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Sandra Sá leva baile black rio para interior goiano

Artista apresenta em Britânia balanço funky que se tornou marca de sua discografia. Artista carioca abre Festa do Peão

Cantora deu show na Cidade de Goiás durante último Fica, em junho - Foto: Yan Rissatti/ Secult Cantora deu show na Cidade de Goiás durante último Fica, em junho - Foto: Yan Rissatti/ Secult

Pela terceira vez neste ano, a cantora Sandra Sá, 69, vem a Goiás para comandar baile black rio. Dessa vez, a carioca estacionará excursão da música em Britânia, a 326 km de Goiânia.

A cidade do oeste goiano recebe nesta quarta, 4, apresentação funky da cantora conhecida pelo vozeirão grave e suingue brasileiro. Erra, contudo, quem insiste em aprisioná-la à soul music, embora seja associada assim em nossa memória afetiva. Seu som abriga bons tons.

Sandra ressoa consciência sociopolítica. Sapateia com funk, molejo sacolejante e irresoluto, guitarra charmosa, suingada, chiquérrima, acordes nem exagerados nem comuns. Baixo grooveando no ritmo do compasso, beleza pura. Bateria baqueteando ritmo funcional.

Unindo-se a excelentes instrumentistas, a cantora tirou música brasileira para dançar no molejo black com a canção “Demônio Colorido”. Mostrou-a no festival MPB-80. Vixe, que sucesso! Foi contratada, então, pela gravadora RGE e, por lá, lançara três álbuns de música preta brasileira, caso de “Demônio Colorido”, 80, “Sandra Sá”, 82, e “Vale Tudo”, 83.

Poucas cantoras femininas — e negras — se aventuravam na estrada longe dos caminhos sambísticos. Sandra se fortalecia cada vez mais no imaginário popular brazuca como rainha inconteste do soul e funk nacionais. Era título verdadeiro, justíssimo, uma vez que a artista frequentara bailes do movimento black rio quando jovem, em meados dos anos 70.

Escrito por Macau (vítima de discriminação racial em lugar de burguês bacana), o funk “Olhos Coloridos” descortina cantora com autoridade para vocalizar versos de orgulho negro. Com linha tocada no baixo, essa sinuosa e inigualável linha de baixo, tornou-se hino antirracista — do tipo que enaltece roupas, cabelos, peles e sorrisos afro-brasileiros.

Essa música, atemporal, põe Sandra dentre principais nomes de nossa música. Arranjador de primeira, Lincoln Olivetti desfila pelos teclados. Já Robson Jorge, guitarra, traz cor, enquanto Peninha, acima da média, percussiona canção. Serginho do Trombone e o baterista Mamão pulsam a partir do baixo de Fábio “Bandido”, como Sandra o apelidara no estúdio.


		Sandra Sá leva baile black rio para interior goiano
Artista criou música com suingue funky e letras engajadas. Foto: Yan Rissatti/ Secult


Na crista da onda, a artista espalhava País afora “uma onda negra de amor”. Trancou-se no estúdio para produzir “Vale Tudo”, publicado em 83. Como não existia internet, recebeu fita K7. Havia canção, ali, que se transformaria em hit: “Vale Tudo”. Mas seria possível Tim Maia, já entendido rei do soul, mandar algo para que essa jovem artista funky fosse gravar?

Seria, óbvio. Deu-lhe single certeiro, que será cantado na posteridade pelos nossos filhos e netos, que será registro fonográfico com alta relevância histórica, que será documento de um momento da sociedade brasileira. No livro “Vale Tudo - O som e A Fúria de Tim Maia”, o crítico Nelson Motta escreveu que Tim estava à vontade no estúdio diante de sua pupila.

Quando começou aquela levada irresistível entrelaçada aos ataques perpetrados pela seção de metais, Sandra se desmanchou em lágrimas. Foda-se se tom era agudo demais para seu contralto! Foda-se também se música tinha sido, num primeiríssimo momento, pensada para o tenor de Tim! Ele, Sebastião Rodrigues Maia, seria mais foda do que James Brown?

“Muito mais, bicho! Brown é do caralho, mas o suingue do Tim é outra parada. Quando falo de Música Preta Brasileira, falo de suingue. Gringos são duros, pô! Gringos não sabem jogar nas ancas”, sapecou, numa conversa com a reportagem durante Tim Music, em junho.

Hit

A partir de 86, pela RCA, apresentou-se ótima vendedora de discos. Dois anos depois, publicou o elepê “Sandra de Sá”, focado em repertório de baladas assinadas pelos hitmakers a serviço da companhia discográfica, conforme o crítico musical Mauro Ferreira. Fez até dueto com o norte-americano Billy Paul, em faixa escrita pela dupla Sullivan & Massadas.

Ainda viria, no entanto, o hit mais famoso: “Bye Bye Tristeza”, de Carlos Colla. É presença obrigatória nos shows da artista até hoje. Há que se ressaltar, óbvio, um aspecto desse trabalho: nem só romantismo se ouve nele. A cantora, levando certos rótulos ao chão, gravou “Tempo”, rock da lavra criada pela dupla titânica Arnaldo Antunes e Paulo Miklos.

Sob produção de Nelson Motta, lançou o esperto “Sandra!”, em 90. Só que o repertório, alto nível, não pegou — com a obra ainda hoje pouco escutada pelo público. Pensativa sobre a carreira, a artista se voltou para o romantismo no álbum sucessor, “Lucky!”, de 91. Nesta obra, tornou a dividir o microfone com Tim Maia, mas também se uniu ao canto de Lobão.


		Sandra Sá leva baile black rio para interior goiano
Artista se notabilizou nos últimos tempos como grande voz da música brasileira. Foto: Yan Rissatti/ Secult


Foi, digamos, decepcionante. Claro, não pelas experiências artísticas — e sim em termos de vendas. Na sequência, a cantora reeditou hits dos anos 80 e gravou inéditas no CD “A Lua Sabe Quem Eu Sou”, de 96, que trouxera Sandra às rádios de volta. Desde então, fez “Eu Sempre Fui Sincero, Você Sabe Muito Bem”, 98, e “Momentos que Marcam Demais”, 2000.

Adaptou ao português hits da Motown, gravadora em que surgiram The Temptations e Stevie Wonder. “Pare, Olhe, Escute – Sandra Sá Traduz os Sucessos da Motown”, de 2002, sintonizou-a mais uma vez com a black music. Em 2004, repassou jornada no “Música Preta Ao Vivo” e, seis anos depois, publicou “AfricaNatividade - Cheiro de Brasil”, até que, na última década, fez “De ‘Sá’ a ‘De Sá - Os Primeiros Anos”.

Além de Sandra Sá, a Festa do Peão de Britânia reúne ainda hoje nomes como Nila Branco, Valéria e/ou Monik e Demik. Amanhã, as atrações são Renato Teixeira, Felipe e Rodrigo, tal como o DJ Guilherme Amorelli. Cleber e Cauã, Pedro Borges e DJ Lipe Trancoso tocam na sexta, 6. O último dia, sábado, registra shows de Sérgio Reis, Mr. Gyn e DJ Breno Paixão.

29ª FESTA DO PEÃO

Hoje a sábado, 7

Parque de Exposições

Britânica, a 325 km de Gyn

1 kg de alimento não perecível

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