Formação clássica dos Titãs botará pé na estrada em 2023
Marcus Vinícius Beck
Publicado em 17 de novembro de 2022 às 15:32 | Atualizado há 2 anos
Os Titãs, que demoliram a ordem social, a política, o estado, a igreja, a família e o capitalismo, anunciaram ontem que retornarão aos palcos com formação consagrada em “Cabeça Dinossauro” (1986). Já era esperado pelos fãs, pois os músicos, na semana passada, mudaram as fotos dos seus perfis nas redes sociais para uma imagem em preto e branco. “Será que eu estou pensando o que você está pensando”, escreveu Miklos, na ocasião.
Em entrevista coletiva realizada em São Paulo, Arnaldo Antunes, Nando Reis, Branco Mello, Sérgio Britto, Tony Bellotto, Charles Gavin e Paulo Miklos responderam a perguntas de jornalistas sobre o projeto. “Sempre tivemos uma relação de respeito e admiração uns pelos outros. Isso permanece até hoje, mesmo com todas as diferenças e mudanças que aconteceram”, diz Branco, que trata um câncer. Mesmo assim, ele participará dos shows.
A turnê começará no Rio de Janeiro, em 28 de abril de 2023, e os ingressos estão à venda hoje a partir das 18h. Goiânia, até o momento, não faz parte da agenda dos roqueiros paulistanos. Já Brasília, a 209 quilômetros da Capital goiana, onde tocarão no Mané Garrincha, integra a turnê (veja box). Bilhetes do primeiro show, informa a banda, custam entre R$ 45 e R$ 450.
Expoente do punk brasileiro, os Titãs são fenômenos sem igual no mundo. No início dos anos 80, quando lançaram hits como “Sonífera Ilha” e “Televisão” antes de destruírem os cinco pilares da ordem social, a banda era composta por nove integrantes, numa ousadia aos trios e quartetos em alta no período, como Paralamas do Sucesso, Legião Urbana e Barão Vermelho: parecia uma desorganização bonita aquele tanto de músico espalhado pelo palco.
Eram nove compositores. E prontos para tocar qualquer projeto. Pensou em outro grupo assim pelos trópicos? Renato Russo, o maior frontman daquele rock dos anos 80, comandou o legionário centro criativo. Sem Marcelo Nova, por exemplo, seria impossível imaginar o Camisa de Vênus. Mas os Titãs, que sofreram o primeiro desfalque em 92, ano em que saiu Arnaldo, ainda continuaram pulsando sem Nando Reis, Paulo Miklos e Charles Gavin.
Com repertório marcado por hits matadores, o show levará o público a um passeio por diferentes momentos da história. “Nossas músicas mais antigas envelheceram muito bem. Não são circunstanciais. Até porque falamos de questões que dificilmente são ou serão superadas, com muita propriedade. Fizemos músicas sobre questões sociais, de amor, de reflexões sobre a vida. Todas têm uma qualidade que permitiu que sobrevivessem ao tempo”, analisa Sérgio Britto, durante a coletiva no espaço Central, na Praça da Bandeira.
Resgate de vocação
No caso dos shows em comemoração às quatro décadas de carreira, soma-se o fato de a formação clássica titânica prometer resgatar a vocação de tocar em grandes arenas. A ideia é valorizar o próprio vocabulário estético do grupo para que a personalidade do som, multifacetado e reconhecido pela crítica, consiga se sobressair e fazer com que cada um dos concertos seja um evento especial aos músicos e, principalmente, aos fãs da banda.
Segundo o baterista Charles Gavin, a ideia é que o reencontro nos palcos gere novas dimensões à qualidade do som tocado pelos Titãs, que se apresentaram em Goiânia no mês de julho último, no Flamboyant In Concert, em forma de trio com Tony Bellotto, Branco Mello e Sérgio Britto. O músico revela ainda que essa energia entre eles deu a tônica à sessão de fotos para divulgação da turnê, feitas por Bob Wolfenson, e que mostra uma conexão entre eles mesmo depois de anos sem tocarem. “Vai ser pra lá de especial, certamente”, diz.
