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Gravadora reedita disco de Chico Buarque em vinil

Em algumas faixas de "Carioca", ouvinte sente um Rio de Janeiro sofrido, porém deliciosamente criativo

Imagem ilustrativa da imagem Gravadora reedita disco de Chico Buarque em vinil

A gravadora Biscoito Fino reedita em vinil o disco “Carioca”, lançado pelo cantor e compositor Chico Buarque em 2006. Foi o primeiro álbum de inéditas feito por ele em sete anos - o último tinha sido “A Cidades” - e também marcou a estreia de Chico pelo novo selo. Carioquíssima do título às músicas, a obra simboliza retorno buarquiano ao universo do Rio, ao samba encantador tocado em “Subúrbio” e ao lirismo comovente de “Dura na Queda”.

Chico confessou, na época, que estava muito feliz com o disco. Desde “As Cidades”, o compositor se dividia entre literatura e música, mas explicava que ambos os ofícios não coexistiam. Se escrevia, não compunha. Caso compusesse, escrever para quê? E, por isso, voltar à criação de canções não foi tarefa das mais fáceis. “Quando escrevo não há espaço para música ou violão, que fica guardado na caixa”, revelou à jornalista Regina Zappa.

O fato é que, entre um disco e outro, Chico Buarque concentrou suas forças criativas, especialmente, no ato de escrever. De cara, criou um best-seller, “Budapeste”. A obra mostra duas mulheres, dois livros e dois idiomas e, além do interessante personagem José Costa (ghost-writer), revelou talento para construir narrativas densas daquele artista dono dos olhos verdes tão sedutores quanto costuma ser uma piscadela recebida durante o flerte.

Não por acaso, virou filme pelas lentes do cineasta Walter Carvalho, com Leonardo Medeiros e Giovanna Antonelli. Chico, então, estava distante do cancioneiro que, censurado pela ditadura, recorrera ao pseudônimo Julinho Adelaide. Acredite ou não, Julinho apareceu na praça, ou melhor, saiu numa entrevista publicada pelo jornalista Mario Prata, numa dessas leituras veiculadas na imprensa que fazem rir até o mais sério dos homens.

Findado o livro, por que não criar um disco? Ok, pode ser que não tenha sido assim, simples. Mas um retorno de Chico à música é - sim - notícia, como vem sendo a turnê “Que Tal um Samba?”, na qual percorre o Brasil na companhia da cantora Mônica Salmaso. Com “Cariocas”, em 2006, abraçou a poesia do Rio de Janeiro, belo mas injusto que só ele é.

Em algumas faixas, sente-se um Rio sofrido, porém deliciosamente criativo. Pois, como sabe-se, é de lá Garrincha e foi lá que o texto de Rubem Braga e Paulo Mendes Campos aclimatou-se nos botequins. “Foi um acaso. Quando comecei eram canções soltas. Eu não tinha muito uma ideia de unidade, enquanto estava fazendo o disco”, contou Chico, durante entrevista a Regina Zappa, autora da biografia “Chico Para Todos” (R$ 42, na Amazon).

“No final, quando escrevi a música ‘Subúrbio’, reparei que o Rio estava muito presente. Nas letras e também nas músicas, nos ritmos. A maioria das canções era muito carioca. Isso não foi buscado, foi acontecendo”, disse. Cada canção esbanja elegância pelo balanço, pelas letras capazes de fazer escorrer lágrimas e por uma presença que ,por si, só já faz valer o valor salgado do elepê relançado pela Biscoito Fino (R$ 250,00). Chico Buarque é necessário.

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