Home / Cultura

Música

Na estrada há seis décadas, The Fevers anunciam turnê

Ao Diário da Manhã, baixista Liebert Ferreira diz que ideia é passar por Goiânia, cidade que sempre acolheu a banda

The Fivers, história da música brasileira The Fivers, história da música brasileira

The Fevers têm dado o céu aos fãs há seis décadas. Pelo que se viu na PUC em outubro de 2023 — última vez em que se apresentaram na Capital goiana —, o público deles é cativo. Centenas de pessoas, ali, reviveram suas vidas. Fevers e a memória restaurada, recriada.

Aos seguidores, eles anunciam nova turnê. Bastante sugestivo, o nome: 60 anos de sucesso. A intenção é rodar o Brasil. Todo mundo cantando, dançando e festejando. Hits, é claro, não faltarão em um show desses cariocas do iê-iê-iê. A jovem guarda, afinal, mexe com a galera.

Arthur Dapieve, em sua historiografia do rock brazuca, insere essa explosão juvenil dos anos 1960 em contexto pós-Celly Campello. Na obra “BRock — O Rock Brasileiro dos Anos 1980”, o pesquisador faz uma espécie de arqueologia sonora para dissertar sobre o movimento oitentista. Ou seja, ainda que por linhas gerais, fala de Fevers e Renato & Seus Blues Caps.

Situa-os numa “constelação de grupelhos, quase todos com nome em inglês”. The Pops, The Clevers (mais tarde Os Incríveis) e The Sputniks eram as outras bandas daquela época. Avançavam em relação à geração de Campello. As músicas já não serviam aos vocais, a guitarra ganhava protagonismo e, principalmente, as letras iam além dos “banhos de lua”.

Baixista do Fevers desde a formação, Liebert Ferreira explica ao Diário da Manhã que sua banda percorreu o circuito de bailes pelo Rio de Janeiro. Para o músico, as coisas foram acontecendo, tudo novo, e ele se deixara seduzir pelos Beatles, Stones e Elvis Presley. “A gente tinha que tocar duas horas. Ninguém tinha pretensão de sucesso”, lembra.

Nos anos 60, Fevers acompanhavam astros da jovem guarda. Apresentaram-se com Roberto Carlos na música “Eu Te Darei o Céu” e “Eu Estou Apaixonado Por Você”. Wanderléa os teve na faixa “Prova de Fogo”, enquanto Erasmo Carlos os chamou para dois discos. Mas não eram só iê-iê-iê. Tocaram, por exemplo, com o rei da pilantragem Wilson Simonal.

São ainda a banda que apoia Jorge Ben no disco “O Bidu”, lançado em 67. Esse trabalho do ex-Sputnik exerceu influência sobre o embrionário tropicalismo. Em certo sentido, o cantor e compositor se aproxima nesse elepê da estética adotada pela jovem guarda, como se ouve no samba-quase-rock “Menina Gata Augusta”, parceria com o tremendão Erasmo Carlos.

O tecladista Claudio Mendes, integrante dos Fevers, nasceu mais ou menos nessa época. Para o músico, a ebulição criativa dos anos 60 se revelou importante para as próximas gerações. “Fevers estavam lá. Sucesso total nas rádios e programas de televisão. Hoje, me orgulha fazer parte dessa trupe e compartilhar momento tão especial”, derrete-se Mendes.

Mesmo assim, a história do Fevers desfrutou lá de sua excentricidade. Se a jovem guarda desmanchava-se, em 68, a banda entrava na fase de maior sucesso fonográfico. Ao seu lado, Caetano Veloso e Gilberto Gil se consagravam, mestres do samba como Paulinho da Viola se reafirmavam no cancioneiro nacional e o soul de Cassiano e Tim Maia explodia nas rádios.

Contudo, 71 foi memorável na história dos Fevers. A banda, septeto formado por Almir Bezerra (voz e guitarra), Cleudir Borges (teclados), Lécio do Nascimento (bateria), Liebert Ferreira (baixo), Luiz Claudio (voz), Miguel Plopschi (saxofone) e Pedro da Luz (guitarra), gravou dois elepês no ano. Um deles, “A Explosão Musical dos Fevers”, tornou-se febre.

Auge

Com 12 faixas, o disco saiu pela gravadora Odeon. Há um brilho pop que reluz em canções como “Vem Me Ajudar”, “Sou Feliz” e “Você Não Viu”. Nelas, a vocação para bailes se materializa diante do ouvinte: arranjos prenunciando rocks-baladas. No entanto, tem uma pitada soul em “Pro Que Der e Vier”, cujo som metálico do sax de Plopschi antecipa a letra.

“Eu queria ter o seu amor/ Não pensei que você me enganava”, lamuria-se o eu lírico, ao que tudo indica corneado, tristíssimo. A música foi escrita pelo soulman baiano Hyldon de Souza, à época no grupo Os Diagonais. Hyldon fabricaria outro sucesso quatro anos depois, dessa vez gravado pelo gogó dele próprio, o hit “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda”.

Ferreira, o baixista e fundador dos Fevers, declara que ter gravado rocks internacionais o ajudou. “Aprendemos muita coisa. Tocávamos Beatles. Se hoje temos esse jeito de tocar, devemos agradecer ao pessoal de fora: Elvis, Beatles, nossa senhora!”, diz, reafirmando o prazer de subir ao palco para tocar, embora esteja na estrada com sua banda há seis décadas.

A banda foi ponta-de-lança no costume de gravar sucessos lá de fora. Muitas vezes, inclusive, as músicas sequer eram vertidas para o português. O crítico Pedro Alexandre Sanches, na ocasião em que Fevers lançaram uma caixa com 14 discos originais (2003), atestou que seus músicos serviam à indústria, barateando o preço de importar sucessos.

Para o guitarrista e cantor César Lemos, reincorporado à banda nos últimos anos, Fevers construíram uma “trajetória admirável, emplacando sucessos que atravessaram décadas”. O saxofonista Miguel Plopschi e o compositor Michael Sullivan, este ligado ao grupo nos anos 80, estiveram por trás de sucessos da década. Popularizaram Gal, Tim e Sandra de Sá.

“Bons tempos”, diz Ferreira, sobre o auge da indústria discográfica no Brasil. “Hoje, esse negócio de disco acabou. A gente trabalhou acompanhando o artista, era emocionante. Foi mudando, infelizmente. Antes, mudava para melhor, com certeza.” Goiânia? “Queremos tocar aí. Já tem tanto tempo que fazemos clubes.” The Fevers têm dado o céu aos fãs há seis décadas.

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias