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Música que contam histórias: o impacto das trilhas sonoras na cultura brasileira

Explorando a integração da música nas narrativas das trilhas sonoras com Georgia Cynara vocalista da banda Trilhas à Go Go, DJ Glauco Brandão e Kleuber Gârcez

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Desde o início das telenovelas no Brasil, a música não apenas serve como pano de fundo, mas também como um componente narrativo que enriquece a experiência televisiva. As trilhas sonoras desempenham um papel essencial nas novelas brasileiras, ajudando a criar atmosferas, caracterizar personagens e guiar as emoções dos espectadores.

Nos anos 60 e 70, as trilhas sonoras começaram a ganhar destaque com novelas como "Beto Rockfeller" (1968), que introduziu uma abordagem inovadora ao usar canções contemporâneas que dialogavam com a narrativa. Nos anos 80, a trilha sonora de "Roque Santeiro" (1985) se tornou icônica, refletindo o contexto cultural e social da época.

As trilhas sonoras das novelas frequentemente capturam a essência cultural e musical do Brasil em diferentes períodos, apresentando uma diversidade de gêneros musicais, do samba e bossa nova ao rock e pop, ajudando a popularizar artistas e músicas que, de outra forma, poderiam não alcançar uma audiência tão ampla.

Cada novela geralmente lança dois álbuns de trilha sonora: um nacional, com músicas de artistas brasileiros alinhados ao tema da novela, e um internacional, trazendo sucessos de artistas estrangeiros, frequentemente em inglês, para complementar a ambientação.

Muitos compositores renomados contribuíram para as trilhas sonoras de novelas, como Tom Jobim, Chico Buarque e Caetano Veloso. Além disso, artistas emergentes têm a oportunidade de ver suas músicas ganharem visibilidade através das novelas.

Algumas trilhas sonoras de novelas brasileiras alcançaram reconhecimento internacional, especialmente em países onde as novelas brasileiras têm uma audiência cativa, como Portugal, países da América Latina, e até mesmo na Rússia e nos Estados Unidos.

Essas trilhas sonoras frequentemente influenciam significativamente o mercado musical, impulsionando vendas de discos e downloads, servindo como plataforma de lançamento para novos artistas e revitalizando músicos já estabelecidos.

Além de perpetuar a tradição de integrar trilhas sonoras cuidadosamente selecionadas, que vão desde composições originais até sucessos contemporâneos, essas trilhas mostram a relevância contínua da música nas produções televisivas brasileiras.

Sobre este tema, o Diário da Manhã conversou com três especialistas no assunto e no mundo da música. Georgia Cynara, além de seus trabalhos acadêmicos como professora e pesquisadora, é vocalista e fundadora da banda Trilhas à Go Go.


		Música que contam histórias: o impacto das trilhas sonoras na cultura brasileira
Georgia Cynara ,Vítor Brandão e Douglas Sábanda Trilhas à Go Go. - Foto acervo pessoal


Ela tem despertado o público ao oferecer uma imersão no poder das trilhas sonoras das novelas na conexão emocional, compartilhando percepções sobre o papel das trilhas sonoras televisivas na construção narrativa e na conexão emocional com o público.

Georgia começa explicando o papel fundamental das trilhas sonoras nas novelas: "As trilhas sonoras das novelas... são momentos musicais que acabam se conectando irreversivelmente às imagens, ação e assim por diante." Segundo ela, a função principal dessas trilhas é reforçar a narrativa e ajudar na retenção da história na memória do público. "A trilha acaba gerando essa conexão imediata, né? A gente lembra do personagem, de que momento o personagem está passando."

Além de sua função narrativa, as trilhas sonoras também possuem um papel econômico significativo dentro da indústria fonográfica. "Muitas são negociadas dentro da indústria fonográfica... É preciso que o uso seja licenciado para aquela novela, então também é uma questão econômica."

O papel da Trilhas à Go Go na preservação da memória musical

A banda Trilhas à Go Go tem como missão manter viva essa conexão emocional e nostálgica com o público. Georgia explica que a banda realiza um repertório que "leva em conta essa nostalgia" e envolve o público de forma interativa. "Durante o show, a gente conversa com o público... a gente conta de que novela é, de que ano ela é, de que época da teledramaturgia."

Mas o trabalho de Georgia não se limita apenas às novelas; ele se estende também ao cinema brasileiro. A pesquisa é uma parte integral desse processo, com Georgia colaborando com outras pesquisadoras para explorar as trilhas musicais originais dos filmes brasileiros.

A nova fase criativa da banda

Completando um ano de existência, a Trilhas à Go Go está entrando em uma nova fase criativa. "A gente pensa em equilibrar da seguinte maneira. Fazemos a manutenção de um repertório importante que... é a resposta do público, né?" Georgia menciona que a banda está começando a compor e desengavetar músicas, buscando um equilíbrio entre sucessos conhecidos e músicas inéditas.

Georgia nos contou sobre o impacto pessoal de ser vocalista da banda e como isso se interliga com seu papel de educadora e pesquisadora. "Apesar de já ter sido vocalista de uma banda de rock alternativo... eu nunca me considerei uma vocalista de fato." Ela ressalta a importância do estudo contínuo do canto e como isso a ajuda não só nas performances, mas também na sala de aula. "Eles me ajudam a ter uma melhor articulação e uma melhor dicção."

