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Documentário revisita vida de Juscelino Kubitschek

'O Reinventor do Brasil', filme que estreia amanhã no Oscar Niemeyer, retrata vida do ex-presidente. Lançamento em Goiânia é parceria entre TV Cultura e TBC

JK exerceu a presidência com o lema de evoluir 50 anos em cinco - Foto: Gersávio Baptista/ABr JK exerceu a presidência com o lema de evoluir 50 anos em cinco - Foto: Gersávio Baptista/ABr

Guiando-se pelo lema “50 anos em 5”, o ex-presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) modernizou o capitalismo brasileiro. Ele trouxe a indústria automobilística para o Brasil e construiu na “linha do horizonte” uma nova capital brasileira – Brasília. Era um governo embalado pela bossa nova de Tom Jobim que tinha a autoestima nas alturas por causa dos dribles de Garrincha na Copa de 58, a primeira vencida pela Seleção, na Suécia.

Juscelino tem a vida revisitada no doc “JK, O Reinventor do Brasil”, minissérie em quatro episódios dirigida por Jarbas Agnelli. Produzido pela TV Cultura, o filme estreia nesta quinta-feira, 18, numa solenidade realizada no Centro Cultural Oscar Niemeyer, a partir das 18h15. O projeto é idealizado pelo diretor de rede da emissora paulista, Fábio Chateaubriand Borba, e o lançamento em Goiânia é fruto de uma parceria entre a TV estatal paulista e a TBC.

Com roteiro assinado por Fernando Rodrigues, a obra narra a trajetória do mineiro nascido em Diamantina, a 300 km de Belo Horizonte, capital do estado. JK foi um dos maiores políticos da história brasileira. Filho da professora Júlia Kubitschek e do caixeiro João César de Oliveira, tinha duas irmãs, sendo que uma delas, Eufrosina, viveu poucos meses. Já Maria da Conceição, a Naná, manteve relação próxima com o irmão durante toda a vida dele.

Maximiliano Martin Vicente, historiador, define a história do político como “invejável”. Quando o patriarca morrera, em 1905, a família Kubitschek passou por dificuldades financeiras, com Júlia assumindo responsabilidades na educação e no sustento dos filhos. Mesmo que não tivesse com quem deixá-los durante a jornada laboral, ela trabalhava fora e, ao retornar, improvisava sala de aula num cômodo. JK concluiu – dessa forma – o primário.

Como não queria seguir formação eclesiástica, em 1922, ingressou na Faculdade de Medicina de Minas Gerais. Formou-se em dezembro de 1927 e, nos anos seguintes, especializou-se em urologia, fazendo cursos na Europa. Sob influência de Benedito Valadares, filiou-se ao Partido Progressista, numa tentativa de concorrer a uma cadeira na Câmara dos Deputados, para a qual se elegeu em 1935. Entretanto, dois anos depois, houve o golpe do Estado Novo.

Getúlio Vargas fechou o Congresso Nacional e, consequentemente, JK ficara sem mandato parlamentar. Restabelecida a normalidade, Getúlio nomeou Valadares governador de Minas Gerais, que convidou o pupilo para assumir o Gabinete Civil. Posteriormente, em 1940, Juscelino tomou posse na prefeitura de Belo Horizonte, trocando o Partido Progressista pelo Partido Social Democrata e prometendo revolucionar o cotidiano da capital mineira.

Se promessa é dívida, tal qual ensina a sabedoria popular, JK precisava cumprir com sua palavra. E lá foi ele abrir avenidas, iniciar obras de infraestrutura, melhorar a rede de esgoto e tornar a água um bem acessível. Com o arquiteto Oscar Niemeyer, criou a Pampulha – hoje uma icônica mas moderna área residencial, em BH. Esses resultados aumentaram a popularidade e o prestígio do prefeito, que se tornou governador de Minas Gerais, em 1951.

Juscelino se diferenciava de todos os presidentes que o antecederam e de quase todos os que lhe sucederam Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente

Carismático e – em razão disso – distante dos políticos tradicionais, governou Minas com uma prioridade bem clara: aprimorar a economia. Dessa maneira, tratou de acabar com a dependência mineira acerca da produção agropastoril, sustentando suas ideias em três pontos desenvolvimentistas: industrialização, estradas e eletrificação. Queria modernizar o estado, o que automaticamente lhe aumentaria a popularidade dentre os eleitores.

Nos anos 1950, com a morte de Getúlio, a política brasileira atravessava um momento, digamos, de ampla turbulência. Não bastasse o suicídio do ex-presidente nacionalista, um ataque cardíaco pôs fim ao mandato de Café Filho. JK, então, venceu o pleito e, apoiado pela esquerda, chegou à presidência por meio da aliança entre PSD-PTB, em 1955.

Passagem por Jataí entrou para a história

Aos 53 anos, Juscelino Kubitschek tomou posse no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, e anunciou que suspenderia o estado de sítio. Também avisou que, a partir de então, nenhum tipo de censura seria tolerada, bem como seria inaugurada uma era desenvolvimentista, simbolizada pelo Plano de Metas e seu clássico slogan “50 anos em 5”. Diferente dos tempos em que governara Minas de Gerais, cinco eixos agora mantinham em pé o projeto de JK, mas só em três áreas efetivamente funcionou: energia, transporte e indústria.

Debaixo de chuva, num comício em Jataí, JK foi questionado por Antônio Soares Neto se, caso eleito, iria cumprir a Constituição e tiraria a capital do Rio de Janeiro para levá-la ao Planalto Central. Segundo o historiador Ronaldo Costa Couto, doutor em história pela Sorbonne, o político – desde os anos 1940 – queria erguer a nova cidade no Triângulo Mineiro, porém teria escolhido construi-la aqui antes de encontrar os eleitores goianos.


		Documentário revisita vida de Juscelino Kubitschek
JK e o príncipe Bernhard de Lippe-Biesterfeld, dos Países Baixos, inauguram o serviço telefônico em Brasília, em 1959 - Foto: Arquivo Nacional/ Correio da Manhã. Marcus


Seja como for, a nova capital brasileira foi colocada em pé num tempo impressionante: quatro anos. Oscar Niemeyer assinou o projeto arquitetônico e modernista, enquanto Lúcio Costa planejou a urbanização da cidade-futuro, aquela que – para a escritora Clarice Lispector – nasceu como a “simplificação final de ruínas”. E, talvez por isso, o jornal “Tribuna da Imprensa”, do histriônico Carlos Lacerda, tenha chamado a obra de “capital da corrupção”. Já o “Diário Carioca”, de José Eduardo Macedo Soares, defendia Brasília.

Presidente entre 1995 e 2003, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso afirma, durante o documentário “JK, O Reinventor do Brasil”, que Juscelino Kubitschek se destacava “de todos os presidentes que o antecederam e de quase todos os que lhe sucederam, pois ele era um tocador de obras (...) ele gostava de sujar os pés na lama e estar em todos os lugares”.

Conforme documentos do TRE-GO, o político ainda se elegeu senador por Goiás, antes de ser cassado pela ditadura, instaurada em 1964. Juscelino Kubitschek morreu em 1976. De acordo com relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), ele teria sofrido um “atentado político”. JK estava num Opala guiado pelo motorista Geraldo Ribeiro. O carro bateu numa carreta na Via Dutra, na altura de Resende, Rio de Janeiro. Ambos faleceram na hora.

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