheres que também estava no cerne de seu
romance Sula ou a confusão racial que Morrison usou em Paraíso, um romance de
1998 no qual Morrison se refere a um personagem branco dentro de uma comunidade
negra sem deixar claro quem é. Morrison frequentemente falava da raça como uma
invenção da sociedade, uma vez que escreveu que “o reino da diferença
racial recebeu um peso intelectual que não pode reivindicar”.

Em sua
introdução, Zadie Smith compara Recitatif a um quebra-cabeça ou a um jogo,
enquanto avisa que “Toni Morrison não joga”. O mistério começa com as linhas de
abertura, “Minha mãe dançou a noite toda e Roberta estava doente. Bem,
agora, que tipo de mãe tende a dançar a noite toda?”, Smith pergunta.
“Preta ou branca?” Ao longo da história, Morrison se referirá a tudo,
desde o comprimento do cabelo até o status social, como se para desafiar as
próprias suposições raciais do leitor.

“Como a maioria dos leitores de Recitatif, achei impossível não sentir uma necessidade de saber quem era a outra, Twyla ou Roberta”, reconhece Smith. “Oh, eu queria urgentemente consertar isso. Queria simpatizar afetuosamente com as personagens em um lugar seguro. “Mas isso é justamente o que Morrison deliberada e metodicamente não me permite fazer. Vale a pena nos perguntar por quê.” (Agência Estado)


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