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Zizi Possi revisita luxuosa discografia em show no Rio Vermelho

Conhecida pela técnica vocal apurada, cantora se apresenta nesta terça-feira, 26, na Capital goiana com turnê ‘Grandes Sucessos’

Artista construiu vasta e aclamada discografia desde que debutou em 1978 - Foto: Facebook/ Zizi Possi Artista construiu vasta e aclamada discografia desde que debutou em 1978 - Foto: Facebook/ Zizi Possi

Linda e livre, Zizi Possi se estrebucha na dor-de-cotovelo com sua voz metálica. “E agora chora tua doença/ E corta os pulsos, cai de bruço, lambe o chão/ Que o ciúme não compensa/ Estrebucha, baby/ Me dá prazer te ver assim”, esgoela-se, no blues “Estrebucha Baby”.

É como flauta-doce, técnica precisa, cristalina. A vida corre: Zizi, essa cantora de emissão precisa, faz show hoje às oito da noite no Rio Vermelho. Seus “Grandes Sucessos” são revisitados em espetáculo no qual se acentua aquele timbre inconfundível, aquela afinação inteligível, aquela interpretação ziziana. Ah, murmuremos, se do desejo fosse o amor.

Zizi foi reconhecida cantora digna de ingressar à primeira divisão das vozes femininas brasileiras apenas nos anos 1990. Antes disso, todavia, colocara nas lojas série de elepês — “Flor do Mal” (1978), “Pedaço de Mim” (1979), “Zizi Possi” (1980), “Um Minuto Além” (1981), “Asa Morena” (1982), “Pra Sempre e Mais um Dia” (1983) e “Dê um Rolê” (1984).

Quem sintonizasse a rádio numa estação FM qualquer em 1987 iria escutar Zizi, querendo ou não. “Noite”, parceria do tecladista Nico Rezende com o poeta Jorge Salomão, estourou do Sudeste ao Centro-Oeste. Era canção escolhida para trabalhar “Amor & Música”, nono álbum da cantora que nasceu no dia 28 de março de 1956, no Brás, em São Paulo.


		Zizi Possi revisita luxuosa discografia em show no Rio Vermelho
Zizi Possi: cantor e compositora canta coisas relevantes. Foto: Zizi Possi/ Facebook

Voz foda sobre todas as coisas relevantes, a artista virou o jogo no fim dos anos 1980. Depurou certa estética minimalista. Canto-e-piano bastou para realçar beleza melódica da paralâmica “Meu Erro”, arranjo aplaudido por Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone.

Se “Estrebucha Baby” transformou esse pop-rock dançante em balada que salienta discurso poético dos Paralamas, o disco também representa início da independência artística de Zizi. Por ser o último de seu primeiro contrato com a Philips, a artista resolve dar um chega pra lá em certos ditames da indústria fonográfica. Sabemos que a cantora jamais deixa ouvinte.

Deu um cavalo de pau na vida pessoal. Ao retornar para São Paulo, rompeu com a gravadora e buscou outros caminhos musicais, no que, aliás, se mostrou bastante assertiva. Criou um show acústico pautado por minimalismos e silêncios, feito com os instrumentistas Marcos Suzano (percussão), Lui Coimbra (violão e charango) e Jether Garotti Jr. (piano).

Batizado “Sobre Todas as Coisas”, o espetáculo caiu na estrada. De início, imperava colosso da timidez, porém virou cult assim que as temporadas se sucediam nas casas Brasil afora e a crítica acolhia o projeto, bem como o público. Acabou perpetuado em disco. Para Zizi, o trabalho se destinava “a todas as pessoas que se realizam e encontram a paz na verdade”.

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O álbum saiu pela gravadora independente Eldorado. Dessa vez, Zizi chegava a um outro escalão na música brasileira. Um escalão em que o nível estilístico se revelava altíssimo. O próximo disco, “Valsa Brasileira” (1993), traria releituras para canções de Edu Lobo e Chico Buarque. Conforme o crítico Mauro Ferreira, na obra “Cantadas – A Sedução da Voz Feminina em 25 Anos de Jornalismo Cultural”, a artista ouvia mais uma vez o coração.

Como não aceitava repetir fórmulas, Zizi se voltou ao pretérito. Deu voz para música de Gilberto Gil, caso de “Meditação”. Por vezes, a artista escavou ainda o pretérito mais que perfeito do nosso cancioneiro: Tom Jobim, autor de “Modinha”, e Pixinguinha, dono de “Lamentos”, estão no repertório. “Valsa Brasileira” figura dentre melhores discos de 1993.

Angústia

Uma questão, contudo, angustiava Zizi: “O sinônimo de sucesso para mim sempre foi o de obter um resultado positivo como decorrência de algum bom trabalho.” Assim, com pés no chão do bom-senso criativo, a cantora concebeu o inesquecível “Mais Simples” (1996), que iniciava relendo “Melodia Sentimental”, faixa de Heitor Villa-Lobos e Dora Vasconcelos.

Embora tivesse indiscutível valor estético-sonoro, o disco parece ter sido compreendido só pela crítica. Desde que o sucesso passou a ser percebido como sinônimo de fama e grana, Zizi se pegou notando que a importância do artista era cada vez mais relativa. A cantora olhava para dentro de si. Analisou, então, suas raízes familiares: neta e bisneta de italianos.


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Zizi Possi: "Eram bons tempos em que se ouvia um disco inteiro com prazer". Marcus Vinícius Beck

Vai ao estúdio com proposta de gravar disco na língua de Dante Alighieri (“Per Amore”, de 1997). Diante do êxito comercial, a continuação se fazia tentadora. Zizi lançou “Passione”. Juntos, afirma, venderam nada menos do que 1 milhão de cópias. Já o seguinte, “Puro Prazer” (1999), feito só com voz e piano, concorreu a três categorias no Grammy Latino.

Nos anos 2000, a artista se desencantou com indústria fonográfica. “Tenho saudade de entrar naquela loja onde o mocinho de crachá se aproximava para ajudar, e quando eu perguntava sobre um determinado artista, ele sabia tudo o que havia sido gravado nos últimos anos”, relata. Zizi atendeu pedido da gravadora Universal Music, com álbum “Bossa” (2002)

“Eram bons tempos em que se ouvia um disco inteiro com prazer e sede de estar perto da criação e do artista”, diz Zizi, cujo último disco editado foi “Tudo se Transformou” (2013). Para o show no Rio Vermelho, os ingressos são vendidos pelo sympla.com a R$ 47,00.

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