Cultura

Danuza estraçalhou manuais de redação

Marcus Vinícius Beck

Publicado em 24 de junho de 2022 às 14:04 | Atualizado há 3 anos

Danuza Leão, que faleceu aos 88 anos vítima de enfisema pulmonar e insuficiência respiratória, estraçalhou manuais de redação ao assinar crônicas obrigatórias em qualquer antologia. Símbolo da cultura do Rio de Janeiro e uma das mulheres mais importantes da cultura brasileira no século 20, Danuza assistiu a bossa nova nascer na sala de seu apartamento, tornou-se a primeira modelo brasileira a estrear nas passarelas lá fora, empreendeu na noite e arranjou tempo para virar uma escritora best-seller.

Famosa
na juventude pelas festas badaladas, Danuza fez o diabo: casou-se com o
jornalista Samuel Wainer, fundador do Última Hora, namorou o cardisplicente
Antônio Maria, chegando a cuidar do amado no hospital quando ele sofrera
infarto, e andou com Di Cavalcanti, Rubem Braga e Vinícius de Moraes. À frente
de seu tempo, morou em Paris e, ao retornar para o Brasil, conheceu Wainer, que
estava no xadrez. Pouco tempo depois, decidiu que precisava selar a união
amorosa com o escriba.

Com o
chefão da imprensa, Danuza teve três filhos: Bruno Wainer, Pinky Wainer e
Samuel Wainer Filho, jornalista como pai. Mas, numa das tragédias que a deixaram
reclusa durante boa parte da década de 80, ele morreu em um acidente de carro
em 1984, aos 29 anos. As outras perdas foram a da irmã Nara, vítima de um
câncer violentíssimo no cérebro, em 7 de junho de 1989, e do pai, o advogado Jairo
Leão, dono do apartamento em Copacabana onde se ouviu os primeiros acordes da
bossa nova. 

Não
por acaso, sua interessante vida pessoal era um dos assuntos preferidos da
imprensa. Além de ser irmã de Nara Leão, uma das vozes mais bonitas da MPB, ela
também era amiga de personalidades importantes do século 20. Mas foi publicando
em jornais que talvez Danuza tenha entrado de fato para o panteão dos grandes
cronistas. O jornalista Joaquim Ferreira dos Santos escolheu dela o texto “Um
Casal Feliz” para integrar a antologia “As Cem Melhores Crônicas Brasileiras”,
lançada pela Objetiva, enquanto o também jornalista Humberto Werneck compilou
“Um Amor Tão Bom” na obra “Crônicas”, que saiu pela Companhia das Letras.

Ao
longo de sua carreira, foi colunista do Jornal do Brasil, da Folha
de S.Paulo e contribuiu para o caderno ‘ELA’, de O Globo, veículo para o qual começou a
colaborar assim que Zózimo Barroso do Amaral migrara para o JB. E foi no
labor gutemberguiano que Danuza eternizou-se. Entre um texto engraçado aqui e
pertinentes observações acolá, Danuza reunião seus melhores escritos na obra
“Na Sala com Danuza”, também em “É Tudo Tão Simples” e na autobiografia “Quase
Tudo”.

Tudo e mais um pouco

Ligada
ao cinema, Danuza também fez pontas em filmes que se tornara clássicos da
cinematografia brasileira. Um deles é “Terra em Transe”, do amigo Glauber
Rocha, provando a máxima que Danuza Leão foi tudo e mais um pouco: inteligente,
linda – muito linda -, corajosa, independente, vanguardista, bem informada e
relacionada, sem esquecer, contudo, que ela era charmosa e elegante. De fato, uma
ícone, uma musa.

Parou
por aí? Para o jornalista Márcio Pinheiro, autor da obra “Rato de Redação: Sig
e a História do Pasquim”, não. Longe disso, ele diz no post do qual foi extraído
os adjetivos do parágrafo anterior, Danuza tinha uma beleza que não era fácil.
“Era preciso descobrir a boca rasgada, a pele com sardas, os olhos claros e
levemente mortiços e o cabelo que servia de moldura a toda essa beleza. Toda
essa grandeza poderia intimidar os homens, mas Danuza preferia enfeitiça-los”,
afirma Márcio.

“Do pioneiro Daniel Gelin, seu primeiro amor em Paris, ao jornalista Renato Machado, seu terceiro e último marido oficial, Danuza teve todos os homens que quis, aí incluídos Samuel Wainer – seu primeiro marido e pai de seus três filhos – e Antonio Maria, jornalista e compositor por quem Danuza largou tudo para viver um tórrido e intenso caso de amor. E mais: Danuza teve outros tantos amores, famosos e desconhecidos, a quem deu a luminosidade de sua beleza e a grandeza de seu brilho e sua generosidade”, arremata o jornalista e escritor, no Faceboook. (Com informações da A.E)

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