Cultura

Morre lenda da guitarra Jeff Beck, aos 78 anos

Marcus Vinícius Beck

Publicado em 11 de janeiro de 2023 às 23:00 | Atualizado há 2 anos

O músico Jeff Beck, lenda da guitarra que fez a cabeça de todo mundo apaixonado por rock, morreu ontem aos 78 anos depois de ter contraído meningite. Cultuado como um dos deuses das cordas elétricas, Beck tocou com os Yardbirds, lendária banda de blues britânico pela qual passaram Jimmy Page e Eric Clapton, além de ter liderado o Jeff Beck Group, numa formação avassaladora: Rod Stewart (vocais), Ron Wood (baixo) e Aynsley Dunbar (bateria). 

A informação foi confirmada ao jornal inglês “The Guardian” pelo representante do músico. Com frequência citado como um dos maiores guitarristas de todos os tempos, Beck – cujos dedos polegares chegaram a ser avaliados por R$ 7 milhões de euros, algo em torno de R$ 39 milhões – passou a ser reverenciado como um grande criador da música no século 20. 

Por exemplo: foi pioneiro no jazz-rock, usou efeitos fuzz, distorceu a guitarra e, a partir disso, assentou caminho para sub-gêneros pesados do rock, como heavy metal ou grunge. Ao longo da carreira, que durou mais de cinco décadas, saiu-se vencedor oito vezes do Grammy, recebeu o Ivor Novello Awards (tradição no Reino Unido, desde 1955, ano de sua criação) e entrou para o Hall da Fama do Rock, seja como membro dos Yardbirds ou solo.

Primeiros passos

Nascido em 1944, na cidade de Wallington, localizada no sul da Inglaterra, Jeff Beck deu os primeiros passos na carreira que o tornaria famoso como músico de estúdio. Até que, em 1965, tudo mudou: assumiu a guitarra do Yardbirds. Com a banda, no ano seguinte, gravou o elepê “The Yardbirds”, considerado uma das obras-primas da discografia de Jeff Beck. Ele rouba a cena na faixa “Hot House of Omagararshid”, a segunda do lado A. 

A música, que tem 2 minutos e 43 segundos, possui solo avassalador assinado pelas notas de Beck. Para o guitarrista Fernando Magalhães, o inglês era o maior “de todos os tempos”. “Que notícia triste”, lamentou Fernando, responsável nos tempos áureos do Barão Vermelho por uma das duplas – ele e Roberto Frejat – capazes de “iluminar uma cidade de um milhão de habitantes”, conforme palavras do jornalista e crítico musical Ezequiel Neves. 

Na infância, Jeff Beck chegou a cantar no coral de uma igreja e começou a tocar violão já adolescente. Seu primeiro instrumento veio após tentar passar a perna numa loja de música. “Tinha um cara que não tinha idade para ser meu pai, mas se ofereceu para ser meu fiador. Ele disse: ‘vou dizer a eles que sou seu padrasto’”, recordou-se o instrumentista à revista “New Statesman”, em 2016. Em um mês, ao saberem que o homem não tinha nada com com Beck, pegaram o violão de volta. “Meu pai concordou e explicou que não podíamos pagar.”

Por pouco tempo, frequentou a escola de artes em Londres. Tocou no Screaming Lord Sutch até Eric Clapton abandonar os Yardbirds e Jimmy Page recomendá-lo como substituto. Apesar de serem conhecidos pela cena londrina, os maiores sucessos do grupo foram durante o curto tempo (20 meses) em que Beck comandou a guitarra da banda. “Todo dia era furação nos Yardbirds”, diria o músico, anos mais tarde, ciente da grandeza do som.

Em 68, lançou seu primeiro álbum solo, “Truth”, baseando-se no blues elétrico britânico e no hard rock. Talvez tenha sido nesse disco que foi germinada a semente do heavy metal. Três anos depois, montou a super banda Jeff Beck Group e, com ela, fez “Beck-Ola”. No entanto, a carreira solo começou a sair dos trilhos após ter ferido a cabeça em acidente de carro. 

“Musicalmente, nós estávamos quebrando todas as regras, isso foi um rock ´n´ roll fantástico e inovador! Ouça a inacreditável faixa ‘Plynth’ em sua homenagem”, disse o guitarrista Ronnie Wood, dos Rolling Stones, lembrando dos tempos de Jeff Beck Group – loucos e intensos tempos, aliás. “Jeff, eu sempre amarei você. Deus abençoe”, emendou o stone, em publicação ontem nas redes sociais, na qual lamentava a morte do amigo. 

Beck recuperou-se da fratura no crânio em 1970. Músico, como se sabe, vive de música. E Jeff Beck tomou uma decisão: reuniu novos músicos no Jeff Beck Group e lançou dois discos, “Rough and Ready” (1971) e “Jeff Beck Group” (1972), este ainda hoje marcante por nele ter se materializado as primeiras incursões do guitarrista pelo jazz-fusion. Era esse tipo de música, nunca é demais dizer, que o fez ser reconhecido nas próximas décadas. 

Jazz-fusion

Sua viagem ao redor do jazz-fusion atingiu o ápice no disco “Blow By Blow”, produzido por George Martin, famoso pelo trabalho realizado com os Beatles. Anos depois, contudo, mostrou-se arrependido. “Não deveria ter feito ‘Blow By Blow’”, declarou Beck ao “Guitar Player”, em 1990. “Quando você está cercado por pessoas muito musicais, como Max Middleton e Clive Chaman, você está em uma prisão e tem que jogar junto com isso.” 

Nas décadas de 80 e 90, reuniu-se com músicos em concerto e lançou discos, mas nada que chegasse perto das obras-primas feitas por Jeff Beck entre os anos 60 e 70. Seu último trabalho foi “18”, que saiu no ano passado. Aos prantos, a guitarra está de luto.

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