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Entrevista - Gerson Fogaça

"Goiás possui uma cena artística e cultural diversificada"

Artista fala sobre boom nas artes visuais vivido por Goiás com chegada da Cerrado Galeria

Gerson Fogaça - Foto: Divulgação Gerson Fogaça - Foto: Divulgação

Um dos artistas goianos mais importantes, Gerson Fogaça esteve sob os holofotes quando a exposição “O Sangue no Alguidá, Um Olhar Desde o Realismo Sujo Latino-Americano”, dele e do escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez, foi censurada no Museu dos Correios. Desde então, Fogaça continuou pintando, criando e inventando, tanto que, nos próximos dias, irá abrir exposição junto com o poeta Nicolas Behr, autor identificado com a poesia marginal. Ao Diário da Manhã, para reportagem que analisa o boom vivido nas artes visuais goianos atualmente, Gerson Fogaça fala sobre suas impressões da chegada da Cerrado Galeria, diz se o empreendimento vai ou não profissionalizar a cena e revela artistas para os quais é necessário ficar de olho. A seguir, veja a íntegra da conversa:

Como anda o panorama das artes visuais em Goiás?

Goiás possui uma cena artística e cultural diversificada, com uma rica tradição nas artes visuais, mas nos falta. A região carece de infraestrutura cultural para abrigar exposições, eventos e atividades relacionadas às artes visuais. As ações acontecem de forma isolada, sem que o estado se comprometa de verdade na manutenção e coordenação dos espaços culturais já existentes. Um exemplo disso é o Centro Cultural Oscar Niemeyer. É um lugar incrível, com uma estrutura invejável, mas tá lá, paradão, sem ser utilizado. É uma pena, porque poderíamos aproveitar tudo aquilo pra impulsionar a cultura e as artes visuais por aqui.

Quais são os artistas que, para você, se revelam grandes surpresas do meio artístico local?

Com certeza, existem vários artistas locais que se revelam surpresas no meio artístico. É difícil escolher um único nome, pois são muitos os talentos que merecem destaque. Alguns nomes que vêm chamando atenção são Estêvão Parreiras, André Felipe Cardoso, Hariel Revignet e Lina Cruvinel. Cada um deles possui uma abordagem muito interessante em suas obras, contribuindo de forma significativa para a cena artística local.

O que uma galeria do tamanho da Cerrado pode acrescentar à cena das artes em Goiás?

Uma galeria da importância da Cerrado pode trazer benefícios significativos para a cena das artes em Goiás. Ela tem o potencial de atrair variadas correntes artísticas , diversificar a oferta cultural e promover o acesso às artes visuais para um público mais amplo. Além disso, pode funcionar como um centro de referência artística, estimulando o desenvolvimento local e promovendo o diálogo entre artistas e público. No entanto, é necessário aguardar para ver como a Cerrado se desenvolverá e influenciará a cena artística por aqui.

Há uma visão um tanto equivocada espalhada pela imprensa nacional de que, com a Cerrado, Goiás se insere no cenário das artes a nível nacional. Você acha que a Cerrado pode “quebrar” esse preconceito, ou simplesmente irá, por ser paulistana, reforçá-lo?

Acho que a Cerrado pode trazer uma vibe legal pra cena artística local. Ela pode ajudar a diversificar o circuito cultural e valorizar as produções artísticas locais, o que é super importante. Além disso, pode quebrar aquele estereótipo de que só o pessoal das grandes cidades manda bem nas artes. Mas é bom lembrar que o sucesso da Cerrado vai depender de como ela se conecta com os artistas da região. Se rolar uma parceria bacana, com apoio e envolvimento dos artistas locais, a galeria tem tudo pra ser um espaço inclusivo e aberto a diferentes formas de expressão artística. No fim das contas, a Cerrado tem potencial pra fazer uma diferença positiva na cena artística de Goiás. Vamos torcer pra que ela se integre bem com a galera e se torne um lugar onde a diversidade cultural é valorizada. Isso seria incrível!

Podemos dizer que existe um boom na cena local que relembre de alguma forma o movimento que rolou nos anos 1980, quando em Goiânia havia artistas, marchand, galeristas, colecionadores e galerias, ou seja, todo o ecossistema completo estava aqui?

Dá pra dizer que tá rolando um movimento legal na cena artística de Goiás, meio que lembrando aquela época dos anos 80. Naquela época, tinha um monte de artistas, galerias, marchands e colecionadores aqui em Goiânia. Era um ecossistema artístico bem completo. Mas a real é que o momento agora é diferente. Não dá pra comparar direito. A gente vive em um mundo contemporâneo, com novas tendências, tecnologias e formas de expressão artística. As coisas mudaram bastante desde os anos 80. Apesar disso, é legal ver esse novo boom na cena local. Tem uma galera talentosa produzindo arte incrível por aqui. E, aos poucos, acredito que o ecossistema artístico vá se fortalecendo e se expandindo. É um processo, mas a gente tá no caminho certo. Então, é isso. Embora não dê pra comparar diretamente com os anos 80, temos que valorizar esse momento atual e acompanhar de perto o crescimento da cena artística local.

Por fim, é importante dizer que nos últimos anos enfrentamos um período de desvalorização das artes e um descaso por parte daquele governo em relação à cultura. Houve um contexto de obscurantismo, o que resultou em dificuldades para o desenvolvimento pleno da cena artística. No entanto, com a esperança de um novo governo e uma nova visão para a cultura, temos a expectativa de que haja melhora no cenário.

Pensando em termos de profissionalização, anda-se dizendo que a Cerrado talvez profissionalize o meio das artes. É preciso, de fato, profissionalizá-lo?

A profissionalização do meio das artes não depende apenas de uma galeria, como a Cerrado. É um processo complexo que envolve diversos agentes e requer mudanças estruturais, políticas consistentes e investimentos. Embora a Cerrado possa contribuir oferecendo oportunidades para artistas e promovendo debates, é necessário o engajamento de artistas, instituições e do poder público para criar um ambiente propício à profissionalização. A transformação requer esforços conjuntos e uma visão ampla do campo das artes.

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