Talvez os Rolling Stones nunca acabem. Sorte nossa. Andam dizendo na Argentina que Jagger, Richards e Wood – acompanhados por Steve Jordan, bateria, e Darryl Jones, contrabaixo – irão se apresentar na América do Sul entre fevereiro e março de 2025.
Costumam mandar ver um rockão desvairado sempre que passam pelo país portenho. Basta olharmos para o público dos anos 90: 300 mil pessoas, em 95; 295 mil, em 98. Daí não nos parece mero acaso serem “adotados” pelos argentinos. Buenos Aires, afinal, os adora.
Tal paixão tórrida levou o lendário grupo britânico a publicar um registro ao vivo da turnê “Bridges to Babylon”. Foi um show dado em 98, mas áudio precisou ser restaurado. A performance, realizada no River Plate Stadium, na capital portenha, contou com a presença de Bob Dylan. Juntos, interpretaram o hit “Like a Rolling Stone”, canção de Dylan.
Conforme reportagens publicadas na imprensa argentina durante a última semana, os Stones tocariam no estádio do River Plate. Jogando em casa, seria regresso dos roqueiros ao país vizinho após oito anos. Além de Buenos Aires, especula-se que a banda aproveitaria para se apresentar em São Paulo e Rio de Janeiro, bem como Santiago, capital do Chile.
Oitentões (menos o guitarrista Ron Wood, o “caçula” de 77 anos), os Stones continuam na estrada. Desde abril, percorrem os Estados Unidos e Canadá. A jornalista Lindsay Zoladz os assistiu em New Jersey, em maio, e se escandalizou: “durante um show de 19 músicas no MetLife Stadium, a banda nadou no que parece ser um poço sem fundo de energia rocker”.
Quem garante a turnê pela América Latina é o produtor Daniel Grinbank. À frente dos trâmites, ele afirma que as negociações estariam avançadas para fechar as datas nas quatro cidades latino-americanas. Como os fãs estão ansiosos pela excursão de Jagger, Richards e Wood, a ideia é que os concertos sejam divulgados oficialmente entre agosto e setembro.
A mil por hora, os Stones lançaram no ano passado o disco “Hackney Diamonds”, saudado neste jornal como um dos maiores – ou maior – disco produzido em 2023. Não havia nenhuma música mais ou menos no repertório inédito, nem pode-se dizer ruim, porque nada que esses senhores fazem passa perto de ideia similar à baixa qualidade.
Espero que a gente consiga ressuscitar isso em sua glória em algum momento Keith Richards, guitarrista
Há, inclusive, uma obra-prima. “Sweet Sounds of Heaven” tem um dos melhores inícios da discografia stoniana: piano arpejado com uma ou duas blue notes é costurado pela guitarra de Keith. Entra, então, Mick. Mais à frente, percebe-se o timbre de um teclado Fender Rhodes. Lady Gaga responde ao cantor. Soulman, Stevie Wonder parece estar numa igreja.
É rock cru, em estado bruto, pulsante. Músicos talentosos comandando a festa. Nem é preciso pensar demais, só tocar – e esses caras se dedicam a fazer isso desde quando Jagger e Richards se encontraram na estação ferroviária de Dartford, a 25 km de Londres
Hit sacado
Transgressores e subversivos, Stones abriram mão, todavia, de uma música matadora. “Brown Sugar” foi sacada dos shows. É uma letra, digamos, pesada. Fala sobre sexo, drogas, escravidão. Costurada pelo pulso rítmico de Richards, Jagger interpreta um cara adepto da junkeria selvagem e da cunilíngua inter-racial, o que, aliás, o safadão faz com uma escrava.
Desde que fora lançado, em 69, a música nunca deixou o repertório da banda. Conforme dados do portal “Setlist.fm.”, “Brown Sugar” foi tocada pelos Stones 1.136 vezes. Só perde para “Jumpin' Jack Flash”, performada mais de 1.200 vezes ao vivo. Ao desembarcar em Los Angeles no ano passado para um show, Jagger contemporizou: “Às vezes você pensa, 'Vamos tirar essa canção agora e ver como vai.' Podemos trazê-la de volta”.
Já Richards não foi tão diplomático quanto o velho camarada de banda. "Estou tentando entender com qual é o problema. Não entendem que a música é sobre os horrores da escravidão?”, questionou ao jornal “Los Angeles Times”, ao descer do aeroporto, na cidade dos anjos. “No momento, não quero entrar em conflito com toda essa merda. Espero que a gente consiga ressuscitar isso em sua glória em algum momento.”