A conexão com o público durante os shows é algo que Georgia valoriza profundamente. "Esse é um feedback que a gente tem tido, né? Dentro da Trilhas à Go Go... uma coisa alimenta a outra."

A banda está aberta a diversas colaborações e busca sempre fortalecer a comunidade artística. Georgia menciona um show especial que a banda está preparando, focado em canções eternizadas em filmes brasileiros. "Nós também queremos atingir um público que gosta de cinema, que aprecia o cinema brasileiro."

Para o futuro, Georgia tem grandes expectativas. "Nós pensamos em começar a viajar mesmo. Fazer com que outras cidades nos conheçam, outros países onde a novela brasileira é um produto muito querido." Ela também espera que as composições da banda possam conquistar o público de maneira tão íntima quanto os sucessos das novelas.

Georgia Cynara e sua banda Trilhas à Go Go terão seu próximo show comemorativo de um ano no Tô Bar Goiânia, rua 20, centro, sábado, 22, às 20h. Seguido pelo lançamento do projeto Trilhas do Cinema Brasileiro no Matuto Bar em 3 de agosto, também às 20h.


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DJ Glauco Brandão. - Foto acervo pessoal


A magia das trilhas sonoras em vinil com DJ Glauco Brandão

Glauco Brandão é um nome destacado na cena musical de Brasília e Goiânia, atuando como DJ há mais de 10 anos. Com um acervo impressionante de mais de seis mil títulos em vinil, Glauco transforma festas e eventos em verdadeiras viagens no tempo, utilizando trilhas sonoras de filmes para criar conexões emocionais profundas com seu público.

Ele também já se apresentou em grandes festivais como Goiânia Noise Festival e PiriBier. Com seu projeto "Bolachão de Terça", ele é DJ residente no Tô Bar e Matuto Bar, onde todas as terças-feiras dedica-se exclusivamente aos discos de vinil.

Em uma entrevista com o Diário da Manhã, Glauco explica que a seleção das músicas para suas performances é um processo cuidadoso e bem pensado, levando em consideração tanto o gosto quanto a expectativa do público. "Muitas das músicas que compõem trilhas sonoras são sucessos conhecidos e bem aceitos em festas e boates", comenta.

Ele destaca a importância de músicas que já têm um apelo popular, como as da trilha sonora do filme *Saturday Night Fever*. "É impossível alguém ficar sentado ao som de *Staying Alive* ou *You Should Be Dancing*."

Demonstrando a memória afetiva do público brasileiro, Glauco nos conta sobre uma das experiências mais marcantes que teve em uma festa com tema flashback, onde tocou um megamix do filme *Grease – Nos Tempos da Brilhantina*. "A reação dos frequentadores ao início da música foi muito intensa e me marcou," relembra.

Outro momento especial foi quando ele tocou um remix do tema de abertura do filme *Harry Potter*. "A reação também foi bem positiva, pois é um filme de grande sucesso."

Equilibrando energia e atmosfera

Segundo Glauco, os filmes oferecem uma vasta gama de estilos musicais, facilitando a introdução de trilhas sonoras nos sets de DJ. "Existem festas temáticas onde as trilhas incidentais também possuem seu lugar. Essas são mais difíceis de encaixar em festas normais, por não possuírem um tema," explica. Mesmo assim, ele consegue equilibrar a energia e a atmosfera das festas com uma seleção musical que ressoa com o público.

Trabalhar com vinil em um ambiente de festa ao vivo apresenta desafios únicos, especialmente em termos de logística. "A maior dificuldade é o espaço, pois são equipamentos grandes e a quantidade de discos físicos é limitada," diz Glauco. "Muitas pessoas pensam que os discos de vinil são como MP3, onde cada faixa é de um artista diferente." Isso limita a capacidade de atender a pedidos específicos, mas também oferece uma experiência mais autêntica e envolvente.

Para Glauco, a música é uma poderosa ferramenta de storytelling. "Todos temos uma história marcada por alguma música. As trilhas sonoras nos remetem a filmes especiais, e quando ouvimos uma determinada música, nossa memória nos leva de volta àquela película." Ele procura selecionar músicas de momentos marcantes dos filmes para tocar em suas festas, proporcionando uma experiência memorável para o público.

As capas dos discos de vinil desempenham um papel importante na criação de uma conexão emocional com o público. "Muitos trazem lembranças de quando eram crianças ou lembranças de familiares queridos. Não é raro pedirem para tirar fotos das capas dos discos para guardarem como lembrança," conta Glauco.

Hits específicos e o fenômeno da nostalgia

Algumas trilhas sonoras se destacam particularmente entre o público, como *Grease*, *Saturday Night Fever*, *O Clube dos Cinco*, *Dirty Dancing* e *Ruas de Fogo*. "Todos esses filmes foram grandes sucessos de bilheteria e são histórias do dia-a-dia que poderiam acontecer com qualquer um de nós. Creio que essas fantasias que vivenciamos e gostaríamos de viver são o que tornam as músicas desses filmes tão especiais."

