Moka Nascimento revisita discos de fusion no Teatro Goiânia
Marcus Vinícius Beck
Publicado em 19 de junho de 2024 às 14:45 | Atualizado há 4 meses
Bateria esguicha sangue pelas artérias da música. Alimenta divisões rítmicas e depois desacelera. Sístole e diástole. Inspira e expira. Alterna cadência com ataque, êxtase com desengano. Faz os instrumentos ao redor ganharem sentido. Une-os, uau!, num groove.
Para Moka Nascimento, bateria é alicerce que define padrão rítmico. Faz as seções sonoras conversarem entre si. “Engrena o trem. Tudo é ritmo”, ensina músico, considerado pai do rock produzido em Goiás. Moka revisita no Teatro Goiânia, hoje, a partir das 21h, sua carreira cinquentenária. Ingresso é solidário. “1 kg de alimento não-perecível”, avisa.
“O que for arrecadado será doado para o Rio Grande do Sul”, diz baterista ao Diário da Manhã. Os gaúchos, lembra, têm tradição no cenário rocker brasileiro desde os anos 70, quando surgiu o grupo Bixo da Seda. Tinha sonoridade psicodélica. Por vezes, flertava com a erudição do progressivo. Mimi Lessa, guitarrista solo, era um dos líderes criativos do quinteto.
Moka Nascimento, baterista. Foto: Jaime Fogaça
Com apoio do Fundo de Arte e Cultura (FAC), Moka conclui série de shows que já passou por três escolas públicas e pelo Mercado da 74. A apresentação no Teatro Goiânia, portanto, fecha o projeto. Sobem ao palco Emídio Queiroz (guitarra), Hulck Pontes (contrabaixo), Sávio Gonçalves (piano/sintetizador), Mokinha (bateria) e Foka (saxofone/flauta transversal).
Conforme baterista, o show conta com participação dos cantores e compositores goianos Valter Mustafé e Itamar Correia. Bororó Felipe, que acompanhou recentemente o tenor italiano Andrea Bocelli em três datas brasileiras, é outro nome confirmado no Teatro Goiânia. Suingue de referência na música popular brasileira, já excursionou com Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Edu Lobo, dentre outros artistas.
Bororó é velho conhecido. Tocou com Moka na banda Akuarius Seven, conhecida nos anos 70. Ao autor deste texto, durante extensa entrevista publicada em fevereiro, o baterista lembrou da vez em que o baixista lhe mostrara o rock de West, Bruce and Laing, “um dos maiores do mundo”. “Tinha também um disco do Santana, um do Black Sabbath, um do Led Zeppelin, um do Yes. Pensei comigo mesmo: ‘pô, vou me dar bem com esse cara’”, rememorou.
No show, haverá ainda participação da banda Alici Kompany, formada por Marly Prates (voz), Marron Fernandes (contrabaixo/back vocal), Osvaldinho (guitarra/back vocal) e William Tibúrcio (bateria). Moka afirma que o repertório será estruturado em torno dos discos “Emoções Enlatadas” e “Intuição Total”. “Ambos são álbuns de fusion”, explica.
Estilo
Segundo Moka, fusion surgiu nos anos 60. É união da improvisação e harmonia jazzísticas com rock, funk, rhythm & blues. Nesse momento, músicos de jazz passaram a utilizar instrumentos elétricos, caso de Miles Davis e Herbie Hancock. “Third Stone From The Sun”, gravada por Jimi Hendrix em “Are You Experienced” (1967), se insere no gênero. Outro exemplo é “Samba Pa Ti”, composição lançada no elepê “Abraxas” (1970), de Santana.
Moka quis ser baterista quando viu Ringo Starr. Começou a amar o bumbo, a caixa, o chimbal e os pratos, artilharias de munição afinadas cuja finalidade básica é produzir alto impacto sonoro. Acompanhou Odair José, mas também o vocalista Nasi, da banda Ira!, num projeto solo envolvendo canções de blues. E fundou, claro, a lendária Língua Solta.
No show realizado no Teatro Goiânia, o baterista revela o repertório: “Emoções Enlatadas” ( Moka/Leonardo Carmo), “Champs City” (Escurinho/Adaptação e arranjos Moka), “Cidadão Goiano” (Moka/Leonardo Carmo), “Apêlo (Moka/Waldir Andrade/Glaisson Ponce), “Mera Distração” (Soninho Dias/Moka), “O Amanhecer” (Moka/Soninho Dias) e “Cantaloup Island” (Herbie Hancock). Moka diz que lança em julho novo disco pela Monstro Discos.