Conversas de botequim
Marcus Vinícius Beck
Publicado em 11 de julho de 2022 às 13:58 | Atualizado há 3 anos
Garçom, por
obséquio, me dá um uísque. Que é pra eu ficar molhado pelas águas do Jack
Daniel´s. Ih, não tens Jack? E Johnnie Walker, rola? Tudo bem, então, põe uma
pedra de gelo, porque neste clima seco e tropical, já aconselhavam o poeta
Vinícius de Moraes e o maestro Tom Jobim, é preciso manter o organismo sempre à
base de água. Ah, vida noturna, sou a borboleta mais vagabunda na doce flor da
tua hipocrisia.
São nove
e qualquer coisa da quarta-feira, 6. Meu Corinthians, numa batalha tremenda no
caldeirão chamado La Bombonera, igualou-se ao Santos de Pelé e despachara no
dia anterior na Libertadores da América o temido Boca Junior. Foi nos pênaltis,
ok. Foi na luta, eu sei. Foi na garra, sem dúvida. E, dez anos depois,
retornamos às quartas. O Brasil fica diferente quando o Timão triunfa. Sorrisos
alvinegros de orelha a orelha.
Com o
jornal na prensa, dei por encerrado o expediente e fui em direção ao Jajá
Drink´s (Mercado da 74, nº 329 – St. Central). A primeira providência, em se tratando de um
escriba com sede, foi pedir uma dose de uísque. Ingênuo que sou, conformado com
a morte do choro nos botequins, nem esperava o que estava por acontecer: copo
esférico, uma ou duas pedras de gelo, uma dose generosa e, acredite,
transbordando para fora do recipiente. Feliz, claro, fiquei. Como não?! Anedotas
jornalísticas rolaram.
Uma
informação de utilidade pública: a birita saiu a R$ 18. Sim, preço um pouco
exagerado, sobretudo de levarmos em consideração que espaços como o Breguellas,
também tradicional na boêmia goianiense, servem o pileque por R$ 12, ou R$ 10,
às vezes a amnésia alcoólica não ajuda a lembrar importantes detalhes com
exatidão. Mas o fato é que, embora salgado ao bolso, o choro do Jajá Drink´s
vale a pena. Poderia ser alçado à condição de instituição não só do Mercado da
74, mas também da capital.
Não
adianta sinalizar para o garçom, espernear com a garrafa de cerveja à mão e,
muito menos, fazer cara de quem precisa biritar: lá você obtém maior sucesso na
empreitada de conseguir um negocinho para bebericar indo direito ao balcão. E
vale a pena. Nas paredes, um capaz de divulgação do show de Altamont, nos
Estados Unidos, em que um Hell´s Angels assassinou um fã durante a música
“Under My Thum”, dos Rolling Stones. O episódio teria marcado o fim da
contracultura.
Quem vai
ao Jajá Drink´s e por lá abanca-se não pode passar incólume ao cardápio. Uma
das especialidades do botequim é o contrafilé com queijo e mandioca.
Deliciosamente saboroso. Tem ainda, como em todo bar que se preze, a popular
batata frita e, óbvio, com queijo esparrado sobre a iguaria e derretido. Mas
não vi nada demais. O mesmo, e aqui peço atenção do leitor, não se aplica à
linguiça com mandioca: prato chega a dar água na boca do cronista, o que
explica a casa ter levado os prêmios do Comida di Buteco e da extinta revista
Veja Goiânia. Sai em média R$ 40.
Não fica
pesado para o bolso, não. Longe disso, é a média que se encontra, por exemplo,
em bares como o Bar da Cida (Rua 8, 780, Setor Central), referência em gastronomia
popular noturna em Goiânia. A vantagem é que, no Jajá Drink´s, quase sempre vai
rolar música ao vivo, seja com grupos de samba, rock ou MPB que estejam tocando
no Mercado da 74. E lá tem também o Pub e Pastelaria do Meu, cujos sabores de
carne, queijo e frango, junta das cervejas especiais, tornam a casa um
clássico.
Aconchegante e prazeroso, o Jajá Drink´s vai muito além de ser uma mera imitação, em solo goiano, dos botequins cariocas descritos por Sérgio Cabral e Aldir Blanc. Dica preciosa, amigo e amiga: o bom é chegar por volta das 19h, que é o horário em que a casa abre e estão disponíveis as melhores mesas. O Jajá começa a se preparar para fechar por volta das 23h30. Nunca é demais pensar na geografia do bar. Já pensou no programa de sabadão? Ora bolas, vá ao Jajá Drink´s e aproveite a boa música, boa comida e, claro, o choro no uísque, que me coloco a favor de virar uma instituição.