O Fica movimenta Cidade de Goiás até o próximo domingo, 18. Estão programadas as mostras Cinema Goiano e Washington Novaes, sessões especiais e homenagens a artistas visuais, mesas de debate e rodas de conversa. Neste ano, o tema do festival será “Cerrado e Amazônia - Dois Territórios, Um Só Futuro”. A partir dele, discutir-se-á como os dois biomas - um depende do outro - estão conectados entre si e compartilham processos em seus ciclos climáticos.
Quem confirmou presença nesta edição foi o documentarista João Moreira Salles, autor de filmes essenciais ao cinema de não-ficção brasileiro, como “Entretatos” (2004), “Santiago” (2006) e “No Intenso Agora” (2017). Fundador da revista “Piauí”, na qual publicou reveladora série de reportagens “Arrabalde”, Moreira Salles participará de conversa “Arrabalde: Brasil e Amazônia”, realizada no Cine Teatro São Joaquim, sábado, 17, às 10h30.
Com mediação do cineasta e coordenador artístico do Fica, Pedro Novaes, o bate-papo girará em torno da experiência de Moreira Salles em passar meses vivendo na Floresta Amazônica, no Pará. Aqueles dias originaram - além das matérias que saíram na “Piauí” - o livro-reportagem “Arrabalde - Em Busca da Amazônia”, título publicado ano passado pela Companhia das Letras. “A periferia se tornou o verdadeiro centro, e o centro, a periferia. É a Amazônia que nos põe e nos tira da cena internacional”, pinça o autor, na obra.
Moreira Salles diz ainda que a Amazônia sofre por não ter sido pensada e nem querida. “A civilização brasileira não formulou uma ideia de floresta. Não a incorporou à imaginação coletiva, não a transformou em imagem compartilhada. Como diz o fotógrafo Luiz Braga, nascido em Belém: a Amazônia é o que se esquece do Brasil. É o resto, arrabalde”, problematiza o documentarista, cujo texto é fruto de estadia que se estendeu de agosto até dezembro de 2019 - voltou para lá em fevereiro do ano seguinte, quando encerrou a viagem.
De Cannes ao Fica
Um dos filmes ganhadores do último Festival de Cannes tem estreia brasileira no Fica. O “Flor de Buriti”, dirigido pelo cineasta português João Salaviza e pela brasileira Renée Nader, mostra a resistência do povo Krahô, no norte do Tocantins, que será exibido durante sessão especial, no sábado, 17, às 20h. Vale destaque também o filme “Mari Hi – A Árvore dos Sonhos”, exibido na abertura, hoje, às 18h30, no Cine Teatro João Joaquim, com direção assinada pelo indígena Morzaniel Iramari Yanomami.
Como nas outras edições, curtas e longas-metragens, daqui ou de fora, competem em três categorias. Na Mostra Internacional Washington Novaes, considerada a mais relevante do Fica, foram selecionados seis longas e oito curtas. O vencedor do prêmio Cora Coralina, o mais pomposo, embolsa R$ 30 mil. Já quem ganhar Acari Passos para melhor filme de curta ou média recebe R$ 15 mil, ao passo que quem abocanhar o Carmo Bernardes de melhor direção fica com R$ 10 mil e o detentor do João Bennio a melhor filme goiano leva R$ 20 mil.
Para o corpo de curadores, os filmes possuem histórias, estéticas e urgências capazes de conectar o público a gêneros, tecnologia, temáticas, origens e condições de produção. “Eles constituem essa constelação de mundos em caos, em que lutas dos povos originários dividem espaço com críticas à exploração de recursos naturais, reflexões sobre o poder destruidor e reparador da mão humana sobre a Terra, as ausências fantasmagóricas de paisagens abandonadas”, diz texto assinado por Benedito Ferreira, Cássio Kelm Soares, Fernando Segtowick, Geórgia Cynara, Juliane Medeiros, Santiago Dellape, Solemar Oliveira.
Essa edição do Fica também promete ser termômetro da produção local. A mostra Cinema Goiano irá lançar curtas realizados por revelações goianas. Vale ficar prestar atenção em “Memórias Indígenas - A Coleção de Jesco Puttkamer Sob o Olhar dos Povos Originários Waurá e Yudjá”, dirigido por Marlene Ossami de Moura. Na mesma competição, o outro filme para o qual é importante olhar retrata o processo de renascimento artístico e cultural da Rua 8, no Centro de Goiânia, sob a direção de Laércio Alves e Caique Branco.
Já na mostra Becos da Minha Terra, que exibe apenas produções vilaboenses, estão dez obras. “Outro ponto importante na análise do júri das duas mostras (Mostra Goiás e Mostra Becos) foi o de manter a pluralidade de gêneros e temas, optando por uma curadoria heterogênea, fluída e horizontal, visando exibições agregadoras e inspiradoras, bem como o fortalecimento da cultura local, regional e nacional”, dizem os curadores Danny Barbosa, Hermes Leal e Karina Paz, ao comentaram as características das produções concorrentes.
Homenagens
Em diálogo com a temática ambiental, a identidade visual do Fica tem assinatura do artista Carlos Sena, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG). Sua escultura “São Pedro Atendei às Nossas Preces”, que está no material gráfico, aborda a relevância da água à vida, a escassez do líquido e os dilemas sociais que isso gera à sociedade. Segundo o pesquisador em artes Divino Sobral, os problemas evidenciados na obra remetem aos enfrentados por Carlos quando ele ainda vivia na zona seca de Mairi, cidade localizada no interior da Bahia.
Por fim, o indigenista brasileiro Bruno Araújo, ex-servidor da Funai, e o jornalista britânico Dom Phillips, assassinados no ano passado, durante uma viagem pelo Vale do Javari, segunda maior terra indígena do Brasil, no extremo oeste do Amazonas, serão homenageados hoje no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica).
Veja quem toca no Fica
Há anos, um dos atrativos do Fica são os shows musicais. Nesta edição, vão se apresentar a cantora Maria Rita, na sexta-feira, 16, dia em que também se apresentará a goiana Banda Madá. Já a noite de sábado, 17, será animada por show de Criolo, mas antes haverá apresentação da cantora Maduli. No domingo é a vez de Maria Eugênia, Ricardo Leão e Luiz Chaffin abrirem as apresentações da noite de encerramento. Na sequência, a Orquestra Filarmônica de Goiás promete uma apresentação especial, que contará com a participação do músico Roberto Menescal (um dos pais da bossa nova) e da cantora Wanda Sá.