Não é fácil uma série brasileira chegar à terceira temporada, em especial na era do streaming, que cancela e renova suas obras sem explicações. Mas "Dom", que se despede do público, agora atinge este feito, conforme havia sido planejado.
Por mais bem-sucedido que o projeto tenha sido, ele não tinha elasticidade para ir além –"Dom" acompanha Pedro Dom, morto pela polícia em 2005, aos 23 anos. Chamado pela imprensa de "ladrão fashion" e "assaltante de casas mais procurado do Rio", o rapaz, personagem de Gabriel Leone, assaltava imóveis de luxo, mas chamou a atenção da mídia pelo contexto no qual estava inserido.
Dom era filho de policial, "loiro, de olhos verdes e nascido em família de classe média", como descrevia uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo na ocasião de sua morte. Ele se viciou em cocaína aos 13 anos e passou a cometer crimes que pouco a pouco ganhou repercussão nacional.
"Não tinha muito conhecimento sobre ele, mas poder interpretar não um bandido, mas um adolescente que vira criminoso, e entender a origem daquilo, a repercussão em seu núcleo familiar, foi incrível enquanto ator", diz Leone.
"A gente não passa a mão na cabeça, mas mostramos a complexidade disso. Não era o objetivo trazer respostas [para a guerra às drogas], porque esse assunto deve ser discutido a nível de Estado, mas jogar luz sobre essa realidade, que ainda é um tabu, tem uma força social grande."
O próprio pai de Dom, o ex-policial Luiz Victor Lomba, enquanto tentava convencer alguém a adaptar a jornada do filho para as telas, numa tentativa de atenuar a imagem de criminoso com a qual morreu, dizia estar arrependido por ter dedicado a vida à guerra às drogas.
Lomba, que morreu em 2018, não teve tempo de ver a trajetória do filho nas telas, assim como o criador da série, Breno Silveira, não teve tempo de vê-la finalizada. Diretor de filmes como "2 Filhos de Francisco", Silveira morreu há dois anos, pouco depois das gravações da segunda temporada, ao sofrer um infarto agudo do miocárdio, aos 58 anos.
Mas Silveira se fez presente, diz Flavio Tolezani, que interpreta o pai de Dom. "Ele desenvolveu os roteiros, então sua presença foi forte, por mais estranho que pareça. Houve uma série de dificuldades, porque ele era a cabeça daquilo, mas enfrentamos isso juntos", diz.
Em entrevista à Folha de S.Paulo quando a primeira temporada foi lançada, Silveira disse que um de seus principais objetivos era discutir a guerra às drogas a partir de personagens que fogem daquilo que se vê no "favela movie", gênero que mistura ação policial e denúncia social, tendo os morros como cenário.
"Não estou falando de um bandido que vem do morro, do desespero social, da classe baixa. Estou falando de um menino que tinha tudo. A figura dele abria portas", afirmou. Agora, o tema ganha ainda mais relevância, enquanto as discussões sobre a descriminalização da maconha ganham projeção em Brasília.
Para encarnar Dom, Leone teve os cabelos pintados de loiro e usou lentes de contato. O projeto faz parte de uma coleção de grandes produções estreladas pelo ator de 30 anos, que se prepara para lançar a série da Netflix "Senna" no segundo semestre após gastar o inglês em "Ferrari", de Michael Mann.
"Dom" encerra sua jornada com cinco episódios, centrados nas tentativas de Dom de endireitar a vida, ao lado da companheira e da filha recém-nascida. Procurado pelo chefe do tráfico da Rocinha para pagar dívidas, porém, ele precisa coordenar o maior assalto que já fez.
DOM (3ª TEMPORADA)
Onde: Amazon Prime Video
Classificação: 16 anos
Elenco: Gabriel Leone, Flavio Tolezani e Raquel Villar
Produção: Brasil, 2024
Criação: Breno Silveira