Festival celebra delícias do torresmo
Marcus Vinícius Beck
Publicado em 24 de maio de 2023 às 18:36 | Atualizado há 2 anos
O Torresmofest vai acontecer entre quinta, 25, e domingo, 28, e 1° a 4 de junho, das 12h às 22h, no Passeio das Águas. Festival de carne suína consagrada aos quatro ventos do País, o evento oferece ampla seleção de iguarias, como joelho de porco, leitão à pururuca, torresmo de rolo, torresmo recheado e torresmo mineiro, além de costela suína, pernil e pancetta.
Pois é, um torresminho, perdoe seu doutor, vai bem. Mas parece inútil qualquer esforço para formular frases a respeito de um clássico unânime da gastronomia popular brasileira. Alguns são esbranquiçados, outros crocantes. Pode ter um tom mais escuro e, à primeira mordida, são apenas gorduras maléficas à saúde.
Já os da próxima fornada se apresentam duros e até mesmo enroscados, com três ou quatro fios que sabe-se lá do que são, mas ninguém de boa convivência tem coragem de levantar o indicador para perguntar sua origem ao vê-lo nas estufas dos botecos ‘copo-sujo’.
O fato é que o petisco torna qualquer assembleia boêmia mais apetitosa: combina com feijoada, tira o gosto da cachaça e também desce redondo junto daquela cerveja. Carnudo ou crocante, a herança gastronômica dos portugueses foi incorporada aos temperos dos escravos que preparavam o alimento para encher a pança dos senhores nos séculos 18 e 19.
Para o chef Marcelo Corrêa Bastos, um dos autores da obra “A Culinária Caipira da Paulistânia”, a iguaria aclimatou-se à brasilidade na região correspondente atualmente aos estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Paraná e Goiás.
Não é que deu certo? O torresmo, como um samba com a assinatura de Chico Buarque, tornou-se indispensável em pratos bastante degustados em Goiás, como feijão tropeiro e feijoada. Vai bem também com aquele arroz do dia a dia, isto é, por conta de sua antropologia seria um erro dizer que o regabofe não funcionou por aqui.
Possibilidades
A outra possibilidade, chamada de couratos, usa o couro do animal. Compare com o torresmo mineiro, consagrado nas cidades históricas de São João Del-Rei, Ouro Preto e Tiradentes: são mais receptivos ao paladar. Pica-se o toucinho em cubos, lave-o bem, escorre-se e tempera-o e, numa panela funda, coloque gordura e o toucinho, aquecendo e fritando, até que a carne ganhe um aspecto alourado.
O que muda com esses cortes? Bem simples, o sabor. Mas está longe de ser o único segredo na hora de preparar um torresmo. Sua sacada primordial é desidratar a pele, processo que pode ser feito com sal e frio. Depois, é só metê-lo no forno, pururucar a pele – com óleo. Em seguida, leve-o a uma temperatura de 250 graus. Informação de alguém cujo paladar mantém uma relação recíproca com a iguaria: nossos ‘copo sujo’ e nosso samba precisam do torresmo assim como Aldir Blanc e Jaguar, dois caras que encontraram poesia no tira-gosto.
Com sua antropologia, sociologia e história, além de já ter sido alvo das palavras escritas por Darcy Ribeiro, o perfume do torresmo deveria ser direito de todo cidadão brasileiro: ricos e pobres, vilanovenses e esmeraldinos, roqueiros e sertanejos. Afinal, vai chegando o final de semana e a gente quer degustar as texturas do tira-gosto. Papo sério: vai um torresminho aí?
Torresmofest em Goiás
Quando: dias quinta a domingo e 1° a 4 de junho
Horário: das 12h às 22h
Onde: Passeio Águas Shopping