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Pitty celebra duas décadas de clássico no Centro de Convenções da PUC

Cantora saiu underground baiano no início dos anos 2000 para criar ‘Admirável Chip Novo’, um dos discos mais vigorosos e consistentes da década

Pitty saiu do underground baiano nos anos 2000 para lançar “Admirável Chip Novo”, disco que tem suas duas décadas de existência celebradas pela cantora em show no Centro de Convenções da PUC, neste sábado, 7, a partir das 20h. Será uma homenagem aos riffs encorpados, ao texto sem firulas e à sonoridade consistente da obra.

Mesmo sem se dar conta, Priscilla Novaes Leone deu fôlego ao rock nacional. A música escolhida para divulgar a obra foi “Máscara”, single de alta tensão, com poderoso fraseado na guitarra, baixo desenhando o ambiente musical e bateria ditando o compasso para a cama rítmica que dá segurança a Pitty: “tira a máscara que cobre seu rosto/ se mostre e eu descubro se eu gosto/ do seu verdadeiro jeito de ser”. Poesia crua, inexorável à vida.

A cantora pinça o conceito do disco a partir da sociedade descrita pelo escritor Aldous Huxley em “Admirável Mundo Novo”, considerado um clássico da ficção científica. Pitty se amarrava na obra, sempre curtiu literatura e, durante a composição das músicas para “Admirável Chip Novo”, o romance estava presente no dia a dia dela. Também tinha acabado de assistir ao filme “Clube da Luta”, lançado em 99 sob direção do cineasta David Fincher - discute-se a robotização humana, o que é certo ou errado, regras e dogmas.

Gravado pela Deckdisc, “Admirável Chip Novo” caiu como uma droga viciante na cabeça dos jovens: tornou-se trilha sonora de blogs teens, mostrou que as pessoas ainda queriam ouvir barulho de guitarra e se revoltar contra o capitalismo. É rock ´n roll em estado bruto do começo ao fim. Já abre chutando a barraca, com “Teto de Vidro”, faixa para a qual o guitarrista Peu construiu certeira progressão de power chords, emulando Faith no More.

O recado, logo de cara, é dado: “quem não tem teto de vidro/ que atire a primeira pedra/ quem não tem teto de vidro/ que atire a primeira pedra”. Em 2003, era comum ouvir o público trocar uma palavrinha. Em vez de ‘teto’, cantava-se ‘caco'. Ora, cada um sente a música à sua maneira. Esse aspecto, inclusive, serve para auxiliar no entendimento de que uma letra bem construída se mantém viva na alma do público, seja preservando os vocábulos escolhidos pela autora ou mudando-os ao bel prazer do cantor da ocasião.

Assim que “Admirável Chip Novo” saiu, em 2003, Pitty costumava dizer à imprensa nacional que o som era uma salada. “Tem hardcore, punk e metal”, dizia. Mas um cruzamento musical desses, por si só, já evitava um aspecto que deveria ser proibido - que os empresários fonográficos não me escutem, por favor - num disco: repetir fórmulas fáceis. Tal cuidado permeia todo o processo criativo da obra pittyniana, que se deu em conjunto, como é numa banda de rock - assista “Get back”, doc de Peter Jackson, sobre os Beatles.

Estudante de música na UFBA, Pitty compôs as músicas em formato voz e violão, método usado e abusado desde os anos 60. Depois, com uma ideia desenvolvida na cabeça, entraram em cena Dunga (baixo), Duda Machado (bateria) e o já citado Peu (guitarra e violão). Todos colaboraram nos arranjos e no Rio de Janeiro, onde ocorreu a gravação, os músicos experimentaram ideias, propuseram novidades, mexeram aqui, retocaram ali. Pouco a pouco, o álbum foi lapidado e adquiriu a forma que hoje é conhecidíssima.

Figura essencial

Um nome foi essencial no projeto: Rafael Ramos, ex-Baba Cósmica, que Pitty conhecia desde os tempos em que percorria o underground de Salvador, nos anos 90. “Admirável Chip Novo” reúne cinco boas músicas: “Teto de Vidro”, “Admirável Chip Novo”, “Máscara”, “Equalize” e “Temporal”. Todas têm belas metáforas, como é o caso da terceira faixa, balada harmonizada por acordes menores (ou seja, melódicos) tocados na guitarra. Além de tudo, a letrista nos brinda com figuras de linguagem bem sacadas que comparam sexo com música.

Observem o requinte literário: “me balanço devagar/ como quando você me embala/ o ritmo rola fácil/ parece que foi ensaiado”. Desperta tesão em qualquer um! Mais à frente, no refrão, Pitty escreve versos que grudam nos nossos ouvidos como o chiclete fica preso ao chão assim que o jogamos na calçada: “eu vou equalizar você/ numa frequência que só a gente sabe/ eu te transformei nessa canção/ pra poder te gravar em mim”. A voz poderosa de Pitty, sua poesia libidinosa e o baixo de Liminha, ex-Mutantes, são delicados e sedutores.


		Pitty celebra duas décadas de clássico no Centro de Convenções da PUC
Envelheceu bem: Pitty criou uma obra que chegou aos 20 anos muito bem. Foto: Bruno Fuji / Divulgação

O triunfo de “Admirável Chip Novo”, se pensarmos em arranjos, não está na balada mencionada, e sim em “Temporal”. Na oitava faixa, o violoncelista e arranjador Jaques Morelenbaum empresta seu talento à música, adicionando uma textura nostálgica que faz lembrar o grupo de rock progressivo brasileiro A Barca do Sol, famoso nos anos 70. Talvez por tudo isso, ou não, sabe- lá, o jornalista Marcus Preto tenha listado o disco de estreia de Pitty na 23ª posição dentre os 200 mais relevantes da música brasileira nos anos 2000.

Como o tempo nos indica, Pitty criou uma obra que chegou aos 20 anos muito bem. Ela, que também assina a direção do show, será acompanhada em Goiânia por Martin Mendonça (guitarra), Paulo Kishimoto (baixo) e Jean Dolabella (bateria). Além dos shows, nesse ano de comemorações, foi disponibilizada a remasterização dos videoclipes do primeiro disco e lançado o álbum “Espelhos – Versões Completas de Admirável Vídeo Novo”, que traz as versões completas das músicas do DVD “Admirável Video Novo” (2004). Roberto Frejat certa vez disse: “o disco tem consistência musical”. Não será diferente na turnê ACNXX.

Pitty e Biquini

Sábado, 7, a partir das 20h

Centro de Convenções PUC Goiás

Campus II - Avenida Engler, 507 - Jardim Mariliza

Ingressos a partir de R$100,00 pelo app Alpha Tickets

Dose dupla: Biquini, em seu novo álbum, faz oração em ritmo de rock. Tem a doce e paternal “A Vida”, a alegre e crítica “A Gente É O Que É”, a balada resiliente “Eu Não Vou Recuar” e o pop solar de “Colhendo Flores”. A elas, se juntam a suave canção “A Manhã”, com sua teia de arpejos. Biquini integra movimento BRock.

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