
O guitarrista Walter Villaça mostra nesta quarta-feira, 19, o esmero com que se dedica ao instrumento elétrico em show realizado na abertura do Goiânia Blues Festival, no Teatro Sesc Centro, a partir das 20h30. Villaça subirá ao palco tendo os Caboclos na retaguarda.
É técnica e feeling, pegada e fraseado, suingue e timbre: Jeff Beck total. O mestre e o aluno, a lenda e o virtuose. Ao lado de Fred Valle e Carlos Foca, Villaça começou a se enfurnar em março de 2016 no Estúdio Atittude, Setor Sul, às quartas-feiras para criar o disco “Okê Arô”.
Para Villaça, esse trabalho surge para disseminar a música instrumental dentre maior número de pessoas mundo afora. Trata-se do primeiro álbum solo gravado pelo experiente guitarrista, conhecido por ter sido fundamental durante a definição sonora de Cássia Eller.
Ou seja, o instrumentista colocou sua guitarra em “Violões” (1996) “Veneno Antimonotonia” (1997), “Veneno Vivo” (1998), “Com Você Meu Mundo Ficaria Completo” (1999), “Rock'n Rio III” (2001), “Acústico MTV” (2001), “Dez de Dezembro” (2002) e “Luau MTV” (2003). Simplesmente os melhores discos de uma certa cantora que cuspia o fogo quente da poesia.
Villaça abriu também shows dos Rolling Stones em passagem deles pelo Brasil com a turnê “Bridges to Babylon”. À época — os Stones tocaram aqui lá no ano de 1998 —, o guitarrista acompanhava Cássia. Ela, como sempre, não decepcionou: dez músicas, a maioria de Cazuza, o nosso poeta meio Mick Jagger que cantava o blues com pastor e bumbo na praça.
Então, notemos, esse tal de Walter Villaça construiu de fato uma história notável na música. Seu trabalho com os Caboclos, por exemplo, aposta nessa expressão artística como meio para que se propague a paz e integração entre os povos. O nome das músicas declara amor à natureza, enquanto o som, alto-astral e incendiário, trafega pelas vias libertárias do rock’n’roll.
Se a música jamais parará, conforme diz Villaça, o repertório preparado para o show no Sesc Centro ilustra os dotes virtuosos do guitarrista. Deverá abrir o espetáculo com a sutil “Salve Caboclos”, emendando com agitada “Sete Flechas” e seu riff hipnotizante. “Lamento Sertanejo” escancara admiração do músico habilidoso por Gilberto Gil e Dominguinhos.
A hendrixiana “Broto”, por sua vez, assalta a coordenação motora. Pés e mãos bagunçados, tirados do conforto, essa comodidade oferecida pelo cemitério da ordem. Eis que vem às caixas de som “Okê Arô”. Nela, o ouvinte deita numa estrada trepidante, oscila seus sentimentos, indo do prazer à revolta, e observa imagens ecológicas passando pela cabeça.
Quando já se está esbaforido, Villaça chega às últimas consequências ao mandar ver “Mil Walters”: achapagante. Pensa-se na tradição do blues produzido em Chicago, Muddy Waters, Buddy Guy e essas santidades, mas em emocionante sintonia com o som de novos nomes do estilo ancestral, tipo o duo Larkin Poe e o guitarrista Christone “Kingfish” Ingram.
Próximo ao fim, a dançante “Planta” precede o “Clima Quente”. Talvez haja tempo para o bis: “Cassia Blues”, “Tutu” e “Leviticus Faggot”. A guitarra ulula, sussurra. A vida sem música é um erro, uma chatice interminável, um porre sorvido numa madrugada insolente.
Rememora Villaça: “Com a retomada aos palcos pós pandemia, fizemos o festival Canto da Primavera, em Pirenópolis.” Ele afirma que o show está afinado para rodar festivais de jazz, blues e música instrumental, pois “tem uma pegada completamente diferente e original na assinatura musical do trabalho autoral e nas releituras de grandes influências”.
Mais música
Além de Villaça e os Caboclos, a programação desta quarta-feira, 19, começa às 19h30. Os improvisos e a interatividade do grupo Central do Som dão o tom da abertura com o show Afro Brasilidades. Fred Valle e Edilson Morais formam a banda que abrirá a noite.
Na quinta, 20, o festival leva ao palco do Sesc Centro a MPB, a World Music e o Jazz de Fabiano Chagas, às 19h30, em show no qual revisitará sua trajetória. Às 20h30, Pedro Braça e Luiz Chaffin demonstrarão toda a conexão artística que lhes é comum no espetáculo “Com a Corda Toda”. Eles apresentam arranjos originais, releituras e composições autorais.

Goiânia Blues Festival termina na sexta-feira, 21, com três shows. A noite se inicia com a banda Jahz Reggae, liderada por Marcelo Maia, que se apresenta às 19h. Na sequência, Front Jr e Luiz Chaffin chegarão juntos no Som Corrente. André Mols fecha evento às 21h sintetizando três décadas de blues, estilo do qual é um dos pioneiros no cenário goiano.
“Todos são músicos de carreira, reconhecidos nacional e internacionalmente, e que já contam uma longa história em palcos brasileiros e estrangeiros. Mas também são músicos que representam a diversidade desse estilo, que nem sempre é evidente para a audiência”, afirma o produtor e músico Luiz Chaffin. Os ingressos já se esgotaram.
GOIÂNIA BLUES FESTIVAL
De quarta a sexta-feira
Teatro Sesc Centro
R. 15, 178-298
Ingressos esgotados