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Indicação de 'Ainda Estou Aqui' ao Oscar coroa campanha extenuante

Brasileira — como anunciava a imprensa — repete mãe e disputará estatueta de melhor atriz, em domingo de Carnaval. Filme concorre em três categorias

Ótima em cena: Fernanda Torres conquistou crítica e público mundo afora ao interpretar advogada Eunice Paiva - Foto: Valentina Herszage/ Divulgação Ótima em cena: Fernanda Torres conquistou crítica e público mundo afora ao interpretar advogada Eunice Paiva - Foto: Valentina Herszage/ Divulgação

Elogiada mundo afora pela sua atuação minimalista, a atriz Fernanda Torres, 59, coroou ontem campanha extensa com indicação ao Oscar. Ela concorre à estatueta dourada na categoria melhor atriz. “Ainda Estou Aqui” disputa filme internacional e filme do ano.

Com essas indicações, o longa virou o quinto a disputar o Oscar na categoria melhor filme internacional. É uma história que se inicia nos anos 1960 quando “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, esteve na briga. As outras produções são "O Quatrilho", em 1995, "O Que É Isso, Companheiro?", em 1998, e "Central do Brasil", também de Salles, em 1999.

Torres estava ansiosa nas horas que antecederam o anúncio feito pelos atores Bowen Yang e Rachel Sennott. Seus familiares lhe pediram para registrar a reação ao vivo. A atriz, porém, recusou. Optou por ficar sozinha em seu quarto ao mesmo tempo em que marido e filho assistiam a transmissão pelo Youtube da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

À Globo News, Torres destacou a relevância da advogada Eunice Paiva para a redemocratização. Para a atriz, a personagem à qual deu vida na tela grande “viveu tempos parecidos com o que estamos vivendo”. Eunice foi casada com o ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello), cassado, preso e assassinado pela ditadura civil-militar, em janeiro de 1971.

Segundo o escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que baseia “Ainda Estou Aqui”, Eunice advogou para anônimos e famosos. Um de seus clientes era o cantor e ex-The Police Sting. “Era prática, culta, sentada, magra, workaholic. Tudo o que não se quer de uma mãe”, escreve Marcelo, na obra. Ela morreu aos 89 anos, em 2018, após lutar contra Alzheimer.

Pelo seu papel no filme dirigido por Walter Salles, Torres se tornou a segunda brasileira indicada à categoria de atriz. A primeira foi sua mãe, Fernanda Montenegro, que competira com “Central do Brasil”, dirigido por Salles, em 1999. Quem saiu vitoriosa da cerimônia na ocasião foi Gwyneth Paltrow, que estrelara esquecível “Shakespeare Apaixonado”.

A atuação de Torres também lhe rendeu no início neste mês o festejado Globo de Ouro de melhor atriz em drama, mas ela não ficou entre as indicadas ao SAG Awards, o prêmio do Sindicato dos Atores, que costuma ser um termômetro — bastante fidedigno, aliás — para a festa máxima do cinema mundial. O mesmo aconteceu lá atrás com Montenegro, em 1999.

“Muita alegria e emoção pela indicação tão merecida da Nanda, 25 anos depois de dona Fernanda [Montenegro], e do filme. Esse é um momento de celebração não só para todos nós que fizemos 'Ainda Estou Aqui', mas para toda a cultura brasileira”, disse Salles, comovido.

O cineasta declarou que a indicação coroa a cultura brasileira: “É o reconhecimento da literatura do livro seminal de Marcelo, da música brasileira genial de Caetano, Gal, Erasmo e Tom Zé [que integram a trilha sonora do longa], do cinema brasileiro que forma atores e artistas tão incríveis quanto os que eu tive a honra de colaborar com durante o filme.”

Salles revelou ainda que as indicações não teriam ocorrido sem a “generosidade” de cineastas e atrizes, como Alfonso Cuarón, Wim Wenders, Sean Penn e Alice Braga. “Não fizemos propriamente uma ‘campanha’, e sim uma série de projeções e debates em muitos países em torno do filme. A trajetória do filme pelo mundo foi construída por uma família muito pequena de pessoas, sem festas ou jantares, falando sobre o que importa: cinema.”


		Indicação de 'Ainda Estou Aqui' ao Oscar coroa campanha extenuante
Memória viva: longa-metragem retrata violência que destruiu família na ditadura. Foto: Valentina Herszage/ Divulgação

Elogios lá fora

Influente na cobertura da indústria cinematográfica, a revista estadunidense “Variety” já havia colocado a atuação de Torres como uma das candidatas preferidas da temporada, ao lado de estrelas como Demi Moore e Cynthia Erivo, de "Wicked". A imprensa francesa se derreteu diante do filme brasileiro, exceto o jornal de centro-esquerda “Le Monde”.

Mas, como diz a canção de Jorge Ben Jor, deu no respeitado “New York Times”. A resenha assinada por Alissa Wilkinson, cujo título era “Quando a Polícia Invade uma Casa Feliz”, considerou que o longa-metragem foi “habilmente trabalhado e ricamente filmado”.

Sobrou até para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A jornalista pontuou ainda que o longa entrou em cartaz na semana em que a Polícia Federal revelara detalhes da tentativa de golpe para perpetuar o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder após as eleições de 2022. No texto, Wilkinson lembrou do fracassado boicote ao filme pela extrema-direita.


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'Ainda Estou Aqui': Fernanda Torres precisa mirar suas adversárias no Oscar. Foto: Valentina Herszage/ Divulgação

Agora, Fernanda Torres precisa mirar suas adversárias no Oscar. A brasileira disputa a categoria feminina mais importante da premiação com Cynthia Erivo (Wicked), que ganhou notoriedade nos EUA com o musical “A Cor Púrpura”; Karla Sofia Gascón (Emília Pérez), a primeira atriz trans indicada a melhor atriz; Mikey Madison (Anora), novidade em Hollywood; e Demi Moore (A Substância), talvez a grande favorita à estatueta.

A 97° cerimônia do Oscar acontece a partir das 21h do dia 2 de março, transmitida ao vivo pelo canal TNT e streaming Max. Detalhe: é domingo de Carnaval. O Brasil, desde já, tem compromisso marcado: torcer para Fernanda Torres. Será que dessa vez o País sai da seca? (Com Folhapress)

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