Home / Cultura

Música

Fita raríssima revela Beatles antes do estouro

Com 16 faixas, material traz grupo inglês com baterista que antecedeu Ringo Starr. Banda está clara ali, talvez brilhante, qual e tal seus melhores momentos

George Harrison, Ringo Starr, John Lennon e Paul Mccartney chegam a Nova York, em 1964 - Foto: Beatles 64'/ Divulgação George Harrison, Ringo Starr, John Lennon e Paul Mccartney chegam a Nova York, em 1964 - Foto: Beatles 64'/ Divulgação

Há mais ou menos sete dias, durante faxina rotineira em sua loja de discos, o canadense Rod Frith apanhou uma fita intitulada “Beatles 60s Demos”. Com um pé atrás, ouviu-a e resolveu publicá-la nas redes. Só não sabia que avivaria interesse de beatlemaníacos mundo afora.

Frith deu-se então conta do que tinha em mãos: uma gravação rara dos Beatles. Melhor, 16 gravações perdidas e feitas pelo quarteto antes da fama, em 1962. As músicas surpreendem: “Sheik Of Araby”, do guitarrista cigano Django Reinhardt, e “Money (That's what I want)”, releitura para canção de Berry Gordy que saiu no disco “With The Beatles”, de 1963.

A voz de John Lennon reaparece rasgada, como se o músico tivesse passado a noite anterior gritando bêbado na rua. Impulsivo da mesma forma que os batimentos cardíacos, o baixo Höfner traz Paul McCartney e suas linhas ondulantes. George Harrison fornece suporte à música, com acordes tão dominantes quanto o arrepio causado por um beijo apaixonado.

Em 1° de janeiro de 1962, quando ocorrera a gravação, o baterista Pete Best entrou no Decca Studios junto a Lennon, McCartney e Harrison. Best viria a ser substituído por Ringo Starr meses depois. Como a Decca os rejeitara, os Beatles assinaram contrato com a Parlophone, de George Martin, e lançariam no ano seguinte o elepê estretante, “Please Please Me”.

Nessa época, os Beatles viviam a loucura de Hamburgo. Apresentavam-se na cidade alemã desde 1960. Lá moraram espeluncas, contraíram dívidas em bares e, sobretudo, chegaram a tocar sete horas por noite — menos aos sábados, quando a carga horária, claro, aumentava. No momento em que deixaram a Alemanha, o grupo estava prestes a virar febre mundial.

Com a inconfundível foto de McCartney, Lennon, Harrison e Starr em preto e branco feita pelo fotógrafo Robert Freeman, "With The Beatles" traz as primeiras composições assinadas pela dupla Lennon-McCartney. Há que se ressaltar ainda “All My Loving”, clássico de Paul, e a releitura de “Roll Over Beethoven", hino do rock criado pelo guitarrista Chuck Berry.

Ou seja, a fita é, para os fãs do grupo, uma relíquia. Ao escutá-la, parece que os Beatles estão na sala: tudo claro ali, talvez brilhante, tal e qual os melhores momentos dos Fab Four. Um trecho de “Money (That's What I Want)” viralizou nas redes sociais entre os beatlemaníacos.

Em sua conta no Instagram, Frith conta que tem a fita há mais de 10 anos. O empresário canadense Jack Herschorn levou-a de Londres para Vancouver nos anos 1970, mas desistiu de lançá-la em razão de direitos autorais. Resolveu então arquivá-la, deixá-la no canto até sabe-se lá quando, aí o proprietário da Neptoon Records a adquiriu.

De início, achou que se tratava de obra pirateada. Depois, todavia, surpreendeu-se: “qualidade de disco”, constatou. Frith falou que não irá vender a fita valiosa, porém daria uma cópia para a Decca ou, de acordo com seu depoimento à “Billboard”, entregaria a Paul McCartney se o ex-beatle passasse na porta da Neptoon Records, em Vancouver.

Qualidade

“Eu peguei essa fita anos atrás e dizia ‘Beatles Demos’. Apenas imaginei que era uma fita de disco pirata. Depois de ouvi-la ontem à noite pela primeira vez, parece master”, disse. Sabendo de sua “qualidade irreal” e sem equipamento para escutá-la, Frith a mostrou ao amigo Larry Hennessey, experiente em preservação musical. Decretaram: valiosíssima.

Nos anos 1990, McCartney revelou a existência de uma fita com jam session entre ele e Lennon. Gravado em 1974, num estúdio em Los Angeles, nos EUA, o material despertou interesse nos fãs por ser o único, até então, que reunia os dois músicos em estúdio após o término dos Beatles — oficialmente, a banda se dissolvera quatro anos antes.

Durante os anos 1960, os Beatles lançariam bases para a cultura pop. Bob Dylan se impressionou com a sonoridade do grupo. “Eles estavam fazendo coisas que ninguém fazia”, afirmou o trovador folk, anos depois da beatlemania. O poeta beat Allen Ginsberg, por sua vez, pulou da cadeira alucinado quando escutou “I Want to Hold Your Hand”.

Leia também:

Banner
Banner
Banner

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias