Cultura

Shiva se consolidou como ponto obrigatório da cena alternativa de Goiânia

Marcus Vinícius Beck

Publicado em 26 de fevereiro de 2022 às 20:34 | Atualizado há 4 meses

Me
perco pela alma encantadora dos bares. Ou melhor, para não cometer o erro de
evitar usar a primeira pessoal do plural, nos perdemos assim que o sol de
rachar do verão abre alas para o paraíso noturno. À noite, ressoando entre
mesas profecias bêbadas, somos homens derramados. Corto pequenas rodelas de
laranja, coloco-as na taça, destampo o gargalho da garrafa de gin, click, click
na latinha, uma dose e meia de destilado, vai aí um gin tônica? Relaxa porque
hoje é sexta, e de carnaval!

Antros
em que praticamos o etilismo – sim, sejamos francos –, os bares nunca escapam
da fúria da gente que defende a moral e os bons costumes. A bebida, dizem, é
ordinária, transforma os homens, fazem deles seres fora de controle, ao que
digo, tendo em vista o noticiário das últimas semanas: não, não corre-se risco
de defender absurdos bêbado. No entanto, jornalista com queda à porra-louquice,
sempre associei a birita com a turma que criou o jornal-debochado O Pasquim nos
anos 1960. De Jaguar a Tarso de Castro, ninguém ali escapava do uiscão nosso de
cada dia. Sábios eram eles.

Era um sabadão, céu estrelado, estávamos no Shiva Alt-Bar, localizado na Alameda das Rosas, Setor Oeste, um dos mais queridos do público que faz parte da cena alternativa de Goiânia. Tirei o smarphone do bolso. Horas? São nove e qualquer coisa da noite. Eu e meu bom camarada, o jornalista e ilustrador Carlos Durruti, pedimos um gin tônica. Resta-nos esperar e ir morrendo pela nicotina enquanto fumamos um cigarro atrás do outro. No som, a trilha sonora me avisa que rola algo como Aretha Franklin.

Pode ser uma imagem de 4 pessoas, pessoas tocando instrumentos musicais, pessoas em pé, violão e área interna
Selma Jô, vocalista da banda Carne Doce, em apresentação no Shiva – Foto: Facebook/ Reprodução

Drinque
à mesa, gracías, muchas gracías, atrevi-me a agradecer ao garçom numa espécie
embebedada de portunhol selvagem. Bebericando o primeiro trago, passei os olhos
pelo ambiente e me encantei com os murais que decoram o espaço, como aqueles em
que os traços psicodélicos – à moda lisergica do quadrinista norte-americano
Robert Crumb – feitos pelo aclamado grupo de artistas visuais Bicicleta Sem Freios.

Inaugurado em 2015, o Shiva surgiu de uma ideia que tiveram Thiago Faria e Ana Laura para completar suas áreas de atuação. Ele é publicitário; ela, advoga. Mas não queriam nada que fosse limitado ao universo das bebidas e petiscos, ainda que mandem bem nessa arte, e sim que proporcionasse uma experiência diferente, meio imersiva numa redoma que envolve música, arte urbana, espaço intimista, aconchegante, onde já se apresentaram a banda goiana Carne Doce e no início do mês Bruno Caveira – cem por cento vinil – com músicas reconfortantes aos tímpanos.

Experiência no ramo? Não tinham. Eram, contudo, conhecedores de botecos, bares e festivais de música.  O Setor Oeste, bairro cujo estilo de vida é mais alto, ajudou na empreitada: ali, diferente de regiões mais centrais da capital, os vizinhos não se sentem tão importunados pelo furdunço que vem do estabelecimento noite adentro, ajudando o calendário de shows a fomentar a cena cultural por meio de apresentações de nomes carimbados no underground, como as bandas The Galo Power ou Vida Seca.

Pode ser uma imagem de 1 pessoa
Um dos DJs mais conhecidos de Goiânia, Bruno Caveira bota som no Shiva neste feriado de carnaval – Foto: Facebook/ Reprodução

De
quinta a domingo, a programação cultural do espaço conta com discotecagens e
shows, o que é a principal característica do Shiva e também o que fez com que o
lugar entrasse no radar da agenda cultural de Goiânia. Por lá, já passaram
iniciativas com temáticas em sintonia ao mundo contemporâneo, desde
empoderamento da mulher até pautas a respeito de abandono dos animais, além de
exposições, intervenções artísticas, performances, flash day de tatuadores da
capital – e de fora daqui também.

Nos últimos anos, o Shiva passou por reformas que ampliaram banheiros, cozinha, cobertura externa e, como um todo, serviram para aprimorar o bar. Se antes aconteciam problemas no atendimento, foram solucionados – pelo menos em parte. Requisitado boteco para curtir a noite a dois, sozinho ou com amigos, talvez você tenha algum problema – se chegar em cima da hora – para conseguir uma mesa bem localizada. Acredite, leitor não-fumante, isso faz total diferença. Com a companheira (o), por conta do clima ideal à troca de olhares e beijos, vale a pena sentar lá dentro.

Para os dias de folia, caso você ainda não tenha nada em mente, a casa oferece uma alternativa de rolê. Nesta sexta-feira, 25, até terça, 1°, rola a festa Carnavinil com DJs aclamados na cidade, como Caveira e Pafa. É uma possibilidade para ouvir boa música de forma segura em meio às restrições impostas pela pandemia de coronavírus, com bons pratos, carta de bebida que contempla todos os gostos e trilha sonora analógica.

Pode ser uma imagem de 1 pessoa e comida
Para casar com carta de bebidas, espaço oferece ampla possibilidades gastronômicas – Foto: Facebook/ Reprodução

Que
bom! A história de uma cidade não se limita apenas aos gabinetes nos quais são
tomadas decisões por quem desconhece a realidade da vida urbana. Seu charme é
moldado também pelos bares em que se pode ir de chinelo, bermuda, acompanhado
ou não, atrás descanso para os ouvidos e de uma cervejinha para molhar o
paladar, onde é serviço uma excelente baixa gastronomia, para utilizar-se de
uma expressão cunhada pela escritora Heloísa Seixas: precisamos ocupar Goiânia
porque dos bares que morrem vão surgir agências bancárias, academias ou
farmácias.  

Shiva Alt-Bar

Horário: 02h30

Endereço: esquina com a – Rua R Dezoito,
Alameda das Rosas, 1371 – St. Oeste

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