“O mundo é um palco.” Esta frase presente no pôster de “Coringa: Delírio a Dois”, o principal lançamento desta quinta, 3, nos cinemas, reflete tanto a grandiosidade quanto a veia mais teatral da sequência do sucesso de bilheteria de 2019 dirigido por Todd Phillips. Contando com a adição de Lady Gaga no elenco como a icônica Arlequina, “Delírio a Dois” não só terá um orçamento de mais de US$200 milhões ao seu dispor, como também irá interpretar a continuação da história de Arthur Fleck de uma maneira inusitada e pouco vista no gênero de super-heróis: através de um musical.
A trama, ambientada dois anos após os eventos de “Coringa”, acompanha a estadia de Arthur Fleck/Coringa (Joaquin Phoenix) como paciente no Hospital Estadual Arkham em Gotham City, enquanto aguarda o julgamento pelos assassinatos de Murray Franklin (Robert De Niro) e de três homens de negócios, retratados no primeiro filme. Em Arkham, Arthur se apaixona por Lee (Lady Gaga), com quem realiza sessões de terapia musical. Juntos, os dois compartilham uma série de delírios musicais que se conectam de forma intrínseca aos eventos da vida real, refletindo no fortalecimento do movimento social iniciado por Fleck.
“Coringa: Delírio a Dois” teve sua estreia mundial no Festival de Veneza, onde competiu pelo Leão de Ouro, prêmio que o filme original venceu em 2019. Assim como seu antecessor, a sequência dividiu a crítica e o público presentes em Veneza, que apreciaram a estética visual e as performances de Phoenix e Gaga, mas avaliaram o roteiro e suas temáticas de maneira mista. A reação inicial até teve um impacto na previsão de bilheteria para a continuação, que poderá arrecadar uma abertura de US$70 milhões em seu final de semana de estreia, contra o recorde de US$96 milhões arrecadados por “Coringa” no mesmo período.
Expectativa
“Coringa” foi notável por reinterpretar a história de origem do clássico arqui-inimigo do Batman sob um viés sociopolítico, destacando a ambiguidade nas ações de Arthur Fleck e permitindo que o espectador demonstrasse uma curiosa empatia por ele, em face às crueldades enfrentadas ao longo da trama. O filme, além de arrecadar mais de US$1 bilhão nas bilheterias com um orçamento de US$60 milhões, foi laureado com diversos prêmios, incluindo dois Oscars, um deles sendo pela atuação de Joaquin Phoenix como Fleck. Originalmente, o longa não teria continuação, mas devido ao sucesso financeiro estrondoso, não demorou para que o diretor Todd Phillips e Phoenix elaborassem planos para uma sequência.
“Delírio a Dois” só foi oficialmente anunciado em 2022, mas as discussões sobre as temáticas centrais da sequência já começaram nas filmagens do longa original. Em entrevista para a Variety, Phillips revelou querer explorar as mudanças no conceito de entretenimento, que evoluiu de seus cenários-base, como o cinema e a televisão, e encontrou um lar inesperado nos noticiários. O diretor se inspirou no julgamento entre Johnny Depp e Amber Heard e nos debates presidenciais de Donald Trump, que foram vistos pela mídia como entretenimento, para trabalhar essas ideias dentro da trama, através do movimento revolucionário iniciado pelo protagonista no final do primeiro filme.
Porém, o diferencial da continuação reside no seu uso de sequências musicais, que não são realizadas de modo tradicional, através de cenas altamente estilizadas e coreografadas, como por exemplo, em “La La Land”. Aqui, as letras das canções cantadas por Phoenix e Gaga estão presentes, em sua maioria, nos diálogos, em momentos onde Arthur e Lee não se encontram capazes de expressar suas emoções através da fala. E embora ambos os atores tenham tido experiências musicais no passado, o diretor não exigiu que eles cantassem de maneira profissional, para manter um tom mais realista, instável e cru nas performances, de acordo com a Variety.
Para preparar os fãs para o filme e para a sua interpretação da icônica personagem Arlequina, Lady Gaga lançou um álbum no dia 27 de setembro, intitulado “Harlequin”, composto por 13 canções. 11 delas são covers de composições tradicionais ou feitas especificamente para musicais, como “Cantando na Chuva”, “Charity, Meu Amor” e “A Roda da Fortuna”, levemente modificadas para encaixarem no tom mais sombrio de “Coringa: Delírio a Dois”. As duas restantes, “Folie à Deux” e “Happy Mistake”, são originais da cantora, remetendo ao seu aclamado trabalho voltado para o jazz em colaboração com o falecido Tony Bennett nos álbuns “Cheek to Cheek” e “Love for Sale”.
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