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Artes cênicas

Goiânia faz 90 anos com cena teatral efervescente

Em reportagem especial, Diário da Manhã levanta história dos personagens principais que fizeram e fazem a história do teatro em Goiânia

Ao centro, Antenor Pinheiro como “Goianinho”, peça de Cici PInheiro - Foto: Divulgação Ao centro, Antenor Pinheiro como “Goianinho”, peça de Cici PInheiro - Foto: Divulgação

Contar a história das artes cênicas nestes 90 anos de existência de Goiânia se torna importante tanto do ponto de vista histórico, dos que foram fundamentais para o crescimento e evolução do teatro na Capital, e já não estão mais entre nós, como dos que continuam por aí na arte de contar histórias através da dramaturgia.

E com a contribuição destes que continuam a labutar na arte de encenar que resolvemos desenvolver este texto, até porque muitos estiveram com aqueles que desbravaram a construção da arte de representar na nossa metrópole.

Entre os mais citados pelos produtores culturais como importantes para a evolução das artes cênicas em Goiânia aparecem Cici Pinheiro, João Bennio, Otavinho Arantes, na primeira fase; Hugo Zorzetti, Carlos Fernando Magalhães e Marcos Fayad, na segunda.


		Goiânia faz 90 anos com cena teatral efervescente
Cici Pinheiro. Foto: Arquivo

Outros nomes, com contribuição mais recente para o crescimento do teatro na Capital, também aparecem nesta lista: Ademir Faleiros, Júlio Vilela, Odilon Camargo, Leo Pereira, Barale Neto, Divanir Pimenta, Sandro de Freitas, Delgado Filho, Sandro de Lima, Nilton Rodrigues, Mauri de Castro, Pedro Zorzetti, Ilson Araújo, Samuel Baldani, Semio Carlos, Luiz Claudio, Danilo Alencar e Marília Ribeiro entre outros tantos que ainda aparecerão nesta reportagem.

Pioneiros

Vamos começar pelos mais antigos, os chamados pioneiros. João Bênio, por exemplo, é mais conhecido pelo seu trabalho no cinema em Goiás, mas teve um trabalho importante para as artes cênicas na Capital. Bennio foi o criador do Teatro de Emergência que funcionava ali no antigo Cine Ouro, no Centro de Goiânia. O teatro foi fundamental na década de 60 para fomentar as artes cênicas na capital, lembra o teatrólogo Nilton Rodrigues.

Com o monólogo “As mãos de Eurídice”, que Bennio trouxe de São Paulo em 1955 onde atuava, apresentado pela primeira vez no salão do antigo Jóquei Clube de Goiás, ele se instalou em Goiânia. E formou o grupo de teatro amador, Companhia Bennio e Seus Artistas. Posteriormente, construiu o Teatro de Emergência, inaugurado em 1962. Durante a sua existência, o teatro foi o principal centro cultural de Goiás, acolhendo artistas da música, escultura, poesia, literatura e teatro amador. Em 1969, em plena ditadura militar, o teatro foi demolido sob a alegação de que ali se reuniam subversivos.


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Marcos Fayad. Foto: Arquivo

Outra teatróloga importante nesse processo histórico foi Cici Pinheiro, que atuou também na produção de teleteatro na capital. Nas décadas de 60 e 70, esta goiana de Orizona foi pioneira ao fundar a primeira Companhia de Teatro Profissional de Goiás. Dirigiu e produziu as primeiras novelas no estado, dentre elas “"Do outro Lado da Vida”, pela TV Goiânia, e "A Família Brodie", pela TV Anhanguera. No Teatro Inacabado da AGT do também importante Otavinho Arantes, encenou diversas peças teatrais. Foi pioneira também no teatro infantil com a série de peças com o personagem “Goianinho”, vivido pelo sobrinho-filho, Antenor Pinheiro.

“Com seu personagem ‘Goianinho’ ela tinha vivência teatral em várias situações sociais, meio ambiente, educação etc. Ela criou o Goianinho vai a Flora, Goianino vai ao Dentista, entre outras tantas histórias com focos diferentes e de interesse da sociedade. Foram criadas mais ou menos uma dez versões e eu era o Goianinho”, lembra o jornalista e perito criminal Antenor Pinheiro, durante entrevista ao “Jornal Crimeia” em julho de 2010.

Fechando o trio dos mais antigos destacamos ainda Otavinho e seu Teatro Inacabado da AGT, a Agremiação Goiana de Teatro. O teatro que construiu fica ali na Avenida Anhanguera, quase em frente ao Lago das Rosas, e está novamente abandonado.


