A temperatura subiu um pouco e a insistente chuva que transformou o Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo, em um lamaçal nos últimos dois dias de Lollapalooza deu uma trégua —momento perfeito para Gilberto Gil entrar em cena e mostrar sua sequência de músicas solares para um público que finalmente pôde tirar as capas de chuva.
O artista baiano fez uma apresentação que esta edição precisava ter. Este domingo é o último dia de um festival que sofreu como nunca com cancelamentos de artistas, substituições às pressas e um line-up muito criticado.
No palco, hoje acompanhado de poucos familiares, ao contrário da turnê recente "Nós, A Gente", Gil teve um efeito parecido com o show dos Titãs, que fechou o sábado.
A apresentação mostrou um artista que, é claro, canta sobre seus tempos —mas passa longe de se limitar a eles. As músicas e a figura de Gil hoje, assim como as dos Titãs, dobram esse conceito e conversam com até a pessoa mais jovem da plateia.
"Vocês tomaram conta da música mundial, hein, molecada? Aficionados, devotados. Viva a juventude brasileira", disse Gil, em resposta ao calor do público do palco Samsung Galaxy, que dançou e cantou todas as músicas do baiano.
Foi um começo de noite alegre e otimista no autódromo, com o público celebrando momentos em que Preta Gil aparecia no telão, que o patriarca pedia um tempo para arrumar o seu cinto e também quando mais um dos muitos sucessos do artista, como "Realce", "Vamos Fugir", "Andar com Fé" e "Palco", começava.
É como se Gil esticasse sua família para além dos laços sanguíneos do palco e incluísse na conta a plateia, que o trata com familiaridade e reverência ao mesmo tempo.
"O amor está acima de todas as questões humanas. É a substância redentora, é o que faz com que a gente viva e continue querendo viver", reagiu o artista a um dos vários "eu te amo" cantando pelo público. Mais tarde, no fim do show e antes de cantar "Tempo Rei", respondeu à mesma declaração com um "Eu sei. Prova disso é que vocês estão aqui".