Glauco não vê o vinil apenas como uma relíquia nostálgica, mas como um meio de oferecer uma qualidade sonora superior e uma experiência tangível em um mundo digitalizado. "A praticidade do CD e do MP3 não possui a qualidade sonora e artística das capas e encartes que os discos de vinil possuem."

Ao planejar seus sets, Glauco sempre tem em mente um tema específico. "Com isso em mente, busco músicas dançantes que despertem a memória afetiva das pessoas, remetendo-as àquela cena do filme que tanto gostam." Ele acredita que a música tem o poder de iluminar caminhos e criar experiências coletivas únicas.


		Música que contam histórias: o impacto das trilhas sonoras na cultura brasileira
Kleuber Gârcez. - Foto acervo pessoal


A perspectiva de Kleuber Garcêz: originalidade na música e além

Na mesma linha técnica e profissional, Kleuber Gârcez, embora ainda não tenha feito um trabalho exclusivo para compor trilhas sonoras para novelas e filmes, se coloca aberto a parcerias: "Deixo meu nome à disposição de grupos de teatro, dança, diretores de cinema e audiovisual que quiserem criar do zero uma trilha sonora original. É um sonho meu." Muitas de suas composições acabaram sendo escolhidas por produtores e roteiristas, inspirando projetos.

Kleuber, em uma conversa sobre seu trabalho com o Diário da Manhã, compartilhou sua carreira diversificada, que abrange diferentes estilos e colaborações, oferecendo uma visão profunda sobre a importância da originalidade na música e o impacto das trilhas sonoras. Ele discutiu suas experiências, desafios e perspectivas na criação musical.

Falando sobre seu trabalho, Kleuber descreve uma trajetória variada: "Eu faço esse trabalho de composição e de músico. Acompanho o Mundhumano, tenho meu trabalho solo como cantor e autor, e também o Baile do Divino, que vai encerrar este ano no Sesc Aldeia." Ele menciona ainda sua parceria com Diego Mascate, com quem mantém um fluxo constante de composição, apesar da banda estar atualmente em stand-by.

Além de sua carreira como músico, Kleuber também é educador. Ele ministra oficinas de composição há algum tempo, focadas na palavra cantada: "É sobre letra de música em cima de música. Bem essa coisa da semiótica, um estudo que auxilia bastante quem está começando a compor para não cometer erros muito primários."

A originalidade na música

Uma das questões centrais discutidas na entrevista foi a originalidade na música. Kleuber enfatiza a importância de se manter autêntico, mesmo diante de um mercado que frequentemente favorece cópias e sucessos instantâneos: "Nos anos 2000, alguns segmentos mais populares da música costumam ter uma centena de cópias. Num determinado momento, aquilo esgota. Só vai ficar aquilo que foi original."

Para Kleuber, a originalidade é fundamental para a longevidade artística: "Dentro de um cenário duradouro para pensar música hoje daqui 10, 20, 50 anos, quem não for original não vai sobreviver e não vai ser lembrado."

Impacto das trilhas sonoras

Kleuber também falou sobre a relevância das trilhas sonoras em sua carreira, tanto como criador quanto como consumidor de música: "A música impacta emocionalmente as pessoas. Aconteceu comigo na primeira infância. Eu lembro de ouvir uma música do Pinduca chamada 'Sinhá Pureza' com 4 anos e dançar muito feliz."

Ele destaca a importância de contribuir com trilhas sonoras para diferentes projetos: "Quando as pessoas me pedem música para trilha de cinema ou vídeo dança, percebo que o que faço já chegou, já cumpriu sua função. Gostaria de ser mais popular para que mais pessoas ouvissem o que faço."

Desafios e satisfação na carreira

Kleuber reflete sobre os desafios de ser um artista independente e a luta por reconhecimento: "Eu sou um artista independente, não tenho compromisso estético de venda. Tenho uma liberdade que só foi possível depois da internet. Isso tem seus entraves, mas propicia que quem quer fazer, se tiver um celular na mão, consegue produzir e colocar nas plataformas."

Ele compartilha os aspectos mais gratificantes de ser músico: "Eu gosto de compor, gravar e tocar ao vivo. A troca com a plateia é o que mais me energiza para continuar. A estrada é longa e cheia de percalços, mas é uma estrada que nos leva ao nada, e esse nada é tudo que precisamos na vida."

Para finalizar, Kleuber menciona seus projetos disponíveis nas plataformas de streaming: "Quem quiser me encontrar no Spotify, estou como Kleuber Garcêz. Meu trabalho com Diego Mascate se chama ‘Pó de Ser’. Nosso último EP se chama ‘DodeCafona’ brincando com o dedocafonismo e o cafona, que são músicas do universo do brega e autorais."

Kleuber Garcêz revelou que deu início a um novo projeto, "Vou gravar um videoclipe de uma canção inédita com participação da cantora Maira Lemos que será lançada no segundo semestre. Sairá o single e o clipe da música simultâneos," que o público poderá ver e ouvir em breve. Lançamento no segundo semestre deste ano.

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