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João Bennio. Foto: Arquivo

Otavinho, também goiano, dedicou sua vida às artes cênicas. Nasceu em Trindade, em 1922, e morreu tragicamente em 1991, aos 69 anos, num atropelamento em Brasília, onde estava lutando por verbas para sua AGT, a Agremiação Goiana de Teatro fundada por ele em 01 de maio de 1946.

Desde sua fundação a AGT contribuiu para o desenvolvimento do teatro em Goiânia. Entre 1963 a 1978 teve seu auge com a produção e apresentação de vários espetáculos. O Teatro Inacabado foi importante também ao trazer para a capital grandes produções nacionais da época.

Outras gerações

Depois de um passeio por três personagens dos primórdios da história das artes cênicas em Goiânia, outros três personagens se destacaram nas décadas posteriores. São eles: Hugo Zorzetti, Marcos Fayad e Carlos Fernando Magalhães.

Hugo Zorzetti, lembra a teatróloga Marília Ribeiro, da Cia Novo Ato, teve papel fundamental no crescimento das artes cênicas na capital.. “Hugo Zorzetti foi fundamental. Ele é um mestre, um gênio, é um comediógrafo dos melhores do Brasil. Ele tem uma habilidade para escrever para teatro inigualável. Foi o criador do curso de Artes e Cênicas da UFG. Criou o Teatro Exercício há mais de 30 anos que produziu várias peças. Fomentou o teatro. É uma pessoa além da teoria. Tinha um conhecimento teatral muito profundo. Tive a honra de ter aula com o Hugo. Ele sabia ensinar. Era um gênio”, frisa Marília.

Marcos Fayad, oriundo de Catalão, trabalhou no eixo Rio-São Paulo antes de entrar para a história da Capital com as produções oriundas do seu projeto Martim Cererê que teve várias versões e ganhou o mundo, além de outras produções criadas posteriormente por ele como ator, produtor e diretor.

O teatrólogo e professor do Curso de Produção Cênica do Itego Basileu França, Rafa Ribeiro Blat, afirma que, para ele, Marcos Fayad foi um marco histórico de antes e depois da sua vinda para Goiânia com a construção do Centro Cultural Martim Cererê. Cita ainda Ademir Faleiros que “foi mais que um artista, um grande agitador cultural, um dramaturgo, um anarquista e provocador da sua própria arte”, frisa.


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Teatro inacabado. Foto: Arquivo

Rafa Blat ressalta ainda a importância de Hugo Zorzetti por ser um dos fundadores do curso de Artes Cênicas da UFG. “Deixou um imenso legado além do curso de Artes Cênicas da UFG. Seus livros sobre história do teatro de Goiás, suas comédias. Entrou no hall dos grandes comediantes do Brasil. Formou atores e sua companhia resiste com mais de 40 anos de estrada”, diz. Além destes, ressalta a importância de Pedro Zorzetti, irmão de Hugo, na formação de atores na capital.

Outro diretor atuante da cena teatral atual, e que participa dela desde a década de 70, Nilton Rodrigues, além de citar os pioneiros João Bennio, Cici Pinheiro e Otavinho Arantes, de lembrar da importância de Marcos Fayad, e HUgo Zorzetti com quem trabalhou no Teatro Exercício, traz novos nomes importantes para a Cena cultural goianiense, entre eles Carlos Fernando Magalhães e o Teatro Laboratório.

“Carlos Fernando Magalhães, do Teatro Laboratório, um pesquisador da linguagem e uma mente ligada à pesquisa histórica, cuja contribuição lamentavelmente não é maior porque, após sua morte trágica, restam textos inéditos, perdidos em alguma gaveta. Carlos Fernando era um talentoso e zeloso diretor teatral que nos brindou com belos espetáculos, entre os quais destacou O Apocalipse segundo São João (se não me falha a memória), um dos mais tocantes espetáculos teatrais que pude assistir. Antônio Carlos dos Santos, Divanir Pimenta, Marcelo Arcinethe, Sandro de Lima, Reginaldo Saddi, Eduardo Jordão, são alguns nomes que me vêm à memória quando penso no teatro goianiense”, lembra.

Já Delgado Filho, do Grupo de Teatro Arte e Fogo, reconhece a importância de todos os já citados, mas acha importante destacar também aqueles artistas que, além de trabalhar com arte, lutam por políticas culturais para a categoria. “Ademir Faleiros, Barale Neto, Leo Pereira, Marley de Freitas, Carlos Moreira, Euripedes Oliveira, Semio Carlos, Mauri de Castro, Édson Fernandes, Norival Berbari, entre tantos outros. São pessoas que sempre produziram e lutaram por políticas culturais para o teatro e fizeram muito, em uma fase mais recente, pelas artes cênicas nestes 90 anos da Capital”, conclui.

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