A peça “Hamlet Cancelado”, inspirada livremente em obra clássica do dramaturgo inglês William Shakespeare, será apresentada nesta terça, 8, às 20h, no Teatro Sesc Centro. Com texto assinado por Flávio Tonnetti e Vinícius Piedade, “Hamlet Cancelado” gira em torno de figurante decepcionado com fato de peça shakespeariana ter sido cancelada.
O personagem, inconformado, constrói à sua maneira uma adaptação de obra inexistente. Utiliza fragmentos textuais originais, trechos da proposta cênica, pedaços dos cenários que estavam sendo erguidos e retalhos dos figurinos em fase de pré-confecção.
Dessa forma, acredita, levaria ao público uma adaptação ousada, em que oferecia sua pequena versão da maior obra teatral já escrita. “Hamlet Cancelado” joga luz à luz história de pretensioso ator que aspira figurar na maior montagem de Hamlet já realizada.
Assim que consegue vaga como figurante no projeto (aplicou dedicação total a isso), envolve-se com texto e com montagem a tal ponto que consegue chamar atenção da equipe responsável pela direção, que lhe dá papel nobre: passa a falar em cena.
Por motivos que lhe escapam — e que ele levanta hipóteses, como briga no elenco, censura, corte de patrocínio, pandemia mundial e atritos do diretor da peça com a equipe de produtores —, a montagem se mostra projeto inviável. Frustra sonhos desse ator de lançar-se no mercado artístico para se dedicar a esse ofício em tempo integral.
Já o espetáculo “Provavelmente Saramago”, também de Vinícius Piedade, será apresentado nesta quarta, 9, às 20h, e os ingressos também estão disponíveis no Sympla. Aqui, veremos um solo cuja trama gira em torno de um ator que — ao ser preterido num casting para um filme (ficcionado) sobre Saramago — resolve montar um espetáculo de teatro.
A cada nova tentativa de adaptação cênica, o ator se revê nas suas ideias e tramas, cruzando ficção e realidade num labiríntico jogo de espelhos. Entre o ficcional e documental, Vinícius Piedade (Brasil) e Paulo Campos dos Reis (Portugal) estabelecem um diálogo pessoal com José Saramago com o objetivo de refletir, celebrar e problematizar a recepção da sua obra.
Como nos posicionamos como artistas, cidadãos e seres humanos em relação à sua mundividência e convicções? Eis a pergunta a que o espetáculo “Provavelmente Saramago” tenta — ou seria ensaia? — responder. Agora, porém, recorramos a Saramago.
“No fundo, há que reconhecer que a história não é apenas seletiva, é também discriminatória, só colhe da vida o que lhe interessa como material socialmente tido por histórico e despreza todo o resto, precisamente onde talvez poderia ser encontrada a verdadeira explicação dos factos, das coisas, da puta da realidade”, diria Saramago.
Em seguida, Saramago acrescenta: “Em verdade vos direi, em verdade vos digo que vale mais ser romancista, ficcionista, mentiroso.” Através do autor português, o espetáculo associa o ato de criação artística à ideia de trabalho e de resiliência – a consolidação do seu percurso como romancista começará, pouco ortodoxamente, depois dos 60 anos de vida.
“Provavelmente Saramago” valoriza aspectos da sua anterior “extraordinária biografia ordinária”. Outro tema forte convocado será o da incompletude e intimidade — Saramago será tanto maior quanto menor for a tentação de lhe fixar retrato cristalizado; possa, cada leitor, por simpatia ou contraste, encontrar o seu Saramago. Ingressos pelo Sympla.