Já são cinco anos no Centro. Antes da Rua 8, onde hoje funciona, a Casa Liberté se instalou até a pandemia num casarão art déco nas proximidades do Colégio Lyceu. Ali se encontravam músicos, poetas, jornalistas e professores para beber uma, seja durante a semana ou nos dias de folga. Perdi as contas das vezes em que saí dali direto ao banheiro, esse grande templo de todos os bêbados do mundo. Sou um desajustado, digamos assim.
Gosto de cair no rock, falar alto coisas cruéis, viver largado no mundo. Digo sem medo de parecer muito exagerado (até que, pensando bem, isso não chega a ser um problema) que a Liberté melhorou demais a vida noturna de Goiânia. Você pode puxar cadeira do bar, pedir um uíscão servido e se deixar embalar pelo espírito ora psicodélico, às vezes pós-punk ou soul music, soul music que sempre é essencial aos nossos ouvidos: que nem passe pela sua cabeça, meu velho, taxar a Capital goiana de paraíso fértil à cacofonia sertaneja.
São dois bares em sintonia na Rua 8. Num lado, encontra-se a Liberté, reduto daqueles que simpatizam com a contracultura. Ao cruzar o asfalto, situa-se o Zé Latinhas, estabelecimento tradicionalíssimo na região desde o século passado. Um pouco mais pra baixo, separado por uma viela, está o Cine Ritz, único cinema de rua goianiense que ainda não virou igreja neopentecostal ou cinema pornô, como tantos outros que, em outrora, estimularam sonhos.
Se acima da Anhanguera o que se vê é um breu a céu aberto, sobretudo quando o relógio dá boas-vindas ao horário da mentira, o compasso etílico da Liberté e Zé Latinhas deixa tudo mais animado na Rua 8. Esse espaço, aliás, é autoproclamado a zona mais boêmia da metrópole. Tal denominação injeta boas doses de alto-astral no coração de Gyn, que está prestes a virar uma jovem nonagenária. Uma cidade se faz pelas pessoas que nela trafegam.
Claro que também se faz pelos seus bares. Heitor, cabeça por trás da Liberté, entende a relevância da casa à democratização do Centro. “Cumprimos um papel que deveria ser do Estado, a liberdade toma conta da vida noturna do Centro, com atrações que vão do rap ao post punk, sempre aberto e gratuito ao público”, me conta o idealizador do espaço. “Cinco anos de história marcada por um fechamento na pandemia e agora uma consolidação como um dos principais pontos de encontro da cidade, segue sendo uma fagulha de resistência.”
As celebrações se iniciam hoje e vão até domingo, 15. Quem abre a festa é Iara Kevene Fummas, que promete trazer à Rua 8 um som funkeado, com funk e balanço. Já na quinta, a trilha sonora fica sob responsabilidade dos DJs Bruno Caveira e Yasmim Lauck. São sets conhecidos na noite goianiense e assinalam novidades brasileiras. Sexta-feira é dia de curtir MPB e latinidade com DJ Mastrella, enquanto sabadão vai ser de rap, com DJ Beetle do Câmbio Negro, RCD de Brasília e Arthur, do CL, a Posse. O aniversário da Liberté se encerra domingo com Heróis de Botequim.
Tanto a Liberté quanto o Zé Latinhas honram, na verdade, uma velha tradição goianiense: de bares, se você nunca percebeu, a gente saca. Nos anos 70, 80 e 90, por exemplo, Goiânia era uma cidade na qual havia cultura de bar, responsável por projetar no cenário musical brasileiro nomes importantes. E artistas de renome no território brasileiro e latino-americano passaram pelos estabelecimentos da Praça Tamandaré, dentre os quais Beth Carvalho, Ney Matogrosso e Mercedes Sosa. A Rua 8 já recebeu, em 2021, discotecagem do rapper BNegão.
Viva o Centro
Próximo da Rua 8, numa das principais e mais charmosas avenidas de Goiânia, a Avenida Goiás será fechada neste sábado, 14, para virar palco de extensa programação cultural, que se estende das 9 às 18 horas. As atrações do projeto Viva o Centro incluem encontro de brechós, shows, oficinas de dança, brinquedos populares, discotecagem, campeonato de skate, palestras e até passeios na Carreta Maçã do Amor. O que não vai faltar é opção.
A avenida ficará fechada no trecho da Praça Cívica até a Anhanguera e seu canteiro central receberá uma série de atrações culturais ao longo de todo o dia. A programação faz parte da edição especial de aniversário de Goiânia do projeto Viva o Centro, idealizado pela vereadora Kátia (PT) e aprovado por unanimidade na Câmara Municipal.
Considerada patrimônio nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2004, a Goiás (como a avenida é chamada carinhosamente pelos goianienses) fez parte do plano original de Goiânia, do arquiteto Attilio Corrêa Lima, e se mostra importante via que liga Centro aos bairros da região Norte. Abriga também importantes monumentos da cidade. Hoje, passa por obras para servir como via do BRT.
Programação:
VIVA O CENTRO - ANIVERSÁRIO DE GOIÂNIA
AVENIDA GOIÁS
Encontro de Brechós - 10h às 18h
Selvática Discotecagem - 10h às 18h
Show Dona da Roda - 11h
Cortejo Coró de Pau - 15h
Skate - 14h às 18h
Prainha do Cerrado - Espaço de Atividade Infantil 9h às 18h
Palhaçaria e oficina de Brinquedos Populares com Bulacha - 9h às 12h
Oficina de Dança com professora Célia Maria - 16h
Educação Ambiental - Projeto Abrace o Meia Ponte - 9h às 18h
Carreta Maçã do Amor - 8h30 e 10h Av. Goiás esquina com Praça Cívica
OUTROS LOCAIS
Praça Cívica - Oficina de pintura pra criança e adulto - 9h às 13h
Mercado Central - Fiandeiras - 8h às 12h
Rua 08 entre a Av. Anhanguera e Rua 04 - Forró Quentim às 20h; Dj Rosa e Dj Gabi Mattos
Beco da Codorna - Clube do Samba 17h
Mercado da 74 - Samba de Boteco - 16h
Tô Bar - Banda Trilhas A Gogo - 19h
Praça Universitária - Duelo Nacional de MC's - 15h