“Não seria exagero afirmar que quando a gente se junta, a ignição é espontânea, elétrica, inevitável. É fato. Quem estava na sessão de fotos também percebeu. Dá pra sentir os megawatts circulando pelo ar. Agora, cabe a nós canalizar isso no palco”, completa Gavin. Bellotto acredita que, quando subirem aos palcos e caírem na estrada, tudo irá fluir com simplicidade, como se estivessem de volta aos anos 80. “Até mais leve, porque agora tem essa característica de celebração”, pontua o guitarrista, autor da romântica “Isso”.
Além de Arnaldo Antunes, Nando Reis, Branco Mello, Sérgio Britto, Tony Bellotto, Charles Gavin e Paulo Miklos, a banda foi composta também pelo guitarrista Marcelo Fromer, morto após ser atropelado em São Paulo, em julho de 2001. Frommer, no entanto, será homenageado pelos amigos. Fora as composições assinadas por ele, que estarão no setlist, a turnê “Titãs Encontro” contará com a presença da filha do músico, a cantora Alice Fromer.
“Nas poucas vezes em que reencontrei os Titãs nos palcos (na gravação do Acústico MTV, na turnê com Paralamas, na comemoração dos 30 anos) depois da minha saída, foi sempre uma emoção regada a muitas risadas, lembranças, histórias compartilhadas e afetos. Agora, com essa turnê de dez shows pelo Brasil, teremos a oportunidade de conviver um pouco mais com essa cumplicidade que não se extingue”, recorda-se Arnaldo Antunes, em coletiva.
Disco favorito
Nando Reis, em entrevista ao Diário da Manhã na ocasião em trouxe a turnê “Nando Hits” para Pirenópolis (GO), enfatizou seu disco favorito dos Titãs: “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”, lançado em 1987. “É um disco equilibrado, bem resolvida a equação sonoridade, arranjo, composição e repertório”, disse. Mais até, confessou, que o elepê “Õ Blésq Blom”, apesar de ter simpatia pelo furioso “Tudo Ao Mesmo Tempo Agora”. “São quatro discos extraordinários, mas eu incluiria o ‘Go Back’, mesmo sendo um disco ao vivo.”
A pré-venda começa hoje, a partir das 18h, no site www.titasencontro.com.br. “Certas coisas não sabemos como começam… Eu sinto essa emoção. . Subir ao palco, tocar com eles coisas que fizemos, voltar a tocar contrabaixo… Quando comentei isso com meus filhos, eles enlouqueceram. A produção de todos que estão aqui a meu lado sempre foi de altíssimo nível. Então assim, nós somos foda.” Esse é, Nando, o sentimento dos fãs.
Veja as datas da turnê ‘Titãs Encontro
28 de abril: Jeneusse Arena, Rio de Janeiro
Ingressos: R$ 45,00 a R$ 380,00
29 de abril: Expo Minas, Belo Horizonte
Ingressos: R$ 125,00 a R$ 340,00
5 de maio: Hard Rock Live, Florianópolis
Ingressos: R$ 125,00 a R$ 380,00
6 de maio: Beira-Rio (anfiteatro), Porto Alegre
Ingressos: R$ 70,00 a R$ 380,00
27 de maio: Arena Fonte Nova, Salvador
Ingressos: R$ 90,00 a R$ 280,00
2 de junho: Classic Hall, Recife
Ingressos: R$ 90,00 a R$ 280,00
3 de junho: Marina Park, Fortaleza
Ingressos: R$ 90,00 a R$ 280,00
7 de junho: Arena BRB – Mané Garrincha, Brasília
Ingressos: R$ 110,00 a R$ 380,00
10 de junho: Pedreira Paulo Leminski, Curitiba
Ingressos: R$ 125,00 a R$ 380,00
17 de junho: Allianz Parque, São Paulo
Ingressos: R$ 45,00 a R$ 380,00