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Crítica: 'O Auto da Compadecida 2' não funciona tão bem quanto a versão original

Altos e baixos se sucedem tanto, que as partes envolvendo Grilo e Chicó, os protagonistas, são as menos iteressantes

Chicó e João Grilo retornam ao cinema - Foto: Laura Campanella/ Divulgação Chicó e João Grilo retornam ao cinema - Foto: Laura Campanella/ Divulgação

À primeira vista, não pode haver melhor ideia do que reviver a dupla de "O Auto da Compadecida" —Chicó, interpretado por Selton Mello, e João Grilo, vivido por Matheus Nachtergaele. O filme fez sucesso na televisão como minissérie antes de ir para os cinemas com grande sucesso numa versão mais curta.

Era já o anúncio do que seria o ciclo de filmes brasileiros, comédias sobretudo, que alcançariam grande público até 2020, mais especificamente até maio de 2021, quando morreu Paulo Gustavo, grande nome desse período.

Quando busca novamente encontrar um caminho para o sucesso, voltar a um valor seguro parece um bom princípio. Infelizmente, nem sempre eles funcionam. Por várias razões. A primeira delas diz respeito ao texto. Ressuscitar João Grilo obriga, logo de cara, a uma série de malabarismos explicativos que não servem, a rigor, para nada.

Mas esse é só o começo dos problemas, já que o original tinha uma leveza e uma verve que não se conse gue reencontrar com facilidade. E, sobretudo, sem o apoio do texto e das situações criadas por Ariano Suassuna.

Os altos e baixos se sucedem tanto, que as partes envolvendo Grilo e Chicó, os protagonistas, são as menos interessantes. A morte e a ressurreição ocupam uma parte enorme da história, e por fim entramos na hipótese de um novo julgamento celeste e, sim, uma segunda ressurreição.

Outra parte é consumida por um bem pouco inspirado conflito político envolvendo o dono de uma loja, um coronel e, entre os dois, João Grilo. João Grilo deveria causar alguma confusão, mas os dois rivais políticos até o apagam, quer dizer, ocupam o lugar central da trama em determinados momentos, sem por isso terem algo de original a oferecer ao filme.

Com isso, os momentos mais interessantes acabam sendo aqueles em que entram em cena as duas mulheres envolvidas com o sedutor Chicó: Clarabela e Rosinha.

Talvez seja o caso de mencionar ainda o personagem do malandro carioca, que usa vários disfarces (até um pouco demais) e traz alguma graça à ação, somando sua esperteza à de João Grilo, ainda que para isso seja preciso inventar uma infértil incursão de João Grilo ao Rio de Janeiro, no tempo que passou desaparecido. Quer dizer, o caso de morte e julgamento divino virou um caso de catalepsia mística que não acrescenta nada a esta sequência.

Esses problemas, ou alguns deles, talvez fossem contornáveis, não fosse uma opção estranha da direção, que entupiu o sertão de efeitos especiais. Sem trazerem nada de especial, a não ser eles próprios, não fazem bem à fotografia, e mesmo a direção de arte parece prejudicada por essa escolha. Pior, ainda entravam a evolução e fazem os enquadramentos pesar como chumbo.

Se a virtude central do filme de 2000 foi se relacionar de maneira fluente com o público e permitir que seus dois atores-personagens, Selton Mello e Matheus Nachtergaele, expressassem o tipo de liberdade diante do infortúnio que tornava o filme tão comunicativo, desta vez a impressão é de que o público popular não responderá tão entusiasmado ao apelo de uma obra que, afinal, pode-se chamar de "filme de arte".

O AUTO DA COMPADECIDA 2

- Avaliação Regular

- Quando 25 de dezembro

- Onde Nos cinemas

- Classificação 12 anos

- Elenco Selton Mello, Matheus Nachtergaele, Taís Araújo e Virgínia Cavendish

- Direção Guel Arraes e Flávia Lacerda

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