Cultura

Ruy Castro reúne vozes de metrópole em saborosa antologia

Marcus Vinícius Beck

Publicado em 11 de dezembro de 2021 às 20:35 | Atualizado há 4 meses


História do Rio – Copacabana à noite década de 20 | Praia à noite, Rio,  Fotos do rio
Praia de Copacabana, à noite, durante a década de 1920 – Foto: Reprodução

Para organizar “As Vozes da Metrópole”, Ruy Castro, pesquisador fundamental sobre a cultura brasileira no século 20, foi atrás das primeiras e raras edições dos jornais que circulavam na época e encontrou ali o que de melhor era feito – quando, além de João do Rio, Lima Barreto, Agrippino Grieco, Murilo Mendes, entre outros, faziam as prensas trabalharem a todo vapor para imprimir as ideias que tinham pressa em sair de suas cabeças e ganharem a liberdade da publicação nas páginas de algumas das infinidades de jornais, revistas e livros que circulavam na cidade. 

Organizado nas seções “frases”, “crônica e reportagem”, “poesia”, “ficção” e “provocações” – onde Ruy delicia o leitor com textos introdutórios saborosos e notas biográficas –, “As Vozes da Metrópole” mostra que a palavra escrita tem força capaz de mover uma sociedade rumo à civilização e à modernidade, o que no Brasil da bíblia e da farda parece ser uma utopia do tipo um passo nosso, quatro dela. Não é um mero saudosismo meu, e sim uma justiça: que venham evoluções tecnológicas – já teve antes rádio e TV -, a palavra jamais sairá de moda. Taí Ruy Castro para não me deixar mentir.  

As Vozes da Metrópole 

Organizador: Ruy Castro 

Editora: Companhia das Letras 

Gênero: Antologia 

Preço: R$ 79,90 



As vozes da metrópole: Uma antologia do Rio dos anos 20 | Amazon.com.br



João do Rio flana pela alma encantadora das ruas, Agrippino Grieco atesta que o homem das letras é, queira-o ou não, o comediante das suas próprias desgraças, Murilo Mendes declama que os filósofos de sua terra são polacos vendendo a prestações, Lima Barreto diz que, numa confeitaria, certa vez, ao amigo Castro, contava as partidas que havia pregado às convicções e às respeitabilidades para poder viver. Essas são as vozes do Rio de Janeiro reunidas pelo jornalista Ruy Castro na obra “As Vozes da Metrópole – Uma Antologia do Rio dos Anos 20”, recém lançada pela Companhia das Letras.   

O Rio nos anos 20 era moderno antes da Semana de Arte Moderna de 22. Nas ruas, circulando de mãos em mãos, nunca menos do que 20 jornais diários e mais um bocado de revistas semanais – só as quase pornográficas “galantes”, diz Ruy, eram pelo menos cinco. Tinham também periódicos direcionados às colônias, como a portuguesa e alemã, até publicações sindicais, a exemplo das que informavam trabalhadores metalúrgicos e barbeiros. Nesse tempo, as empresas jornalísticas não pagavam impostos, o papel era mais em conta e era fácil fazer um jornal ou revista.  

Única cidade brasileira com mais de um milhão de habitantes, que exibia prédios altos em sua paisagem urbana, bondes de um lado para o outro nas avenidas, mulheres de saias curtas, carros e gente por todo lado, não havia nenhuma província naquele Brasil que há pouco tempo desvencilhava-se da realeza portuguesa vivendo numa velocidade como essa. E a gangorra social girava em torno da palavra escrita. “O Rio era a meca, a moenda, o bruaá. A cidade nacional – e internacional”, afirma o pesquisador, em “Mesma Época, Mesma Cidade”, texto que apresenta a obra. 

Rede Globo > bis! – Bis!: Conheça a trajetória do dramaturgo Nelson  Rodrigues”><figcaption>Nelson Rodrigues: Carnaval de 1919 foi aquele em que os costumes e pudores se tornaram obsoleto – Foto: Reprodução</figcaption></figure><p></p><p></p><p>Ruy
reconstrói o cenário excitante do Rio dos anos 20 ao resgatar reportagens,
poemas, contos e tiradas peçonhentas escritas por gente como Orestes Barbosa,
Oswald Beresford, Théo-Filho e mais 24 personalidades do texto. Entre o
Carnaval de 1919, que Nelson Rodrigues disse ser aquele em que costumes e
pudores se tornaram obsoletos, até a queda da Política Café com Leite, findada
com a Revolução de 1930, tudo rolou no Rio: transformação na música, nas artes
visuais, na arquitetura, nas ideias, nos costumes e, como não poderia deixar de
ser, no jornalismo e literatura.  </p><p></p><p></p><p>É interessante
olhar para a ebulição que ocorria na época com a lupa da história. Graças a “As
Vozes da Metrópole”, o leitor consegue voltar ao período e entender como
poetas, escritores e jornalistas protagonizaram essas transformações. A partir
de gêneros literários distintos e desafiando qualquer tipo de classificação
estilística, esses personagens registraram coisas como as ruas honestas, ruas
ambíguas, ruas sinistras, ruas nobres, trágicas, depravadas, puras, sem
história, como fez João do Rio.  </p><p></p><p></p><p>Ninguém, inclusive, brilhou mais que João. O jornalista-cronista captou os sentimentos da belle époque do Rio, conhecia na intimidade como funcionavam os meandros das ruas e das pessoas que nelas habitavam. Jornalismo na veia, escritor por ofício.  </p><p></p><p></p><p>Ele estava com 39 anos, flor da idade. Saindo de seu jornal “A Pátria”, no largo da Carioca, entrou num táxi, partiu para Ipanema, onde morava. No caminho, João sentiu-se mal, pediu para o chofer lhe providenciar uma água. Ao voltar, o repórter-escritor já estava sem vida: a alma encantadora das ruas, o jornalista que tão bem reportou os costumes desse Rio moderno do início dos anos 20, o cronista que fumou ópio e fez antes dos americanos o que se chama de Jornalismo Literário sofrera um derrame. </p><p></p><p><br>
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História do Rio – Copacabana à noite década de 20 | Praia à noite, Rio,  Fotos do rio
Praia de Copacabana, à noite, durante a década de 1920 – Foto: Reprodução

Para organizar “As Vozes da Metrópole”, Ruy Castro, pesquisador fundamental sobre a cultura brasileira no século 20, foi atrás das primeiras e raras edições dos jornais que circulavam na época e encontrou ali o que de melhor era feito – quando, além de João do Rio, Lima Barreto, Agrippino Grieco, Murilo Mendes, entre outros, faziam as prensas trabalharem a todo vapor para imprimir as ideias que tinham pressa em sair de suas cabeças e ganharem a liberdade da publicação nas páginas de algumas das infinidades de jornais, revistas e livros que circulavam na cidade. 

Organizado nas seções “frases”, “crônica e reportagem”, “poesia”, “ficção” e “provocações” – onde Ruy delicia o leitor com textos introdutórios saborosos e notas biográficas –, “As Vozes da Metrópole” mostra que a palavra escrita tem força capaz de mover uma sociedade rumo à civilização e à modernidade, o que no Brasil da bíblia e da farda parece ser uma utopia do tipo um passo nosso, quatro dela. Não é um mero saudosismo meu, e sim uma justiça: que venham evoluções tecnológicas – já teve antes rádio e TV -, a palavra jamais sairá de moda. Taí Ruy Castro para não me deixar mentir.  

As Vozes da Metrópole 

Organizador: Ruy Castro 

Editora: Companhia das Letras 

Gênero: Antologia 

Preço: R$ 79,90 



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