Duas décadas de andanças
Diário da Manhã
Publicado em 7 de setembro de 2016 às 03:01 | Atualizado há 9 anosEm 20 anos de trajetória – completados este ano –, a Companhia de Teatro Nu Escuro já rodou grande parte do País e do mundo. Mas um fato é consumado: o grupo nunca perdeu a goianidade. Talvez as maiores provas disso sejam os espetáculos que compõem a Trilogia Goyaz. Nela, os atores mergulharam a fundo em pesquisas sobre a formação da identidade cultural do povo goiano, que resultou nas montagens Plural, Gato Negro e Pitoresca. Tais peças, a partir deste mês, vão cair nas estradas de Goiás e do Brasil compartilhando e ressaltando um pouco do jeitinho goiano de ser.
A circulação, que vai contemplar oito cidades brasileiras, foi possível porque o grupo foi vencedor do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz/2015. Em Goiás, as apresentações vão seguir até o dia 15 de outubro. Aliás, por aqui a circulação começou ontem, com a apresentação de Plural, em Águas Lindas. Já amanhã será a vez do mesmo espetáculo chegar a Goiânia e a apresentação vai começar às 20 horas, no Teatro Sesc.
No sábado (10), Plural chega ao Ponto de Cultura Cidade Livre, em Aparecida de Goiânia. E em Pirenópolis a peça será encenada no dia 15 de outubro, às 19 horas, na Comunidade Educacional de Pirenópolis (Coepi). Apenas na capital os ingressos custam R$ 15 (inteira), pois nas demais cidades goianas a entrada é gratuita.
Seguindo o mesmo projeto de circulação, as peças Gato Negro e Plural serão apresentadas em Manaus (no dia 30 de setembro e 1º de outubro) e em Belém Gato Negro será apresentado nos dias 22 e 23 de outubro. Já Pitoresca chegará a João Pessoa nos dias 27 e 28 de outubro, e em Recife nos dias 25 e 26 de outubro.
20 anos de estrada
Estas andanças já fazem parte da história do grupo. Sendo assim, ao observar a trajetória da companhia, é bem legítimo que a mesma comemore seus 20 anos de existência na estrada. Pois para se ter uma ideia, apenas neste ano se apresentaram em 17 cidades (oito estados e o Distrito Federal). Outro acontecimento que vem se repetindo na trajetória da é a conquista do prêmio da Funarte – até agora já ganharam sete.
A cada local que passam, eles levam um pouco de suas raízes. E nesta série de peças intitulada Goyaz este sentido é amplificado. Como toda trilogia que se preze, os espetáculos Plural, Gato Negro e Pitoresca, ainda que cada um tenha sua própria linguagem, são completamente ligadas entre si. Mas, talvez, o ponto de conexão que une cada peça se resuma a uma palavra: identidade.
“Ao apresentarmos esses espetáculos no Estado e fora dele, estamos querendo dialogar com variadas plateias em torno de buscarmos amplificar essa pesquisa e ao mesmo tempo mostrar as raízes de quem somos, em buscar de nos conhecermos cada vez mais e assim contribuir para a reflexão em torno de nossa diversidade social e cultural, o que nos une e o que nos diferencia”, comenta Tuim sobre a escolha da trilogia para circulação.
A deles, a sua e a nossa história
A partir da poesia, do teatro da música e da dança, a companhia conseguiu fazer um retrato sociocultural de Goiás. A seguir, saiba mais das peças, como Plural, que integra a trilogia Goyaz e foi dirigida por Hélio Fróes.
Plural
Este espetáculo, que será apresentado nas cidades goianas, traz, por meio do teatro de bonecos, a história de uma menina chamada Maria. A peça conta as recordações desta garota, que foram baseadas nas lembranças e origens da própria companhia, com muito canto, dança de cantigas populares. Assim, caminha entre o drama e a poesia, o trágico e o humor, com facilidade. A trama conta principalmente com mulheres rurais que migraram principalmente de Minas para Goiás na promessa de melhoria de vida. A peça fala sobre mulheres rurais que têm suas identidades forjadas em seu sangue: o negro, o índio, o branco. A dramaturgia foi concebida através de histórias e lembranças de mulheres que vivenciaram estas questões: dona Lia, dona Joaquina e dona Vanilda, mães, respectivamente, de Izabela Nascente, Abilio Carrascal e Lázaro Tuim.
