Cultura

Para eles quadrilha é coisa séria

Diário da Manhã

Publicado em 2 de junho de 2022 às 14:54 | Atualizado há 3 meses


Junho começou e a temporada de quadrilhas também. A alegria, humor, delícias e a música das festas do povo da roça já estão invadindo a capital. E, as quadrilhas, claro, sendo preparadas nas escolas, bairros ou festas temáticas diversas. Para muitas pessoas, a dança não passa de uma divertida brincadeira. Porém, há quem leve essa diversão a sério: os grupos profissionais de quadrilhas existentes em todo estado.

De acordo com dados da Federação das Quadrilhas Juninas do Estado de Goiás (Fequajugo), existem em Goiás 20 grupos de quadrilha federados. Porém, com os não federados o número pode chegar a 40. “O interesse pelas quadrilhas sempre existiu e os grupos tem atraído as novas gerações. As escolas também nos ajudam muito no despertar de novos dançarinos”, disse o presidente da Fequajugo, Alex Gontijo.

Olhando de perto, os grupos de quadrilha profissionais possuem atuação parecida com a das escolas de samba. Todo ano trabalham como um tema diferente e, de acordo com a operadora de call center, Franciane de Lima, que é presidente do grupo goianiense Explosão do Cerrado, organizar todo processo é trabalho para quase o ano todo.

Para colocar em cena o tema “Harmonia Perfeita”, o grupo Explosão do Cerrado, da comunidade do Jardim Guanabara e região, está trabalhando desde março e, quase diariamente. A produção das roupas e ensaios, que acontecem na Escola Municipal Patrícia Rodrigues de Paiva, no Vale dos Sonhos, começaram tardiamente – por causa da pandemia, geralmente começam em novembro – e só não acontecem na segunda-feira.

Para que toda a descontração das quadrilhas aconteça, os “quadrilheiros”, se empenham para, desde resolver as questões burocráticas, como artísticas. Franciane, por exemplo, que entrou no universo das quadrilhas em 2004, quando o grupo ainda se chamava Os Vagabundos, em 2018, quando assumiu a direção do Explosão do Cerrado, cuidou da profissionalização do grupo e ainda não abre mão de também dançar.

Mas, de acordo com ela, todo grupo colabora com uma parte da apresentação. “A criação dos figurinos é feita por um dos nossos integrantes, que passa a ideia para a costureira. Assim também funciona com o cenário, tema, repertório musical, coreografias, é um conjunto de mentes brilhantes, que criam cada pedacinho do espetáculo”, explica.

Temas
A equipe de criação do tema da Explosão do Cerrado, vai trazer ao público uma história com ares de tragédia shakespeariana. Franciane adianta que a quadrilha vai contar a história de amor proibido de um sanfoneiro pobre por uma donzela rica, que se apaixona pelo tradicional baile nordestino Sala de Reboco.

“O pai da donzela não aceitava o relacionamento e fugiu para distante e o pai encontra o casal em ‘Harmonia Perfeita’ e comete uma grande loucura. Para saber o resto tem que assistir nosso espetáculo”, diz a presidente do grupo.

Espaço cultural
Já o grupo Junina Fogo de Palha, de Trindade, vai trabalhar com um tema mais regional e apresentará: “Velha Trindade da Fé e do Amor – Pelos cem anos da cidade em 2020 e pelos 180 de devoção ao Divino Pai Eterno”.
Os temas, de acordo com o administrador, produtor cultural e presidente da Junina Fogo de Palha, Luís Fellype Martins, são contados nas apresentações pelo marcador, que também dão os conhecidos comandos da dança.



Luís Fellype conta que grupo se tornou também Ponto de Cultura que traz cursos e atendimentos a comunidade

“A quadrilha conta ainda com um casal de noivos e o casal real com rei e rainha da quadrilha, que é uma espécie de porta bandeira e mestre sala, que carregam a faixa do grupo”, detalha, ele ressaltando que existem competições em todo Brasil para eleger a rainha junina nacional.

Este universo das quadrilhas entrou na vida de Luís Fellype bem cedo: com apenas 12 anos fundou a Fogo de Palha. “Eu sou diretor artístico, roteirista e danço. Nos federamos em 2019, mas já dançávamos no estado, mas sem competir”, conta.

As performances do grupo, já começaram, e nesta semana já se apresentam, juntamente com outros grupos, no Arraiá de Trindade, que acontece de quarta-feira (2) a sábado (4), no Carreiródromo Municipal.

Como vivem?
Muita gente deve estar se perguntando: mas como os grupos se mantém? E fica claro que a felicidade e amor dos presidentes dos grupos, falam alto para que eles continuem existindo. “Os grupos esbarram sempre nas dificuldades financeiras com os altos custos de produção. Falta apoio do Estado e mais políticas públicas voltadas para as quadrilhas juninas em Goiás”, ressalta o presidente da Fequajugo, Alex Gontijo.

Franciane também reforça que os grupos precisam de mais apoio. Dessa vez, a Explosão do Cerrado contou com recursos da Lei Aldir Blanc. Porém, em outros anos, se virou como pôde. “No geral, tentamos patrocínio de empresas, da comunidade local com rifas e festas. O início do trabalho do ano seguinte se inicia com o dinheiro que angariamos na temporada anterior”, explica.

Já o presidente da Fogo de Palha, que ensaia na quadra da Cepi Menino Jesus, diz que este ano o grupo já gastou cerca de R$ 30 mil com os preparativos e que, às vezes, até bate a vontade de desistir. “O que nos move são os testemunhos de integrantes que largaram as drogas ou crime por causa do grupo”, diz.

Com a vontade de ajudar socialmente a comunidade, a partir do grupo, criou a Associação Sócio Cultural Fogo de Palha, que também recebe recursos de leis de incentivo à cultura, como Ponto de Cultura e, assim, conseguiu ampliar seus serviços à comunidade.

“Oferecemos aulas de arte e atendimentos com psicólogos, por exemplo. Por enquanto cobramos um preço simbólico, mas queremos tornar as atividades gratuitas”, diz Luís Fellype.


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