Aguardado pelos fãs, o novo título da franquia “Grand Theft Auto” agitará neste ano o mercado de games. “GTA 6” ainda não tem data de lançamento confirmada, porém se especula nos corredores da Rockstar que o produto chegará às lojas no segundo semestre.
O frisson que se formou sobre o jogo foi puxado pelo gigantesco sucesso de “GTA 5”: mais de 200 milhões de cópias vendidas. Só perde para “Minecraft”: pelo menos 300 milhões de cópias vendidas. Por isso, a franquia “GTA” é um fenômeno cultural de nosso tempo.
Talvez a expectativa pelo lançamento de “GTA 6” encontre justificativa no momento por que passa a indústria de games. 2024 não foi um ano fácil. Entre janeiro e dezembro, houve demissões em série, estúdios fechados e projetos cancelados. Daí, então, os principais candidatos ao jogo do ano fracassaram e os títulos de nicho se sobressaíram nesse marasmo.
Para o professor de mídia Mike Fischer, “GTA 6” transformará o futuro dos games ao criar enorme vácuo na indústria. Ele diz que muitas empresas devem sofrer com a competição, pois é provável haver jogadores com pouco tempo e dinheiro para outros lançamentos.
Fischer, catedrático na University of Southern California, nomeia tal impacto cultural de “radiação GTA 6”. “Espero que haja um público maior como resultado, mas é literalmente um território desconhecido, então teremos que esperar para ver”, afirma Fischer, cauteloso.
Próximo da Rockstar, o portal “Game World Observer” traz reflexões elementares construídas pelo pesquisador, nas quais ele fala, dentre outras coisas, da época em que “Fallout 4” saiu e a Microsoft empenhava seus esforços em “Tomb Raider”. Embora sejam diferentes, segundo o especialista, “Fallout” estrangulou a demanda por “Tomb Raider”.
Fischer se mantém contundente: “Quando a Rockstar lançar ‘GTA 6’, nunca haverá um jogo tão grande, tão envolvente, tão incrível, tão abrangente quanto ele.” Tem razão, o professor. O mapa, dessa vez, será enorme, levando os fãs da franquia para a fictícia Vice City, cidade inspirada em Miami, com seus pântanos baseados em Everglades, na Flórida.
Em “GTA 6”, a metrópole ressurge luminosa. Aos nossos olhos, já acostumados com cinema de Brian de Palma, Martin Scorsese e Quentin Tarantino, pululam assaltos cinematográficos, carros luxuosos guiados por motoristas ricos e engazopados, lanchas rápidas mar adentro transportando corpos artificiais e casas noturnas guardando todo o tipo de loucura química.
No som — em um volume altíssimo —, o cantor norte-americano Tom Perry canta seu pop-rock “Love Is a Long Road”, lançado originalmente em 1989. Trilha sonora convincente, ideal para Miami. Que, a gente sabe, jamais esteve tão nítida, cintilante, como em “GTA 6”.
Nisso, a protagonista Lúcia chega à ação para iniciar o arco narrativo. Pouco dela sabemos, todavia. Apenas sacamos que está saindo da prisão e, fora do xilindró, embarca numa sequência de assaltos com um parceiro chamado Jason, sujeito crente para o que der e vier.
Ambos são latinos num mundo de fantasia líquida. Ambos são latinos num mundo de luxo fácil e redes sociais. Ambos são latinos, simplesmente. São latinos no sonho americano. Latinos fodidos, sem grana, em busca de um lugar naquelas famosas boates brilhantes.
Caracterização
A Rockstar já ouviu poucas e boas acerca da maneira com que representa a comunidade latina em sua franquia. Ela gosta de mexer no vespeiro identitário. Em “Vice City”, o protagonista Tommy Vercetti (ex-integrante da máfia de Liberty City, a Nova York do jogo) provoca guerra entre haitianos impiedosos e cubanos sanguinários. Deu ruim, claro.
Como precisava dar um jeito nas críticas, restou uma opção: sacar das ruas de “Vice City Stories” os haitianos para botar nelas os mexicanos. Mesma coisa do antecessor: tráfico de drogas, porradas com cubanos, treta generalizada. No entanto, o protagonista, Victor Vance, era cabo do exército norte-americano cooptado para o crime pelo coronel Jerry Martinez.
Era auge da Era Reagan, guerra pelo controle do narcotráfico, cocaína colombiana e boliviana nas ruas. “Vice City Stories” se passa em 1984, dois anos antes de “Vice City”. Mas a referência maior dos dois jogos é o filme “Scarface”, com Michelle Pfeiffer no papel da deslumbrante Elvira Hancock e Al Pacino vivendo o expatriado cubano Tony Montana.
De fato, em “GTA 6”, a escolha por Lúcia levou parte da comunidade gamer a espernear na web. Influencers conservadores chegaram a profetizar o fim da consagrada trama, como se o estúdio Rockstar Games — de uma hora pra outra — fosse acabar com o mundo livre e nos impedisse de explorar a metrópole em 4K. Só esqueceram de que a franquia é conhecida, desde os anos 2000, pelo humor com o qual retrata o capitalismo dos Estados Unidos.
Possivelmente haverá em “GTA 6” sátira ao governador da Flórida, Ron DeSantis, ou aos endinheirados que moram em Miami e seus amigos poderosos. A cidade ao sul da Flórida, afinal, foi recriada na franquia de forma espalhafatosa em outras duas oportunidades. Conforme os sites “Geekinout” e “Play-Asia”, o game entrará na pré-venda em breve.