Cultura

Tragédia dos Andes

Diário da Manhã

Publicado em 28 de dezembro de 2015 às 22:02 | Atualizado há 9 anos

Cordilheira dos Andes, um local inóspito que atinge temperaturas baixíssimas. Nesse cenário, há 43 anos um avião que transportava 45 pessoas caiu em uma região remota da Argentina, próximo da fronteira com o Chile. A saga dos sobreviventes durou 72 dias. Nesse período muitos morreram devido às dificuldades de sobrevivência e falta de alimentação. Os 16 sobreviventes finais tiveram até mesmo que ingerir carne humana dos passageiros mortos. As buscas foram encerradas, o que fez com que os sobreviventes se organizassem para resistir a toda a complexidade da situação.

A ideia de alimentar-se dos mortos partiu do estudante de medicina Roberto Canessa, que na época tinha apenas 19 anos. Foi ele também que em companhia de Fernando Parado, andou por 10 dias até encontrar um homem do campo que avisou dos sobreviventes para a justiça. Graças a esse feito os 16 passageiros conseguiram voltar para casa, quando os familiares não tinham mais esperança de revê-los. Canessa também fazia parte do time de rugby presente no vôo. Ele chegou a defender a seleção uruguaia até 1979. Ele concluiu seus estudos em medicina e hoje é um cardiologista respeitado, que da palestras motivacionais pelo mundo todo.

Três países ajudaram nas buscas do avião, que durou apenas oito dias. A cor branca da aeronave fez com que ela se misturasse com a neve, o que tornava praticamente impossível vê-la do céu. Os sobreviventes tomaram conhecimento do fim das buscas através de um radiotransmissor encontrado no avião. No momento em que ouviram que as buscas terminaram, muitos entraram em desespero, com exceção de Gustavo Nicolich, que viu no fim das buscas a necessidade de organização e cooperação de todos. Ele consolou os outros e disse: “vamos sair daqui por conta própria”.

Mortes

Após a queda do avião, no Voo Força Aérea Uruguaia 571, o número inicial de sobreviventes era 33. Alguns muito feridos não resistiram mais de 24 horas ao frio e a falta de socorro da Cordilheira dos Andes. Oito dessas pessoas morreram depois de um deslizamento de neve que varreu o abrigo no dia 29 de outubro, 17 dias após a queda do avião. No fim de outubro o número de sobreviventes era de 19. Numa Turcatti, último passageiro a morrer, resistiu por 60 dias. Do dia 11 de dezembro até o dia do último resgate em 23 de dezembro, não houve mais mortes. Todos os 16 sobreviventes precisaram aderir a práticas canibais para sobreviver.

O desespero por comida foi descrito por Fernando Parrado em seu livro Miracle in the Andes: 72 Days on the Mountain, de 2006. “Em altitudes elevadas, as necessidades calóricas do organismo são astronômicas. Estávamos morrendo de fome sem nenhuma esperança de encontrar comida, mas a nossa fome logo se tornou tão voraz que procuramos qualquer maneira … uma e outra vez que percorri a fuselagem em busca de migalhas e bocados. Tentamos comer tiras de couro rasgado de peças de bagagem, embora soubéssemos que os produtos químicos com que tinham sido tratados nos fariam mais mal do que bem”.

Ele disse ainda que qualquer fonte orgânica de alimentação já havia se esgotado. “Rasgamos almofadas de assento na esperança de encontrar palha, mas encontramos apenas espuma do estofamento não comestível… Uma e outra vez cheguei à mesma conclusão: a menos que comesse as roupas que trazia vestidas, não havia nada além de alumínio, plástico, gelo e rocha”. Todos os passageiros do voo eram católicos, o que fez com que alguns relutassem a comer a carne dos outros, conservada pela neve, tendo em vista que eram colegas ou até mesmo familiares.

Muitos jovens jogadores de rugby morreram no acidente. As mães desses jovens uniram-se em busca de uma forma de lidar com a dor da perda e criaram uma biblioteca em memória e homenagem aos filhos. O site da biblioteca traz os lemas de sua fundação. Um deles diz: “Para manter viva a memória daqueles que não retornaram do acidente em 13 de outubro de 1972, na Cordilheira dos Andes, as mães fundaram esta biblioteca. Cada aluno, cada leitor é bem-vindo aqui, em nome dos nossos filhos”. Outra frase das mães, retirada do site, traz a seguinte mensagem: “A dor da perda dos nossos filhos e sua enorme generosidade levou a transformá-los em um motor para construir realidades positivas”.

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