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Medalhões da MPB se preparam para sair de cena em 2025

Música popular brasileira proporcionará ao público momentos emocionantes no ano que se inicia

Gilberto Gil dá adeus em 2025 aos grandes shows com turnê “Tempo Rei” - Foto: Giovanni Bianco/ Divulgação Gilberto Gil dá adeus em 2025 aos grandes shows com turnê “Tempo Rei” - Foto: Giovanni Bianco/ Divulgação

O ano que se inicia haverá de transformar as velhas formas do viver. Não é preciso ser iluminado para apostar em Gilberto Gil como artista de 2025. Gil cairá na estrada com sua turnê “Tempo Rei”: ato de despedida, vida repensada, ó tempo rei.

“Tempo Rei” foi resposta de Gil à canção “Oração ao Tempo”, criada por um certo compositor de destinos chamado Caetano Veloso. Se a música desse velho camarada conterrâneo (e sobretudo contemporâneo) dava ideia de que o tempo e tudo aquilo que inventou estaria fadado a desaparecer, a letra gilbertiana fala de permanência.

Gil passou os últimos anos matutando a ideia de realizar uma última turnê. Seria sua apoteose derradeira. Amado pelos fãs e os amando de volta. A cabeça engendra reflexões sobre o mercado, a exigência física para grandes shows, o encanto das gigantescas plateias. Fustiga-lhe a chuva e o vento eterno. “Ensinai-me, ó, pai, o que eu ainda não sei”, sussurra.

Chegará perto de Goiânia, 200 km daqui, no dia 7 de julho: estádio Mané Garrincha receberá esse espetáculo certamente emocionante. Tal como na passagem do mano Caetano e mana Bethânia, é claro que vozes apaixonadas grassarão por Brasília e suas linhas modernistas.

Há uma mudança de perspectiva, dessa vez pouco centrada no plano material e mais próxima da espiritualidade. Gil cultua os orixás. Nas últimas seis décadas, ele criou trilha sonora que se enraizara na cultura brasileira, fazendo-se presente no DNA patropi, no inconsciente coletivo e nas memórias daqueles que suspiram aliviados porque amam.

Beijos apaixonados são lembranças certas no gemido derradeiro da existência. A vocação sentimental desse tropicalista de cérebro eletrônico se revela assim que estreou no acordeão, nos anos 1950. Gil era, nessa época, inspirado por Luiz Gonzaga. João Gilberto e Dorival Caymmi o levaram a se conectar com o violão — instrumento no qual se tornou mestre.

Aproximou-se ainda do roquenrol stoniano, com elepê “Expresso 2222”, lançado em 1972, e voltou-se ao sertão nordestino no disco “Refazenda”, de 1975. Quando esteve na Nigéria, país a que se dirigira nos anos 1970 para participar do 2º Festival Mundial de Arte e Cultura Negra, tateou ancestralidade estético-sonora: resulta daí o glorificado “Refavela”, de 1977.

Quero continuar fazendo música em outro ritmo, mas, antes, teremos essa celebração bonita junto do público e da família. Transformai as velhas formas do viver” Gilberto Gil, cantor e compositor

Soul e funk, black rio e direitos civis, ou sabe-se lá mais o quê, giram na vitrola há quase cinco décadas. Retratos sonoros de país ladeado pela falácia da democracia racial. Formas rítmicas e melodias pessoais. Como foi boa essa geração surgida nos festivais da canção.

Frisson entre fãs desesperados pela despedida de Gil, a turnê “Tempo Rei” condensa esse tesouro nacional para levá-lo ao palco, de modo a enaltecer e dizer adeus aos Gilbertos que o Brasil conhece: o cantor e compositor, o tropicalista que foi preso pela ditadura militar e se exilou em Londres, o ministro da Cultura, o imortal da Academia Brasileira de Letras.

Gil, todavia, garante que jamais abandonará a música: “Quero continuar fazendo música em outro ritmo, mas, antes, teremos essa celebração bonita junto do público e da família. Transformai as velhas formas do viver.” Já Flora Gil, produtora e esposa do artista, avalia: “São 43 anos de estrada, nas quais viajamos o mundo com a música de Gil.”

Mais novidades

Neste ano, a Companhia das Letras reeditará “Nada Será Como Antes”, biografia de Elis Regina escrita pelo jornalista Julio Maria em 2015. A nova versão, conforme a editora, será ampliada pelo autor com bastidores de causos ainda inéditos e até o comercial de uma montadora automobilística que usa imagem da cantora gerada por Inteligência Artificial.

Dentre os materiais que sairão na nova versão, a Cia das Letras destaca anotações de Elis para disco e turnê jamais realizados, bem como seleção de fotos. A cantora gaúcha, morta em janeiro de 1982, completaria 80 anos no próximo mês de março. Ao que tudo indica, a efeméride ainda deve ser aproveitada para justificar lançamentos de shows, discos e filmes.

Djavan se prepara para publicar novo disco de canções inéditas. Sua vida alcançará os palcos dos teatros em musical pensado para circular pelo Brasil. No mês passado, o artista alagoano disponibilizou nas plataformas de streaming o álbum-surpresa “Origem”, no qual reunira composições que antecederam o bolachão “A Voz, o Violão, a Música de Djavan”, de 1976.

Outro medalhão da música popular brasileira a ser celebrado neste ano é o pianista Ivan Lins. Ele trabalha em disco autoral e terá sua carreira revisitada em documentário com previsão de estreia ainda em 2025. Lins chega no dia 16 de junho às oito décadas de vida, mesma idade que faria em setembro próximo a diva sagrada Gal Costa.

É possível, em razão dessa data comemorativa, que o jornalista Guilherme Amado finalmente coloque nas livrarias a biografia de Gal. O título será publicado pela Cia das Letras. Para Amado, narrar história de vida é uma “responsabilidade imensa”. Chegamos ao terceiro dia de 2025 e aquela geração dos anos 1960 e 1970 se manterá ativa. Aproveitemos.

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