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Odair José oferece remédio anticaretice com novo single

Pioneiro ao falar do amor plural, sem falsos moralismos, o artista apresenta a segunda canção do álbum Seres Humanos, previsto para lançamento em junho

Odair José, cantor e compositor goiano - Foto: Divulgação Odair José, cantor e compositor goiano - Foto: Divulgação

Odair José, 75, acaba de soltar nas plataformas a música “Desejo”, single do disco “Seres Humanos”, a ser lançado neste mês. Publicado pela gravadora goiana Monstro Discos, a canção versa sobre tema discutido pelo compositor desde os anos 70: liberdade sexual.

Com baixo costurando o compasso executado na bateria, guitarra soprando acordes menores e versos anticaretice reacionária sendo cantados, o músico vocaliza emoções causadas quando se descobre novas formas de amor: “Assim de repente / Eu fui percebendo / Um outro desejo / Me envolvendo / Me seduzindo / Tirando o meu freio / Me conduzindo”.

O arranjo soa simples, mas não perde sofisticação. Ao contrário, a cozinha funciona bem, com a guitarra e seus acordes abrilhantando o som. Junior Freitas e Odair, inclusive, se utilizam em certas ocasiões da IA. “A ideia é trazer em alguns momentos do álbum ‘DNA’ uma parceria com a inteligência artificial, uma ferramenta eficaz, curiosa e divertida, que está presente cada vez mais na rotina do nosso tempo”, pontuou o compositor, em março.

Odair canta ainda que deve ser um absurdo aos olhos moralistas tamanho desvario – ou incidência, para ficarmos numa palavra utilizada pela patrulha da moral e dos bons costumes. “Não é uma coisa fácil, mas se torna necessário para uma liberdade plena. E essa canção foi feita pensando nesse universo plural”, afirma o artista nascido em Morrinhos.

Ligado às questões da vida contemporânea, o artista – na verdade – discute o assunto desde 78. Na ocasião, gravou a música “Forma de Sentir” – em que o eu-lírico fala que “és entendida e vai entender/ Que eu entendo e aceito a tua forma de amor/ Que eu entendo e aceito a tua forma de amor”. “Ame, assuma e consuma”, diz, reverberando a famosa frase “é proibido proibir”, do cantor e compositor baiano Caetano Veloso.

Odair sempre soube o que estava fazendo. Só que a crítica torcia o nariz. Tárik de Souza execrou a guinada estética do morrinhense em “O Filho de José e Maria”, gravado sob direção artística de Durval Ferreira e merecedor do status cult lhe negado, seja pelo requinte instrumental ou pelos versos épicos. Para o decano do jornalismo, Odair pensou que “podia mudar de gênero como quem troca de camisa”, tal qual escreveu no semanário “Opinião”.

Hits

Pode-se dizer que havia ali um preconceito. Odair – até então – era identificado como o “terror das empregadas”, em grande medida por causa dos hits “A Noite Mais Linda do Mundo”, “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar” e “Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula)”. Essas canções narram cotidiano de mulheres nem sempre admiradas pela sociedade patriarcal.

Se Roberto Carlos virou rosto conhecido dentre as classes menos abastadas da população, Odair evitava querer clonar o “rei”. Ou compor músicas para viúvos e viúvas da jovem guarda. Em 1973, o presidente da Phillips no Brasil, André Midani, teve a ideia de realizar um grandioso festival, o Phono 73, com apresentações em duplas ou solitárias.

A mais polêmica delas – não há dúvida – foi o dueto entre o “rei das empregadas” e Caetano Veloso, cérebro por trás do tropicalismo e, àquela altura, com o cultuado “Transa” na bagagem. O tropicalista queria provocar o etilismo estudantil, como se especializou em fazer desde 68. Com Odair reconhecido como brega, pelo sucesso que fazia entre o povão, cantando sem literatices o amor e os desejos sexuais, a empreitada foi – digamos – fácil.

Atualizado às 18h57

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