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Da pele dos indígenas à arte minimalista: a evolução da tatuagem e o estilo Fine Line

A integração do fine line na tatuagem amplia os limites da criatividade e eleva o status da tatuagem como uma forma legítima e respeitada de expressão artística

Karime Najjar moderniza o mercado de tatuagem em Goiânia e mantém um estúdio próprio, 'FIVE' Karime Najjar moderniza o mercado de tatuagem em Goiânia e mantém um estúdio próprio, 'FIVE'

A tatuagem, uma forma de expressão artística que atravessa milênios e culturas, está em constante evolução. Dos intrincados desenhos das tribos antigas aos delicados traços do estilo fine line, a pele humana tornou-se uma tela para contar histórias e celebrar a individualidade. A técnica caracterizada por linhas finas e precisas, representa uma nova fronteira na arte da tatuagem, oferecendo uma estética minimalista e sofisticada que conquistou o mundo.


		Da pele dos indígenas à arte minimalista: a evolução da tatuagem e o estilo Fine Line
- Foto acervo pessoal

Esse estilo é o resultado de uma combinação de fatores, como a valorização do minimalismo, a influência da arte oriental e o avanço das técnicas de tatuagem. Sua popularidade se deve à sua versatilidade, discrição e estética elegante, tornando-o uma opção atraente para quem busca uma tatuagem delicada e personalizada.

O Diário da Manhã conversou com a tatuadora Karime Najjar, pioneira do estilo no Brasil, destaca a modernidade e a delicadeza desse estilo.

O fine line é um estilo recente que consegue transmitir traços finos e precisos, semelhantes aos feitos por lapiseiras, sem ser visualmente agressivo. Ele ornamenta de forma sutil, mantendo a estética e o simbolismo para quem o escolhe Karime Najjar

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- Foto acervo pessoal

Com nove anos de experiência, Najjar moderniza o mercado de tatuagem em Goiânia e mantém um estúdio próprio, 'FIVE', além de residências em três estúdios na Europa. Ela também oferece o curso 'FIVE TATTOO CLASS', que ensina técnicas e habilidades empresariais para tatuadores. "O curso ensina desde a gestão de pessoas até como agregar valor ao trabalho, sempre com a opinião do cliente em mente. É essencial que os alunos vejam a tatuagem como uma profissão séria e não apenas um hobby", diz.

Najjar revela que o maior desafio técnico é criar projetos que traduzam exatamente o desejo do cliente, já que, apesar de o desenho ser seu, o cliente irá conviver com ele por toda a vida. "O fine line atrai especialmente o público feminino por seu caráter minimalista, que não impacta de forma significativa na personalidade do cliente. É uma técnica que permanece clara e delicada ao longo dos anos", explica.

Origens antigas

A história da tatuagem é uma jornada fascinante que atravessa milênios e diversas culturas ao redor do mundo, incluindo o Brasil. De práticas ancestrais a uma forma de arte moderna, a tatuagem evoluiu continuamente, refletindo a diversidade e a complexidade da experiência humana.


		Da pele dos indígenas à arte minimalista: a evolução da tatuagem e o estilo Fine Line
Ötzi, o Homem do Gelo, uma múmia de mais de 5 mil anos encontrada nos Alpes. Foto reprodução: redes sociais

A tatuagem remonta ao período neolítico, com Ötzi, o Homem do Gelo, uma múmia de mais de 5 mil anos encontrada nos Alpes, exibindo várias marcas no corpo. No Egito Antigo, múmias datadas de 2.000 a.C. tinham tatuagens que provavelmente simbolizavam fertilidade e proteção.

As culturas polinésias, como os samoanos e maoris, desenvolveram tradições de tatuagem tanto estéticas quanto espirituais. A palavra "tatuagem" deriva do termo polinésio "tatau". No Japão, a tatuagem (irezumi) evoluiu de práticas rituais a uma forma de arte elaborada, especialmente durante o período Edo.

Na Europa, a tatuagem foi reintroduzida no século XVIII por exploradores como James Cook. No final do século XIX, marinheiros, soldados e criminosos europeus adotaram a prática. No século XX, a tatuagem ganhou popularidade como forma de rebeldia e autoexpressão.

A tatuagem no Brasil

No Brasil, a prática da tatuagem tem raízes profundas nas tradições indígenas, que usavam pigmentos naturais e instrumentos rudimentares para marcar o corpo em rituais religiosos e como identificação tribal. Com a colonização, essas práticas foram em grande parte suprimidas pelos portugueses.


		Da pele dos indígenas à arte minimalista: a evolução da tatuagem e o estilo Fine Line
Foto reprodução: redes sociais

Nos séculos XIX e XX, a tatuagem ressurgiu entre marinheiros e viajantes, mas só ganhou popularidade no Brasil nos anos 60 e 70, impulsionada pelo movimento hippie e pela contracultura. A chegada da tatuagem ao país foi marcada em 1959, quando o dinamarquês Knud Harald Lykke Gregersen, conhecido como Lucky Tattoo, desembarcou em Santos.


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Knud Harald Lykke Gregersen, conhecido como Lucky Tattoo. — Foto reprodução

Lucky trouxe as técnicas e a paixão pela tatuagem, estabelecendo um estúdio que atraiu marinheiros e trabalhadores portuários. Sua chegada foi crucial para a popularização da tatuagem no Brasil e para a formação dos primeiros tatuadores brasileiros, consolidando a tatuagem como uma forma respeitada de expressão artística.

Crescimento e profissionalização

Nos anos 80 e 90, a tatuagem no Brasil passou por um processo de profissionalização. Convenções de tatuagem começaram a surgir, facilitando a troca de conhecimentos entre artistas nacionais e internacionais. Equipamentos e técnicas se modernizaram, e a tatuagem começou a ser vista como uma forma legítima de arte. Artistas como Polaco, Tinico e Mao se destacaram, elevando o padrão artístico das tatuagens brasileiras.

Da pele dos indígenas à arte minimalista: a evolução da tatuagem e o estilo Fine Line
Da pele dos indígenas à arte minimalista: a evolução da tatuagem e o estilo Fine Line Da pele dos indígenas à arte minimalista: a evolução da tatuagem e o estilo Fine Line

No século XXI, a tatuagem alcançou uma aceitação generalizada no Brasil, tornando-se extremamente popular entre todas as faixas etárias e classes sociais. Hoje, o país é reconhecido por seus talentosos artistas, que participam de convenções internacionais e ganham prêmios por seus trabalhos. A diversidade de estilos, desde o realismo ao neotradicional, é amplamente praticada e apreciada.

A Influência dos traços delicados

Recentemente, o estilo fine line ganhou destaque na cena da tatuagem. Caracterizado por linhas finas e delicadas, este estilo permite a criação de desenhos detalhados e minimalistas, frequentemente representando temas como flores, animais e símbolos geométricos ou abstratos. Conhecidas por sua precisão e sutileza, as tatuagens fine line são particularmente populares entre aqueles que preferem uma estética mais discreta e refinada. Esse estilo exige uma mão firme e muita habilidade, pois as linhas finas não permitem margem para erros.

A jornada de Karime Najjar com a tatuagem começou na infância, ao observar o trabalho de um amigo de seu pai. "Eu sempre achei significativo marcar a pele com algo especial. Hoje, com quase 10 anos de experiência, sou apaixonada pelo estilo fine line e desenvolvi meu próprio método dentro dessa técnica", conta.

Da pele dos indígenas à arte minimalista: a evolução da tatuagem e o estilo Fine Line
Da pele dos indígenas à arte minimalista: a evolução da tatuagem e o estilo Fine Line Da pele dos indígenas à arte minimalista: a evolução da tatuagem e o estilo Fine Line Da pele dos indígenas à arte minimalista: a evolução da tatuagem e o estilo Fine Line

Atualmente, Najjar está imersa em um projeto desafiador: um fechamento de costas em fine line, inspirado pela arquitetura gótica que viu em Barcelona. "São mais de 50 horas de trabalho, e estou ansiosa para concluir este projeto, que considero um dos mais recompensadores da minha carreira", finaliza.

A tatuagem, tanto global quanto no Brasil, é uma prática que atravessa tempos e culturas, sempre se reinventando e se adaptando. Desde suas origens antigas até sua popularidade moderna, agora enriquecida pelo estilo fine line, a tatuagem continua a ser um reflexo da humanidade, de suas histórias, crenças e individualidades. A integração do fine line na tatuagem amplia os limites da criatividade e eleva o status da tatuagem como uma forma legítima e respeitada de expressão artística.

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