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Música latina

Horacio "El Negro" Hernandez, reverenciado lá fora, faz show em Brasília

Percussionista talentoso e inovador, artista dividiu palco com nomes como Carlos Santana e Jack Bruce, ex-Cream

Horacio “El Negro” Hernandez une improviso de jazz a ritmo afro-cubano Horacio “El Negro” Hernandez une improviso de jazz a ritmo afro-cubano

Eis que Horacio “El Negro” Hernandez, 61, me pegou quando senti sua baqueta repousando na caixa da bateria. Assisti a viradas espetaculares, peripécias percussivas, latinidade rítmica. Pirei nesse som, pirei nesse cara, pirei nesse groove. Enlouquecedor.

Horacio se apresentará na segunda-feira, 14, no Teatro dos Bancários, em Brasília, às 19h. O célebre baterista cubano combinará técnica apurada, musicalidade suingada e inspiração artística, num espetáculo de improviso viabilizado pela Harmonia Musical.

Para o instrumentista, a bateria precisa ser encarada como voz, uma vez que transforma sentimentos em ritmos. “Sympathy For The Devil”, classico dos Stones, ganhou versão latina no disco “El Negro And Robby At The Third World War”, de 2002, com batuques flutuantes e piano jazzy. Arrisco-me a dizer que é das melhores releituras desse rockão endiabrado.

Nascido em Havana, Horacio vem de família musical, pois avô era trompetista. Em casa, cercou-se de discos e, desde pequeno, inclinou-se para a percussão. A capital cubana, aliás, é conhecida pelo jazz afro-cubano, estilo que mistura improviso e ritmos caribenhos ao bebop — que, por sua vez, desenvolveu-se em território estadunidense nos anos 1940.

O latin jazz se fortaleceu na ilha devido à sua localização geográfica: está a 1.079 km da portuária New Orleans, cidade de passado escravista na qual africanos chegaram aos EUA. Entre os africanismos musicais, reflete o historiador Eric Hobsbawm em “História Social do Jazz”, os escravos trouxeram complexidade rítmica, escalas não-clássicas e padrões sonoros.

Em prosa rigorosa, Hobsbawm escreve que música afro-latina-americana talvez seja única capaz de competir com jazz. Essa sonoridade, diz o intelectual, demonstra capacidade de os afro-latinos conquistarem novas culturas. “Segue seu próprio caminho, sobrepondo-se apenas marginalmente ao jazz”, teoriza o estudioso, em obra seminal para estudo de música.

Assim, portanto, devemos ouvir Horacio. Percussionista talentoso e inovador (já tocou com Carlos Santana, Stevie Winwood e Tito Puente), o músico explicou que Cuba tem tradição que não é falada pelas pessoas, porém sociedade a conhece. A idade da criança, afirma, é determinante no tamanho do instrumento que receberá para iniciar-se na música.

Quando você tem dois anos eles te dão uma chave, aos três eles te dão um bongô, aos quatro você ganha uma tumbadora, aos cinco você ganha um tímpano e aos sete ou oito você ganha uma bateria" Horacio "El Negro" Hernandez

“Quando você tem dois anos eles te dão uma chave, aos três eles te dão um bongô, aos quatro você ganha uma tumbadora, aos cinco você ganha um tímpano e aos sete ou oito você ganha uma bateria”, relatou o artista, durante passagem por Medellín, na Colômbia. Ou seja, a percussão está no DNA cubano e, de quebra, tempera a salsa.

Fissurado em jazz, Horacio foi introduzido à criação revolucionária dos negros pelo pai, que conhecia a fundo essa forma fluída de arte. Conhecia tão a fundo que fazia programa focado nesse universo. Horacio, que nasceu quatro anos após revolução socialista de Fidel Castro, diz que esse era único programa nas rádios cubanas sobre a música americana.

Se o pai adorava John Coltrane — saxofonista do amor supremo —, o irmão mais velho curtia um rock’n’roll. Beatles, claro, e Rolling Stones, com certeza, faziam a cabeça do jovem roqueiro. “Meu pai estava no mundo do jazz e, para uma criança, é música muito complicada de entender”, lembrou Horario, cujo avô escutava os sons tradicionais cubanos.

Prodígio

Na juventude, expressava preferência pela percussão. Começou com instrumentos da família, mas, logo depois, praticava em bateria emprestada. Depois, já matriculado, teve aulas com Enrique Pla, da banda Irakere, que utilizava guitarra distorcida — como se ouve em “Bacalao con Pan”. Horacio estudou também na Escola Nacional de Artes de Havana.

De lá para os palcos, foi um pulo e, não bastasse precocidade na caixa-bumbo-chimbal, juntou-se ao saxofonista Nicolas Reynoso. A banda contava ainda com o pianista Gonzalo Rubalcaba. Ambos são considerados nomes essenciais para a música cubana no século 20.

Além de artistas locais, Horacio pôs seu virtuosismo a serviço de Dizzy Gillespie, enquanto aprimorava técnica percussiva que lhe dera reputação mundial: união de jazz com afro-cubano. A partir de 1990, tornou-se referência do latin jazz na Europa. Trabalhou com Steve Turre, Gary Barts, Gary Smulyan e Mike Stern, expoente da guitarra jazzy que fez show no Bolshoi Pub, em abril. Nessa época, fundou também o grupo Tercer Mundo.

À imprensa colombiana, o baterista disse que esteve por três anos e meio com Carlos Santana. Horacio tocou no disco “Supernatural”, dos hits “Smooth” e “Corazon Espinado”, lançado pelo guitarrista mexicano em 1999. Acompanhou ainda Jack Bruce, ex-Cream. “Quando me perguntam com quem estou tocando, respondo: com todos e com ninguém”, declarou o artista, que tem oito (interessantes) discos disponíveis no Spotify.

HORACIO “EL NEGRO” HERNANDEZ

Segunda, 14, às 19h

Teatro dos Bancários

EQS 314/315 Bloco A

Asa Sul, Brasília

R$ 30 (Sympla)

Classificação: 16 anos

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