Gato Negro
Este teatro de rua já rodou diversas praças da capital e fora dela e conta a história de três irmãs proprietárias de uma fazenda no interior de Goiás no século XX. Estas mulheres esperaram durante sete anos a volta do amor prometido com o nome de Samuel Godói dos Santos. Mas na data de chegada, ao contrário do amado, elas veem aparecer uma estranha criatura, misto de homem com animal, o gato negro, que dá nome à peça. Os personagens que atuam na peça estão envolvidos em uma história misteriosa, inquietante, em que há mistura de repulsa e desejo, o amor e o asco. As origens rurais do Estado de Goiás são contadas por meio de toda uma influência latina, com direito a tango e a dança de salão.
Pitoresca
Os atores Adriana Brito, Eliana Santos, Izabela Nascente, Lázaro Tuim e Liomar Veloso entram no palco com a missão de fazer um caleidoscópio psicodélico do mundo moderno. A história é contada pelo boneco de uma índia, que na peça tem mais de 400 anos que está grávida. Ela presencia a formação das identidades brasileiras que foram construídas a partir dos olhares estrangeiros. Relatos de cientistas e artistas europeus, diários de um escravo africano, livros de viagens de piratas aventureiros que passaram pelo Brasil foram a inspiração para o texto. A intenção é trazer ao público uma provocação engraçada das origens do País.
ENTREVISTA HÉLIO FRÓES – diretor da trilogia Goyaz
DMRevista – Por que escolheram a trilogia Goyaz para comemorar 20 anos da Nu Escuro?
Hélio Fróes – A trilogia é a parte mais madura da nossa companhia. São os três mais recentes espetáculos e a gente escolheu ela para falar da nossa cultura e também para gente afinar a nossa linguagem cênica. Estes três espetáculos são a parte mais bem resolvida do grupo.
DMRevista – Quais os desafios que vocês venceram nestes 20 anos e quais ainda estão lutando para vencer?
Hélio Fróes – A Nu Escuro foi se reinventando de tempos em tempos. A área do teatro exige um jogo de cintura muito grande. Hoje estamos em uma fase maravilhosa. A gente está chegando de uma turnê nacional pelo Palco Giratório, e fizemos espetáculos em quase todos os estados do Brasil. Estamos ainda finalizando um projeto da Petrobras e começando com este da Funart. Mas nem sempre a gente esteve na crista da onda, como estamos neste momento. Trabalhar com arte exige atenção e precisamos estar sempre em alerta. Mas faz parte do jogo.
DMRevista – Ontem, a Quasar Cia. de Dança disse que irá encerrar seus trabalhos permanentes. Em algum momento as coisas ficaram muito difíceis para a Nu Escuro? Como deram a volta por cima?
Hélio Fróes – A notícia da Quasar foi muito ruim. Ela foi a madrinha da Nu Escuro. Quando a gente começou, a Vera Bicalho (diretora da Quasar) deu toda estrutura e nos ensinou o caminho das pedras. Nos ensinou como nos organizar enquanto empresa mesmo. Foi um grande diferencial este bate-papo. O Henrique Rodovalho (coreógrafo da Quasar) até já dirigiu espetáculos da Nu Escuro. Agora, a gente já passou por três momentos que pensamos que o grupo ia acabar, mas não acabou. Mas essa área das artes é muito frágil, então não dá para ter certeza do que vai acontecer com o grupo ano que vem. Vamos ver o quê vira.
Roteiro das apresentações de “Plural” em Goiás
Goiânia
Quando: Amanhã, às 20 horas
Onde: Teatro Sesc (Rua 15, esquina com Rua 19, Centro)
Ingressos: R$ 15,00 inteira / R$ 7,50 meia
Aparecida de Goiânia
Quando: sábado (10), às 19h30
Onde: Ponto de Cultura Cidade Livre (Av. Progresso Qd. 21 Lt. 04 CS.1 / Teatro Cidade Livre)
Entrada franca
Pirenópolis
Quando: Dia 15 de outubro, às 19 horas
Onde: Pirenópolis – Coepi (Rua do Carmo, s/nº – Bairro do Carmo)
Entrada franca